Nonato Guedes
A novidade no cenário político nacional, com vistas às eleições presidenciais de 2022, é a aproximação entre o PSB e o PT com apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e reflexos nos Estados e nas alianças regionais. No Nordeste, o caso mais complicado se dá em Pernambuco, com sequelas da disputa pela prefeitura do Recife em 2020, que opôs dois primos – Marília Arraes, do PT, a João Campos, do PSB, o vitorioso. Mas o próprio Lula, que tem raízes e forte penetração eleitoral no Estado, está cuidando, pessoalmente, de aparar arestas e construir uma concertação de unidade entre os dois agrupamentos para reforçar sua própria posição, diante das investidas do presidente Jair Bolsonaro no Nordeste.
Na Paraíba, sob a liderança do ex-governador Ricardo Coutinho – que por enquanto é inelegível para concorrer a mandatos em 2022 – o PSB está “dominado” no alinhamento incondicional com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embora remanesçam vozes dentro do PT contrárias a Ricardo e haja petistas ocupando cargos na gestão do governador João Azevêdo (Cidadania), que já anunciou apoio a Lula num segundo turno e pontuou que em hipótese alguma votará ou apoiará Bolsonaro. Em termos efetivos, o PSB paraibano está esvaziado de quadros, enquanto o PT é um partido sem comando no Estado, depois da intervenção da Executiva nacional, por orientação de Lula. Na campanha municipal do ano passado, o candidato próprio do PT a prefeito de João Pessoa, deputado Anísio Maia, foi solenemente ignorado por Lula, que gravou declaração de apoio à candidatura de Ricardo, reproduzida no Guia Eleitoral.
Quanto a Pernambuco, trata-se do Estado que tem o maior peso no PSB nacional. O centro do problema é ainda a recente eleição para prefeito do Recife, marcada por uma troca intensa de farpas entre petistas e socialistas. No momento, o prefeito João Campos sinaliza que é contrário a qualquer aproximação com o PT. Na mesma linha, o provável candidato do PSB ao governo do Estado, o ex-prefeito do Recife, Geraldo Júlio, também não tem fala pública de apoio a uma aliança com o PT. Na tentativa de mitigar o problema, segundo revela o UOL Notícias, Lula deve ir a Pernambuco nos próximos dias conversar com lideranças locais e com o governador Paulo Câmara, do PSB. Eles já tiveram, a propósito, uma conversa virtual em abril, com clima bem mais amistoso que com a família Campos. A aproximação do PSB com o PT muda o enredo do jogo que vinha vigorando até então.
Em 2020, PSB e PDT fecharam uma aliança para as eleições municipais que previa eventual apoio pessebista à candidatura de Ciro Gomes (PDT) à presidência no próximo ano. Mas a retomada da elegibilidade pelo ex-presidente Lula da Silva mudou a situação e o PSB tende a deixar Ciro de lado e apoiar o petista. A volta de Lula ao cenário já reaproximou boa parte de líderes do PSB e fez o partido ganhar um peso ainda maior na costura política da centro-esquerda. Como resultado, Ciro poderá levar uma nova rasteira do partido, assim como ocorreu em 2018. O maior indício de mudanças de ventos no PSB ocorrerá na próxima terça-feira, quando o deputado federal Marcelo Freixo, então PSOL, e o governador do Maranhão, Flávio Dino, então no PCdoB, assinam a filiação ao Partido Socialista Brasileiro. Ambos defendem Lula e vão lutar por uma aliança do partido com o PT em 2022.
O cientista político Adriano Oliveira, da UFPE, analisa: “A ida de Marcelo Freixo para o PSB significa uma orquestração do ex-presidente Lula para garantir o apoio nacional do partido. Consequentemente, isso deve ter repercussão pró-PT e pró-PSB em outros Estados da Federação”. Oliveira diz que o caso de Freixo é simbólico porque o ex-socialista deve encabeçar uma frente com partidos de centro e de esquerda para o governo do Rio de Janeiro, o que teria ganhos, por tabela, para a candidatura de Lula. Já o ex-presidente Lula, a seu ver, quer repetir a estratégia do Rio de Janeiro em vários Estados da Federação e, ao mesmo tempo, ter candidatos de consenso em outros locais. “Com isso, ele quer trazer esse consenso para o âmbito nacional, tornando-se um candidato viável para vários partidos não só de esquerda, mas também de centro”, assinala o cientista.
A ideia de aliança entre PSB e PT, por sinal, já é vista como praticamente certa diante das movimentações políticas recentes – entre elas a busca de Ciro a eleitores e partidos de direita nos últimos dias. O professor Ricardo Ismael, da PUC-Rio, comenta: “Acho que a movimentação de Freixo e Dino ocorre para formar uma maioria dentro da executiva nacional em apoio a Lula. Claro que há resistências internas, como no PSB de Pernambuco, mas essas filiações fortalecem muito a articulação para o PSB vir a apoiar Lula”. Wagner Cabral, cientista político da Universidade Federal do Maranhão, diz que a saída do governador Flávio Dino é um reposicionamento político dele. O controle do PCdoB no Estado ainda segue com um aliado forte de Flávio Dino, e isto configura uma grande aliança. Dino é candidato ao Senado, aparentemente favorito, mas também está atrás da “grife Lula”, conforme o cientista. PSB e PT vivem de idas e vindas nos últimos anos, sempre tendo Lula como ponto de equilíbrio na aliança. Desta feita, as articulações podem resultar numa sólida aliança que beneficiará, preferencialmente, os dois partidos em caso de vitória de Lula à presidência da República.