O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI da Covid que está instalada no Senado Federal, admitiu, ontem, que um eventual pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro será consequência do relatório final da comissão, que investiga ações e omissões do governo federal em meio à pandemia. A declaração ocorreu durante participação no programa “Roda Viva”, da TV Cultura. “Um eventual impeachment é uma consequência do relatório final. Temos que reunir os elementos para isso. A CPI até aqui já produziu resultados sanitários. Veja que até a família do Zé Gotinha já voltou para a televisão, apresentado pelo Ministério da Saúde. O presidente da República, num rápido surto, em alguns momentos, chegou a utilizar máscara”, disse Randolfe, em tom de ironia.
Ele completou, em seguida, que o curso das investigações é que vai apontar as necessidades das medidas sanitárias de contenção da pandemia e também da resposta a uma pergunta; ‘quem são os responsáveis pelo agravamento da pandemia no pís?’. Instalada no dia 27 de abril, o que significou uma derrota política para o presidente Jair Bolsonaro, a CPI da Covid completa um mês de funcionamento com polêmicas, brigas e depoimentos considerados essenciais pelos senadores, como a participação do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Agora, a cúpula da comissão no Senado pretende iniciar uma segunda fase dos trabalhos com o objetivo de materializar provas – apontou reportagem do jornal “Folha de S. Paulo”. Há também uma tentativa de provar a existência de um gabinete paralelo ao Ministério da Saúde na área de ações de combate à pandemia que não são recomendadas pela ciência.
Questionado sobre a investigação de Estados e municípios, como insistem Bolsonaro e aliados, com o objetivo de tirar o foco da investigação sobre o governo federal, Randolfe disse não ter dúvidas de que houve roubalheira em vários Estados, mas ressaltou que se trata de uma “manobra dispersiva” do presidente. “Não tenho dúvidas de que em vários Estados teve roubalheira, inclusive alguns processos nesse sentido estão em curso. Um governador de Estado, o do Rio de Janeiro, foi afastado, outro está em processo de impeachment, o de Santa Catarina. O do Amazonas também deve receber processo no Superior Tribunal de Justiça. Aliás, essa celeridade do procurador-geral da República em relação aos governadores, gostaria também que houvesse em relação ao governo federal e ao presidente da República. Se tivesse tido, nem precisaria ter criado CPI”, alfinetou o senador, referindo-se ao procurador-geral da República, Augusto Aras. “Mas, se for possível convocar governadores, será possível a convocação do presidente da República”, concluiu.
Crítico à atuação do presidente em meio à crise sanitária, Randolfe Rodrigues afirmou ainda que o presidente “aprofunda o caos” e “conspira todos os dias” para que o brasileiro perca a esperança em relação à democracia. “A célebre obra Os Engenheiros do Caos encaixa como uma luva ao perfil de atuação do senhor Jair Bolsonaro. Ele quer se perpetuar no poder e fazer sequência aos seus interesses e ele só conseguirá se derrubar todo o establishment democrático, todas as conquistas democráticas que temos”, completou. Por sua vez, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que há provas para indiciamento de agentes do governo Bolsonaro pelo genocídio que já matou mais de 460 mil brasileiros na pandemia. “Já temos provas suficientes de que o Brasil não quis comprar vacina. Isso não tem mais o que provar. Tenha a certeza de que a CPI não vai dar em pizza”, afirmou ao jornal “O Estado de S. Paulo”.