Nonato Guedes
Depois de abrir mão, em 2018, do protagonismo no cenário de poder na Paraíba, o PSDB passa por um visível processo de enfraquecimento, que ficou refletido na derrota do senador Cássio Cunha Lima em sua tentativa de reeleger-se naquele ano. Posteriormente, nas eleições municipais de 2020, o PSDB deixou de lançar candidato à prefeitura de Campina Grande, vindo a reboque do PSD, comandado por Romero Rodrigues, que logrou eleger Bruno Cunha Lima em primeiro turno. Em João Pessoa, os tucanos chegaram perto do segundo turno, com o desempenho surpreendente do deputado federal Ruy Carneiro – que, no entanto, acabou no terceiro lugar.
A impressão que o PSDB passa é de estado de prostração diante de revezes enfrentados. Lá atrás, em 2014, Cássio havia sido derrotado ao governo do Estado em segundo turno por Ricardo Coutinho, do PSB. Sustentou, o tempo todo, questionamento sobre a legitimidade do resultado das urnas e somente quando Ricardo cumpriu mandato de quatro anos foi feita Justiça com o reconhecimento, por instâncias judiciais superiores, de distorção na contagem final de votos. Uma sentença tardia, que despertou em Cássio reações de desencanto com a atividade política, misturados ao sentimento de revolta que passou a externar desde que foi proclamado derrotado no embate contra Ricardo. O álibi acolhido pelas instâncias judiciais versou sobre uso da máquina administrativa para favorecer o gestor na campanha pela reeleição, com flagrante desigualdade ou desvantagem para concorrentes desprovidos de instrumentos de poder.
Aproveitando a hesitação de Cássio quanto a novas incursões no jogo, tatuada na divisa “há vida fora da política” e reforçada pela sua declaração de que não se vê pleiteando mandatos eletivos no próximo ano, o ex-prefeito Romero Rodrigues procurou avançar na ocupação de espaços, mesmo despojado do controle da prefeitura da segunda maior cidade do Estado. O estímulo para candidatar-se ao governo ganhou força com o canal aberto por Romero com o presidente Jair Bolsonaro – de quem foi colega de legislatura na Câmara Federal, fortalecendo-se a expectativa de uma dobradinha com o mandatário que teria tudo para ser imbatível, pelo menos na avaliação de alguns dos que integram o entorno de Rodrigues. Nesse ínterim, deu-se a citação de Romero no âmbito da Operação Calvário, que até então vinha mirando o ex-governador Ricardo Coutinho. Rodrigues está sendo obrigado a reunir provas de inocência e, por via de consequência, deu pit stop na articulação para a candidatura a governador.
Circunstancialmente, no bloco político campinense que gravita na órbita do PSDB e do PSD, agregando expressões de famílias afins, surgiu a perspectiva de uma candidatura do deputado federal Pedro Cunha Lima à sucessão de João Azevêdo. Filho do ex-senador Cássio Cunha Lima e atualmente exercendo a presidência do diretório estadual tucano, Pedro tem uma atuação proativa na Câmara em temas como a bandeira da Educação e vota de maneira independente em relação a matérias originárias do Executivo, fazendo valer a sua consciência, no que é compartilhado pelo deputado Ruy Carneiro. Isto implica dizer que tanto podem ser favoráveis a projetos do governo como votarem contrariamente, de acordo com as respectivas convicções firmadas. O problema de Pedro é que, apesar de exprimir renovação aparente no quadro político paraibano, não empolga parcelas influentes da opinião pública. Seu cacife é considerado baixo para uma disputa a governador do Estado.
Com a dificuldade de encaixe vivenciada pelo bloco PSDB-PSD, em meio a tantos fatores teoricamente adversos, reponta como alternativa no tabuleiro o nome do ex-governador e ex-senador Cássio Cunha Lima, encarado com suposta densidade para dar combate ao governador João Azevêdo, que buscará a reeleição ancorado numa frente ampla de partidos e lideranças políticas, num arco ideológico que vai da esquerda ao centro e à direita. Cássio começa a ser citado por políticos tucanos em entrevistas ou em conversas informais que têm como pano de fundo a estratégia para derrotar o esquema de João Azevêdo em 2022. Cunha Lima passa a ser tratado, mesmo, como “a esperança” para infligir uma reviravolta, podendo se fazer símbolo de agrupamentos isolados que não parecem ter maior peso ou substância na correlação de forças para o próximo ano. É o que se comenta, abertamente, em meios políticos respeitáveis.
Cássio Cunha Lima, pelo menos até onde a vista alcança, não incentiva enfaticamente tais movimentos que giram em torno do seu nome e da sua liderança, inclusive com apelos para reconsideração de razões derrotistas que estariam sendo somatizadas em cima de resultados desfavoráveis de contendas recentes da conjuntura política-eleitoral paraibana. Dentro do PSDB há o receio de que, sem uma candidatura competitiva ao governo, o carisma da sigla vá para o vinagre e se abra espaço para uma derrocada que pode não ter retorno nas hostes locais, até porque, a nível nacional, o PSDB passa por crises e enfrentamento entre facções. Ainda vai levar um tempo para Cássio se decidir. Mas, mesmo não querendo encargos, dificilmente ele conseguirá fugir do peso de decisões que serão cruciais para o destino de um esquema que ajudou a construir após migrar do antigo PMDB.