Nonato Guedes
Romero Rodrigues está há pouco mais de seis meses afastado do comando da prefeitura de Campina Grande, após pilotar duas gestões e, teoricamente, sair com boa aprovação, de que foi exemplo a eleição do seu sucessor, Bruno Cunha Lima, em primeiro turno. Planejou, com antecedência, candidatar-se ao governo do Estado nas eleições de outubro de 2022 e se anunciou como pré-postulante, obstinado em percorrer todos os municípios a fim de se tornar conhecido e massificar a sua imagem de forma a ser listado entre líderes emergentes, na sequência do processo de renovação de quadros políticos na Paraíba. Do outro lado do “front”, Romero constata que há obstáculos a transpor e que esses obstáculos tornam uma incógnita a aspiração de sair candidato pelo Palácio da Redenção, podendo levá-lo a mudar de planos e a colocar outras ambições mais factíveis no seu radar.
O grande trunfo com que ele esperava contar seria a dobradinha com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), este motivado a reagrupar apoiadores em torno do projeto de reeleição ao Palácio do Planalto e supostamente colhendo frutos de ações administrativas de impacto no cenário nacional. Ocorre que Bolsonaro, se não perdeu necessariamente grande capilaridade política-eleitoral, mantendo cota residual de seguidores, principalmente em redes sociais, está colecionando desgastes por conta do papel patético que o seu governo desempenha no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. E não há, ainda, visibilidade de ações de governo de impacto que pudessem catapultar o presidente a índices elevados de popularidade. Ao invés disso, o Brasil está atrasado no cronograma de vacinação e na aquisição de imunizantes, o governo vive debaixo de uma CPI do Congresso que apura, justamente, omissões no combate à Covid e o presidente mantém clima de tensão permanente com governadores, prefeitos, congressistas e instituições sociais, brandindo ameaças de recaída autoritária no país que não encontram ressonância em parcleas majoritárias da população.
Para completar – e complicar as coisas para o lado de Bolsonaro – o fantasma do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reapareceu em carne e osso e exibindo musculatura, a partir da reconquista, por Lula, de direitos políticos que o habilitam a concorrer em 2022. Isto se deu em cima da anulação de condenações que haviam sido proferidas, inclusive, por ministros do Supremo Tribunal Federal, nos processos que até então incriminavam o ex-mandatário e o levaram a permanecer preso por 580 dias na Polícia Federal em Curitiba. As condenações proliferaram no bojo da Operação Lava-Jato, que chegou a ser saudada como a maior “blitzkrieg” de combate à corrupção desencadeada na história brasileira e elevou aos píncaros da glória, por certo tempo, a figura do juiz Sergio Moro, hoje em declínio, proporcional à derrota do “lavajatismo” em correntes de pensamento e de decisão em tribunais e Cortes respeitadas no País. Nesse ínterim, o bolsonarismo diminuiu de tamanho – ou, pelo menos, perdeu o ímpeto com que se movia, célere e impunemente, pela vida democrática nacional.
O ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, filiado ao PSD, do qual é presidente estadual, foi colega de legislatura de Bolsonaro na Câmara Federal e essa relação facilitou conquista administrativas que beneficiaram a população daquela cidade nos últimos anos de mandato do alcaide paraibano. Prestigiado, até certo ponto, por Bolsonaro, mesmo fora do poder (ainda não conseguiu fechar um cargo federal para ocupar no Estado), Romero passa a conviver, na planície, com as oscilações de popularidade do governo do capitão. E, internamente, com seus próprios problemas. Falta-lhe aprovar, pelo menos, um balancete administrativo do seu período no Tribunal de Contas do Estado. E remover citações que foram feitas ao seu nome no âmbito da “Operação Calvário”, versando sobre desvio de recursos públicos na Saúde e Educação, cujo protagonista principal é o ex-governador Ricardo Coutinho, de quem Romero é adversário político.
Os eventuais óbices que precisam ser equacionados certamente contribuíram para que Romero, depois de ensaiar uma pré-estreia triunfal no páreo para o governo do Estado em 2022, tenha refluído seus passos baseados na perspectiva eleitoral e na conquista do Executivo no próximo ano. Por extensão, ficaram inibidos, também, os possíveis entendimentos de bastidores com expoentes de outros partidos para reforçar o seu projeto de candidatura ao Palácio da Redenção. Romero sabe que precisa da unidade de uma parcela expressiva da oposição para poder enfrentar o governador João Azevêdo (Cidadania), que se prepara para disputar a reeleição – e, no momento, a perspectiva de unidade não consta do radar, mesmo porque há pretensões concorrentes nas demais siglas e há muita expectativa sobre mudança nas regras para o pleito vindouro, que possam advir de reformas pontuais originárias do Congresso Nacional.
A tudo isto se soma um problema adicional: o risco de o PSD de Romero coligar-se, nacionalmente, com a candidatura do ex-presidente Lula da Silva, deixando desconfortáveis bolsonaristas ortodoxos como o ex-prefeito de Campina Grande, que não tem a mínima afinidade com o petismo. É um contencioso, e tanto, para ser desbastado pelo ex-gestor da Rainha da Borborema em tempo não muito elástico para resolver impasses e acomodar situações. Por honra da firma, Romero Rodrigues mantém a postulação de disputar o governo do Estado, mas, no íntimo, avalia outras opções. Enquanto isso, no esquema a que ele pertence no cenário político paraibano, o leque começa a ser aberto para comportar alternativas à disputa principal – pelo governo. Um exemplo disso é que o próprio Cássio Cunha Lima, que não vinha cogitando disputar nada em 2022, volta a frequentar listas como opção para três postos: deputado federal, senador e, numa emergência, candidato novamente a governador.