Nonato Guedes
Nas eleições de 2022, sobretudo proporcionais, ex-candidatos que se lançaram recentemente à disputa pela prefeitura de João Pessoa poderão ter reforçado seu cacife para conquistar cadeiras parlamentares ou mesmo aventurar-se por novas eleições executivas, ao próprio governo do Estado. Dois exemplos antagônicos são o comunicador Nilvan Ferreira (PTB) e o deputado federal Ruy Carneiro (PSDB). Ambos integraram o pelotão dos primeiros colocados à sucessão de Luciano Cartaxo (PV), tendo Nilvan, inclusive, avançado para o segundo turno, quando polarizou a finalíssima, então pelo MDB, com Cícero Lucena (PP), o vitorioso. Nilvan já se disse integrado à política irreversivelmente e chegou até a ser cogitado como balão de ensaio ao governo do Estado, mas deverá, mesmo, tentar uma cadeira na Câmara Federal ou, então, na Assembleia Legislativa.
Já Ruy Carneiro, que ficou em terceiro lugar no páreo para prefeito, com uma votação considerada marcante, está em campanha para renovar o mandato na Câmara, onde mantém atuação pontual em defesa de pleitos do Estado, libera recursos para instituições filantrópicas e da área da Saúde e apresenta projetos pioneiros no país, de grande repercussão nacional. Ruy tem base estruturada não apenas no entorno de João Pessoa, mas nos mais longínquos municípios do Estado, até em regiões como o Sertão paraibano. Sustenta linha de coerência, firmada na oposição ao governo João Azevêdo, mas seu desempenho é reconhecido como proativo no que diz respeito às causas de interesse da Paraíba. É um parlamentar com livre trânsito em gabinetes influentes, não apenas em Brasília, onde exerce o mandato, mas em capitais que sediam institutos e agências com programas focados no desenvolvimento das comunidades.
A campanha de 2020 a prefeito de João Pessoa contou com líderes políticos de expressão, como o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), que não obstante foi derrotado e alcançou um resultado pífio em comparação com a carreira ascendente que vinha trilhando na conjuntura local. Ricardo tem se movimentado na perspectiva de sair candidato à única vaga de senador que estará em jogo no pleito de outubro do ano vindouro, mas a dados de hoje é considerado inelegível, devido a complicações derivadas da campanha ao governo em 2014, relativas a suposto abuso de poder. Sua defesa, naturalmente, tenta remover obstáculos, enquanto se prepara para a eventualidade de processos desgastantes, também, no âmbito da Operação Calvário (sobre desvio de recursos da Saúde e Educação). Conquanto tenha estado na berlinda, por causa das pendências legais, Ricardo ainda é tido como um quadro de peso no cenário paraibano e tem procurado manter abertos os canais com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cuja candidatura a presidente da República indiscutivelmente apoia.
O pleito de 2020 registrou recorde de candidaturas na Capital paraibana – cerca de 14, o que gerou pulverização de tendências e de intenções de voto e, de certa forma, confundiu parcela expressiva do eleitorado. Foi uma espécie de vitrine para quem estava sem mandato e para quem pretendia alçar voos maiores no território do poder. Assim é que além de Ricardo, que havia deixado o governo, e Ruy Carneiro, no pleno exercício do mandato de deputado federal, concorreram nomes como o deputado estadual Wallber Virgolino, do Patriota, Anísio Maia, do PT e ex-deputado Raoni Mendes, do DEM. Virgolino, ao que se anuncia, deverá tentar um mandato de deputado federal, valendo-se da visibilidade que ampliou na campanha municipal, enquanto Anísio fará força para tentar ser reconduzido à Assembleia Legislativa. Raoni não sinalizou, ainda, pretensões, mas poderá entrar como parte da estratégia de renovação de quadros.
A ex-candidata Edilma Freire (PV), que foi apoiada ostensivamente pelo então prefeito Luciano Cartaxo e por seus secretários e liderados, acabou sendo um fiasco eleitoral e não tem voltado à cena. O espaço maior dentro do PV deverá ser ocupado por Luciano, que fareja as chances para concorrer a cargos majoritários (senador ou governador) mas estaria, mesmo, segundo versões, cogitando disputar mandato de deputado federal, lastreado na repercussão dos dois mandatos que empalmou à frente da prefeitura pessoense e numa trajetória que já incluiu passagens pela Assembleia Legislativa, Câmara Municipal da Capital e vice-governadoria do Estado. Cartaxo se move no campo da oposição simultânea à gestão Cícero Lucena e à administração de João Azevêdo.
Por fim, o próprio esquema do atual prefeito Cícero Lucena examina nomes que podem ser lançados ou figurar como opções na disputa eleitoral de 2022. O filho dele, “Mersinho”, que é vice-prefeito de Cabedelo, tem sido insistentemente listado como provável candidato a deputado federal, contando, provavelmente, com base forte no entorno da Grande João Pessoa, que pode ser complementada em redutos pontuais situados em outras regiões. Há outras pretensões, enrustidas ou disfarçadas, no núcleo de apoio e sustentação do prefeito Cícero Lucena, mas as definições estão sendo empurradas com a barriga, da mesma forma como se dá em relação à disputa ao governo do Estado e a outros postos relevantes que estarão no radar no próximo ano.