Nonato Guedes
Vice-presidente do Senado Federal e presidente do diretório estadual do MDB, o senador Veneziano Vital do Rêgo tem dito em conversas íntimas e em declarações à imprensa que o partido não tem a pretensão de impor nomes num diálogo com o esquema do governador João Azevêdo (Cidadania) para comporem a chapa majoritária que o gestor vai encabeçar na campanha à reeleição, no próximo ano. Mas, seguramente, o MDB quer ser ouvido pelo chefe do Executivo nos entendimentos que irá deflagrar, em momento oportuno, a respeito da composição da chapa e, mesmo, sobre aspectos da estratégia de campanha que será levada à frente num pleito cujos adversários reais ainda tomarão forma daqui para a frente.
A postura de Veneziano baseia-se numa certa lógica dos fatos que pontuam a conjuntura política paraibana na atualidade. O MDB, sob sua palavra, já anunciou intenção de apoio à candidatura do governador a um novo mandato – aliás, mais do que intenção, um compromisso preliminar, que somente poderá ser ratificado após discussões internas e deliberações de convenções em época adequada para tanto. Por outro lado, mesmo abrindo mão do direito e da possibilidade de lançar candidatura própria ao governo do Estado, o partido que Veneziano passou a comandar tem seu peso no cenário estadual, apoiado pela força da tradição e pela estrutura ainda razoável que detém em bases municipalistas. É uma legenda de um deputado só na Assembleia Legislativa (Raniery Paulino) e de nenhum deputado na Câmara Federal. Mas tem dois senadores (Veneziano e a sua mãe, Nilda Gondim), prefeitos, vereadores e lideranças municipais. Além do mais, figurou no segundo turno da disputa pela prefeitura de João Pessoa em 2020 com a candidatura do comunicador Nilvan Ferreira.
Veneziano investiu-se há pouco tempo na direção do MDB após movimentos que facilitaram o seu retorno à legenda e consequente desfiliação do PSB, pelo qual se elegera em 2018 e com quem vinha tendo incompatibilidades não superáveis. Ao seu reingresso no partido, com manifestação de apoio ao governo João Azevêdo, correspondeu a desfiliação de Nilvan Ferreira, crítico da administração estadual e regiamente compensado com a conquista de vaga e prestígio no PTB, ascendendo à presidência do diretório estadual, no movimento que, em sentido reverso, provocou a desgraça, dentro das hostes trabalhistas, do “clã” familiar liderado pelo deputado federal Wilson Santiago. Com o quadro redefinido internamente, Veneziano tem se empenhado no fortalecimento da legenda, mas este é um processo lento, que demanda ações cautelosas de cooptação. Dificilmente o partido estará fortemente estruturado a ponto de se tornar competitivo para a disputa ao governo em 2022, ainda que, individualmente, Veneziano tenha liderança indiscutível em Campina Grande e outros redutos estratégicos do Estado.
Chegou-se a cogitar, em meio ao retorno de Veneziano ao MDB, a hipótese de indicação da sua mulher, Ana Cláudia Vital do Rêgo, para a chapa de Azevêdo à reeleição, como candidata a vice. Tratou-se, apenas, de cogitação aleatória – na prática, Ana Cláudia, depois da jornada para a prefeitura de Campina Grande, passou a ocupar secretaria na administração estadual e prepara-se para ser candidata a deputada federal no próximo ano. Apoios a essa candidatura estão sendo costurados com mediação direta do marido, que se mobiliza em outras direções, como quando anunciou apoio preliminar à candidatura do deputado federal Efraim Filho (DEM) ao Senado. O MDB liderado por Veneziano conta em suas fileiras com o ex-governador Roberto Paulino, que pode vir a figurar numa suplência ao Senado na chapa agrupada em torno da liderança do governador João Azevêdo. O nome do deputado estadual Raniery Paulino, filho de Roberto, por outro lado, é posto como alternativa para uma vice na chapa do atual governador. Independente de se cristalizarem tais indicações, o apoio de Veneziano e do “clã” Paulino a Azevêdo é irreversível.
O MDB experimenta, na cena política paraibana, oscilações que grandes partidos de outrora estão enfrentando, com picos de curva descendente. O fato de o MDB nacional não investir em candidaturas próprias a presidente da República reduziu espaços de ascensão no metro quadrado de poder e transformou-o praticamente em agremiação regionalista, com forte viés municipalista. Tendo chegado à presidência por vias oblíquas, com o impeachment de Dilma Rousseff e a consequente ascensão de Michel Temer, então vice, o MDB não se capitalizou o bastante para voltar ao primeiro plano da política nacional. Em 2022 não será nem coadjuvante na corrida para o Planalto, tendo que pegar carona em meio a um pleito que se desenha antecipadamente polarizado entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao retornar aos quadros da legenda na Paraíba, o senador Veneziano Vital do Rêgo tinha pleno e cabal conhecimento das dificuldades de tentar soerguer o partido ao nível dos espaços que conquistou em outras décadas, quando disputou a céu aberto o Palácio da Redenção e logrou ser amplamente vitorioso. Já nos estertores do período de atuação do senador José Maranhão à frente do comando estadual, o MDB capengava na tarefa de refortalecer-se. Foi bafejado em 2020 na Capital por ter atraído um “fenômeno” para suas hostes – o comunicador Nilvan Ferreira, que, no entanto, não teve tempo de aprofundar laços ou raízes dentro da agremiação. Veneziano move-se de forma realista na conjuntura. Se o MDB ganhar fôlego, por mínimo que seja, na disputa de 2022, o próprio Veneziano se sentirá motivado a executar um projeto que cobiça já faz algum tempo – o de ser candidato a governador da Paraíba.