Nonato Guedes
Há peculiaridades envolvendo a disputa da única vaga de senador pela Paraíba em jogo nas eleições de 2022, além do fato de que se prenuncia um quadro competitivo, podendo atrair pesos-pesados da política local. O ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), por exemplo, que refugou a ideia de ser candidato ao Senado em 2018, alegando não ter interesse pelo mandato, subitamente já se postou na fila de pretendentes. Por sua vez, o ex-candidato Lucélio Cartaxo (PV), que ficou em segundo lugar na disputa de 2014 ao Senado, não manifesta qualquer intenção de figurar no páreo, talvez porque o principal expoente do “clã” familiar é Luciano, ex-prefeito de João Pessoa, que tem acenado com a hipótese de concorrer ao governo do Estado, por ele descartada em ocasiões anteriores.
A cadeira que estará em disputa é a que foi conquistada por José Maranhão há quase sete anos, enfrentando outros seis postulantes – além de Lucélio Cartaxo, Wilson Santiago, Professora Leila, Nelson Júnior, Walter Brito e Rama Dantas. Com a morte, recente, de Maranhão, acometido de complicações da Covid-19, a vaga passou a ser ocupada por Nilda Gondim, que era a primeira suplente e que divide cadeira no Senado com o filho Veneziano Vital do Rêgo, eleito em 2018, ambos filiados ao MDB. Note-se que Maranhão ficou em primeiro lugar com 647.271 votos contra 521.938 de Lucélio e 506.093 obtidos por Santiago. Os outros postulantes representaram legendas pequenas, como Pros, PSTU, Psol e PTC. Maranhão sucedeu a Cícero Lucena (então PSDB), que havia derrotado Ney Suassuna (ex-PMDB), e a sua vitória era previsível conforme indicavam pesquisas de opinião pública. Ricardo Coutinho, reeleito ao governo, declarou apoio à candidatura de Lucélio Cartaxo, que despontou como neófito na carreira política (posteriormente, em 2018, disputou o governo do Estado, sem êxito).
Além da presumível candidatura de Ricardo, insinua-se à competição majoritária Cássio Cunha Lima (PSDB), que tentou renovar o mandato de senador em 2018 e experimentou um insucesso que surpreendeu analistas e líderes políticos paraibanos. Em termos legais, para o pleito de 2022, Ricardo está inelegível, devido a complicações remanescentes da campanha ao governo na reeleição, como acusações de abuso de poder político e econômico na disputa pelo Executivo. Otimista incurável, Coutinho trabalha com a possibilidade de reverter a inelegibilidade a tempo de ser registrado candidato para o pleito vindouro. A derrota para prefeito de João Pessoa nas eleições do ano passado não parece tê-lo intimidado, embora tenha sinalizado claramente o seu declínio político-eleitoral, resultante da sua citação em processos da Operação Calvário, versando sobre desvio de recursos da Saúde e da Educação na administração pública do Estado. Os reflexos da “Calvário” quanto à situação de Ricardo poderão representar a pá de cal na sua trajetória, desde que haja incriminação explícita.
O ex-governador, que parece desmotivado dentro do PSB, agremiação que enfrenta esfacelamento na conjuntura política paraibana depois de ter triunfado com velocidade na esteira da ascensão de Ricardo ao poder, confia em que será beneficiado pelo “imponderável” até a campanha eleitoral do próximo ano e ainda sonha com um trunfo respeitável – o suposto apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a uma pretensão sua. Na eleição para prefeito da Capital em 2020 Lula gravou declaração de apoio a Ricardo, inclusive contra o candidato do PT, mas não há garantia de que em 2022 venham a estar juntos. Pragmático, o ex-presidente, que readquiriu direitos políticos e será o anti-Jair Bolsonaro, costura apoios indistintamente nos Estados, tendo aberto pontes, na Paraíba, com o atual governador João Azevêdo (Cidadania), rompido com Ricardo e candidato à reeleição.
Concretamente, até agora, o pré-candidato mais visível ao Senado na Paraíba para as eleições de 2022 é o deputado federal Efraim Filho, do Democratas, que já conta com o apoio do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), de deputados federais e estaduais de vários partidos e de lideranças municipais. Efraim tenta fazer uma concertação política que lhe permita estar no palanque do governador João Azevêdo sem necessariamente declarar apoio à candidatura de Lula ou à candidatura de Bolsonaro ao Planalto. Aposta, para isso, no lançamento de uma candidatura própria do DEM à presidência da República, que pode ser encampada pelo ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. A previsão é de polarização entre Lula e Bolsonaro, mas nomes como Mandetta podem aparecer dentro da perspectiva de busca incessante por uma terceira via, que mobiliza setores refratários tanto ao petista como ao atual mandatário.
Além de Efraim Filho, cogita-se uma candidatura do deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do PP, ou de um representante do PL, dirigido pelo deputado Wellington Roberto, à vaga de senador. Entre os que estarão seguramente fora dessa disputa em 2022 figuram Lucélio Cartaxo e Wilson Santiago (este, recentemente destronado do comando do PTB e ainda sem definição partidária), ambos derrotados por Maranhão em 2014. Ricardo Coutinho, se ganhar passaporte para tornar-se elegível, e Cássio Cunha Lima, se não resistir à pressão para tentar outra vez, certamente tornarão movimentada a disputa senatorial. Mas é um cenário onde aberto, diga-se de passagem. O pré-candidato mais obstinado, até agora, parece ser o deputado federal Efraim Filho. Em relação a Ricardo Coutinho, cabe uma observação: a ojeriza que ele tinha ao Senado, por achá-lo pouco produtivo, está sendo substituída pela necessidade. Explica-se: Ricardo percebeu que precisa dispor de imunidade parlamentar para enfrentar procelas judiciais que seguem atormentando sua carreira. Por isso está mudando de ideia e avaliando que o Senado está de “bom tamanho” para a sua estatura política. É a dinâmica, como glosava o ex-deputado Manuel Gaudêncio.