Nonato Guedes
O ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), a preço de hoje, está inelegível para concorrer a qualquer cargo eletivo em 2022. Além de investigado no âmbito da Operação Calvário, onde processos o envolvem com acusações sobre desvio de recursos públicos da Saúde e da Educação, o ex-governador tem pendências relacionadas com a disputa eleitoral de 2014, em que foi proclamado vitorioso na campanha pela reeleição ao Executivo – veredicto que, ultimamente, de forma tardia, foi objeto de reexame em Cortes Superiores em Brasília. Nas eleições municipais para prefeito de João Pessoa, no ano passado, Coutinho conseguiu salvo-conduto para se candidatar a um posto que já havia exercido e obteve um pífio resultado nas urnas, como reflexo do desgaste da sua biografia e das suas ações de governo.
Com todo esse turbilhão de acontecimentos e grave contencioso para dirimir ou equacionar, Coutinho não se faz de rogado e já se movimenta para tentar voltar à cena nas eleições do próximo ano, indicando uma possível candidatura ao Senado a pretexto de recuperar a representatividade política da Paraíba no Congresso, que, segundo ele, seria muito baixa na atual conjuntura. Os comentários foram feitos em entrevistas a emissoras de rádio do interior do Estado, com repercussão óbvia na Capital. A situação política de Ricardo é tanto mais complicada porque o partido que ele abraçou, o PSB, está em processo de esfacelamento, com debandada geral de políticos com e sem mandato e sem perspectiva de reorganização a ponto de dispor de estrutura competitiva para o pleito vindouro. Justamente por isso tem sido cogitado um possível retorno de Coutinho ao PT, onde, supostamente, teria as bênçãos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em 2020, surpreendendo a todos, apoiou a candidatura de Ricardo em João Pessoa contra o candidato do PT, deputado Anísio Maia.
Desconfia-se, nos meios políticos, que está em curso uma estratégia maquiavélica de Ricardo para “embolar” o meio de campo na disputa pela única vaga ao Senado nas eleições de outubro de 2022. Essa vaga pertencia ao senador José Maranhão (MDB), que faleceu vítima de complicações da Covid-19, e foi sucedido pela suplente Nilda Gondim, mãe do senador Veneziano Vital do Rêgo. Nilda já deixou claro que não tem ambições de concorrer a mandatos e está apenas concluindo o período iniciado por Maranhão a partir de 2015. Até agora, o pré-candidato em campanha antecipada mais ostensiva à vaga de senador na Paraíba é o deputado federal Efraim Filho, do Democratas, que já conta com o apoio de Veneziano, de deputados federais, estaduais, prefeitos e líderes municipalistas, estando no aguardo de manifestação por parte do governador João Azevêdo (Cidadania), de cuja base faz parte.
Além do deputado Efraim Filho, o deputado Wellington Roberto (PL) tem dito que um filho seu prepara-se para entrar no páreo e o deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP), irmão da senadora Daniella Ribeiro, já foi lançado ao Senado pelo próprio governador João Azevêdo como uma das opções do quadro político paraibano. Faltava uma manifestação por parte de agrupamentos de esquerda ou de oposição ao governo Azevêdo, a exemplo do bloco liderado por Luciano Cartaxo (PV) e dos blocos liderados pelo ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD) e pelo ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB), quanto a cogitações senatoriais. Luciano e Romero continuam focados na perspectiva do governo do Estado e Cássio é uma incógnita, embora já tenha dito que há vida fora da política e que não pretende concorrer a nenhum mandato. Pela esquerda, Ricardo Coutinho é a novidade, embora não seja unanimidade.
O interesse demonstrado pelo ex-governador em se candidatar a uma vaga de senador é surpreendente. Ricardo, que além de governador e prefeito da Capital foi vereador em João Pessoa e deputado estadual, nunca demonstrou pretensões sobre ocupar mandatos em Brasília, como os de deputado federal ou senador, embora, teoricamente, tivesse amplo respaldo para tanto, em conjunturas análogas. No pleito de 2018, havia, mesmo, a expectativa de que ele fosse um dos candidatos ao Senado, mas Coutinho refugou pressões nesse sentido, partidas de aliados políticos, e anunciou que permaneceria no Palácio até o último dia do mandato para derrotar adversários e eleger seu candidato “in pectoris” à própria sucessão – João Azevêdo, com quem está rompido. A este repórter, quando governador, Ricardo garantiu que não lhe atraía a possibilidade de vir a ser senador, e chegou a insinuar que o Senado era um ambiente de “velhos”. A julgar pelo que tem dito agora, deve considerar que já está nessa faixa etária privilegiada – a da chamada melhor idade…
Na prática, o que Ricardo parece querer sinalizar é que, se não for ele o candidato à vaga de senador, atuará para apoiar um nome que tenha condições de derrotar adversários políticos seus. Isto é bem do seu estilo de operar politicamente. Em 2018, empenhado obsessivamente em derrotar o ex-aliado Cássio Cunha Lima ao Senado, incentivou a candidatura de Veneziano Vital do Rêgo, filiando-o ao PSB, e persuadiu o então deputado federal Luiz Couto (PT) a preencher a outra vaga na disputa. Veneziano foi eleito e acabou deixando o PSB. Couto não vitoriou, mas teve votação surpreendente, superior à do próprio Cássio Cunha Lima, que postulava a reeleição e tinha tido atuação proativa no Congresso. Derrotar Cássio virou questão de honra para Ricardo, tal como eleger João Azevêdo era prioridade, mesmo que o ex-governador ficasse no sereno, como continua até hoje, e, inclusive, vulnerável face a pendências policiais e judiciais. Agora, Ricardo mira na derrota de Efraim Filho, do DEM, com o qual se aliou em jornadas passadas. Será, possivelmente, a última cartada de Ricardo na cena política paraibana.