Nonato Guedes
O ministro da Saúde, o cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, volta hoje à Comissão Parlamentar de Inquérito instalada no Senado para apurar omissões do poder público em relação ao combate à Covid-19. No segundo depoimento no colegiado, o ministro será questionado pelos senadores sobre a decisão do governo federal de aceitar sediar a Copa América, em meio a suspeitas de uma iminente terceira onda da pandemia no país, como tem sido advertido por especialistas médicos e autoridades. A CPI deverá tratar, também, do suposto gabinete de aconselhamento paralelo, cujas investigações ganharam novos indícios relevantes no final da semana. Sobre a Copa América, Bolsonaro tentou, nas últimas horas, negar qualquer ingerência do governo nas decisões já sacramentadas.
A semana é considerada polêmica e agitada no âmbito da CPI em Brasília, tendo como outro assunto latente as falas da médica infectologista Luana Araújo à Comissão na última semana e que continuam ecoando em redes sociais e órgãos de imprensa, inclusive, no exterior. Luana chegou a ser indicada por Marcelo Queiroga para assumir a secretaria extraordinária de combate à doença no Ministério da Saúde, mas permaneceu no cargo por menos de quinze dias. Saiu de lá atirando, queixando-se que pareceres baseados na ciência não prevalecem na tomada de decisões envolvendo a estratégia de enfrentamento à pandemia de coronavírus. Os acontecimentos envolvendo a doutora Luana levaram alguns senadores a avaliar que o ministro Marcelo Queiroga não tem autonomia para conduzir as ações de combate á doença no Brasil, assim como outros comandantes da pasta também não o tiveram.
Segundo o site “Congresso em Foco”, o senador Marcos Rogério, do DEM-RO, da base governista, criticou, na última sessão da CPI, a decisão de convocar novamente Queiroga. “Presidente, o apelo que eu faço é que deixe o ministro trabalhar (….) O ministro Queiroga está na linha de frente do combate à Covid…”, disse, dirigindo-se ao presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, Omar Aziz (PSD-AM). O presidente rebateu a fala do parlamentar: “Sabe o que ele estava fazendo ontem? Anunciando a Copa do Mundo ao lado do Presidente. Não pode estar na linha de frente…”, ironizou. A nova agenda dos depoimentos da Comissão Parlamentar de Inquérito foi divulgada na última quarta-feira por Aziz em seu Twitter. O calendário foi modificado por duas vezes durante a semana. A audiência pública entre médicos contra e a favor do uso da cloroquina, que deveria ter ocorrido, foi desmarcado e não tem nova data prevista.
Aziz adiantou, também, a oitiva do governador do Amazonas, Wilson Lima, após uma ação da Polícia Federal que investiga desvio de recursos na Saúde de Manaus. O depoimento do governador estava marcado para o dia 29 deste mês, mas foi reagendado para o próximo dia dez. Diversos parlamentares criticaram a readequação da agenda, que agora terá sessão até a sexta. O senador Eduardo Girão, do Podemos-CE, disse que as mudanças ocorreram sem acordo. O senador Marcos Rogério, por sua vez, disse que o adiamento do depoimento de Wilson Lima decorreu de um pedido dele, mas que o senador Aziz não atendeu por inteiro. O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), insiste em que o Senado não tem competência para convocar governadores para depor nem como testemunhas ou investigados.
Um outro depoimento que causa expectativa é o do ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, que deverá prestar esclarecimentos à CPI da Covid amanhã. Tido como braço direito da gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello, ele deverá ser questionado sobre a demora na aquisição de vacinas por parte do governo Bolsonaro, embora documentos oficiais atestem que haviam sido feitas várias ofertas por laboratórios e governos de vários países. O ex-secretário executivo será inquirido, igualmente, sobre a existência do “gabinete paralelo” de aconselhamento ao presidente Jair Bolsonaro. Também estão anunciados, para sexta-feira, depoimentos de especialistas que falarão sobre aspectos técnicos no combate à Covid-19.