Um dia após afirmar ter solicitado um parecer ao Ministério da Saúde para desobrigar o uso de máscaras no território nacional, o presidente Jair Bolsonaro ajustou o discurso e disse que quem decidirá sobre a questão serão prefeitos e governadores. Ao deixar o Palácio da Alvorada nesta sexta-feira, 11, o mandatário afirmou que o pedido feito ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, é para que elabore um estudo sobre a possibilidade de pessoas vacinadas ou já infectadas dispensarem a proteção. “Se bem que quem decide, na ponta da linha, é governador e prefeito. Segundo o Supremo (Tribunal Federal) quem manda são eles”, afirmou Bolsonaro a apoiadores, distorcendo a decisão da Corte que deu autonomia a Estados e municípios para adotar ações de enfrentamento à pandemia mas não eximiu a União de agir.
Ontem, em evento no Palácio do Planalto, Bolsonaro disse ter “ultimado” o ministro da Saúde para publicar um parecer sobre o uso de máscaras para quem já foi vacinado ou já foi infectado. “Ele vai ultimar um parecer visando a desobrigar o uso de máscaras por parte daqueles que estejam vacinados ou que já foram contaminados. Para tirar este símbolo que tem a sua utilidade para quem está infectado”, disse, segurando uma máscara descartável na mão. A mudança do discurso ocorreu após uma série de críticas depois que Bolsonaro revelou a demanda feita a Queiroga. O ministro da Saúde divulgou, horas mais tarde, um vídeo no qual disse que o presidente acompanha o cenário internacional “e vê que em outros países, onde a campanha de vacinação está avançada, as pessoas já estão flexibilizando o uso das máscaras”. Em seguida, emendou: “O presidente me pediu que fizesse um estudo para avaliar a situação aqui no Brasil. Vamos atender essa demanda do presidente Bolsonaro, que está sempre preocupado com pesquisas em relação à covid”.
Em entrevista à CNN Brasil, Queiroga afirmou não haver prazo para que o estudo seja concluído. “Queremos que seja o mais rápido possível. Para isso, precisamos vacinar a população brasileira e avançar”, salientou. Confrontado pela imprensa sobre o ritmo acelerado de vacinação em outros países nesta sexta, o ministro disse, exaltado, que “será o nosso caso”. E ainda: “Estamos nos antecipando para termos posições sólidas em relação a todas as medidas que devem ser adotadas no enfrentamento da pandemia”. Em seguida, ao ser questionado sobre a fala de que a decisão sobre usar ou não máscaras cabe a governadores e prefeitos, Queiroga declarou não ser “assessor das falas do presidente da República”. O ministro participou da inauguração de leitos no Hospital Municipal de Guarapiranga, zona sul de São Paulo, ao lado do prefeito Ricardo nunes, que reafirmou obrigatoriedade do uso de máscaras no Estado.
Apesar da mudança de discurso em relação à palavra final sobre as máscaras, Bolsonaro voltou a defender, nesta sexta-feira, que pessoas infectadas ou vacinadas não utilizem a proteção. Depois de perguntar aos presentes se tomariam a vacina, o presidente repetiu que “dará o exemplo” e será o último a se imunizar. “Alguns acham que o exemplo é se vacinar. Não. O exemplo é dar o lugar para quem está desesperado. Tem gente aí desesperada dentro de casa esperando ser vacinada para sair”. Aos 66 anos, Bolsonaro poderia ter se vacinado desde março.