Nonato Guedes
Acossado por senadores que fazem oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, assegurou, em novo depoimento, hoje, à CPI da Covid, que tem autonomia à frente da Pasta, citando como exemplos várias medidas administrativas que tomou e que foram acatadas pelo mandatário. Face à insistência de parlamentares em tentar desqualificar a assertiva, ele foi enfático: “Na hora em que eu não tiver autonomia no ministério, irei ao presidente agradecer a confiança que em mim depositou e voltarei para a Paraíba”, salientou o ministro, que é cardiologista e natural deste Estado. Queiroga foi contestado, sobretudo, por senadores como Renan Calheiros (MDB-AL), que é relator da Comissão Parlamentar de Inquérito instalada no Congresso.
O ministro, além de responder a questões polêmicas como a sua posição sobre a realização da Copa América no Brasil em plena pandemia, tratou de temas gerais ligados à campanha de vacinação deflagrada no país e a problemas que estão ocorrendo na estratégia de enfrentamento ao novo coronavírus. Ele advertiu que há conflitos de entendimento sobre medidas restritivas, de isolamento social, por parte de esferas de governo, e mencionou que no seu próprio Estado natal o governador e o prefeito de João Pessoa editaram decretos distintos sobre funcionamento de atividades, tendo sido judicializada a questão de competência. Fustigado pela oposição para que atacasse o governo Bolsonaro, o ministro Marcelo Queiroga evitou criticar Bolsonaro pelo descumprimento de protocolos básicos como o não uso de máscaras e promoção de aglomerações. “Sou Ministro da Saúde, não censor do presidente”, justificou.
O depoente relatou, no entanto, que buscou orientar o chefe do Executivo federal a respeito da importância das chamadas “medidas não farmacológicas” no tratamento precoce da Covid-19. O governante, mesmo assim, optou por contrariar as recomendações, de acordo com a versão apresentada por Queiroga. “As recomendações sanitárias estão postas. Cabe a todos aderir a essas recomendações”, esquivou-se o ministro. E adiantou: “Não me compete julgar os atos do Presidente da República. Já falei com ele, é um ato individual”. O relator da CPI, Renan Calheiros, exibiu vídeo de um passeio de moto feito pelo presidente Bolsonaro ao ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, no Rio de Janeiro, no último dia 23. Ambos circularam sem máscaras, fizeram discursos para apoiadores do alto de um carro de som e provocaram aglomerações.
“As imagens falam por si só, eu estou aqui como ministro da Saúde para ajudar o meu país e não vou fazer juízo de valor sobre o presidente”, reiterou Marcelo Queiroga. O depoimento do ministro da Saúde foi antecipado para hoje devido ao interesse que senadores críticos ao governo federal têm em ouvi-lo antes da iminente realização da Copa América. Por outro lado, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), pediu a Bolsonaro que ele “deixe diferenças de lado” em função da série de atos de violência que ocorreram nos últimos dias em Manaus, base eleitoral do parlamentar. A declaração ocorreu pouco antes do início do depoimento de Queiroga, na abertura da audiência. Aziz ter sido “cobrado” publicamente por Bolsonaro em meio à repercussão dos ataques na capital amazonense. Em resposta, o congressista declarou que seria “importante” superar as divergências políticas em prol de um planejamento eficaz na área de segurança pública.
– Ou fazemos um programa nacional de segurança pública ou vamos padecer para facções criminosas. Eu não falo da capital, Manaus, não, falo do Estado inteiro, do interior do Brasil, onde a droga comanda – expressou o senador Omar Aziz. E completou: “Faço esse apelo ao presidente da República, ele se elegeu com essa pauta (da segurança), independente de termos divergências, é importante a gente se unir, governadores, prefeitos, presidente, Congresso Nacional, para que a gente não permita que facções controlem o Estado e deixem a população à mercê do terrorismo que hoje acontece em Manaus. O senador ressaltou que o Brasil “não tem nenhuma proteção nas fronteiras”. Conforme Aziz, é por ali que entram as drogas e armas pesadas no país. “Além de cuidar da pandemia, temos que cuidar das pessoas de bem que querem sair para trabalhar e são aterrorizadas”.