Nonato Guedes
Sob a liderança do presidente estadual do PSD, Romero Rodrigues, ex-prefeito de Campina Grande, parte da oposição paraibana, que é aliada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e combate o governo João Azevêdo (Cidadania) deflagrou, ontem, em João Pessoa, ensaio para a articulação com vistas à disputa eleitoral de 2022 ao Palácio da Redenção e a mandatos legislativos (Senado, Câmara Federal e Assembleia Legislativa). A expectativa do agrupamento é de lançar, em cerca de um mês, um nome como balão de ensaio para enfrentar Azevêdo ao governo, com chances de ser indicado o ex-prefeito Romero Rodrigues. Formalmente, o bloco se diz aberto a exame de alternativas, mas Romero parece referência maior por estar em pré-campanha antecipada e por sua ligação estreita com o presidente, que foi seu colega de legislatura na Câmara.
No segmento a que está Romero está mais vinculado em termos locais – os Cunha Lima – o deputado federal Pedro (PSDB), filho de Cássio, também é mencionado como opção ao governo, mas ele não se movimenta com a desenvoltura que Romero possui e demonstra. Neste primeiro momento foi possível atrair figuras como o deputado federal tucano Ruy Carneiro, ex-candidato a prefeito de João Pessoa, e o presidente estadual do PTB, o comunicador Nilvan Ferreira, também ex-candidato a prefeito da Capital em 2020, tendo ido ao segundo turno contra Cícero Lucena. O deputado estadual Walbber Virgolino e outros “bolsonaristas de raiz” na Paraíba estariam participando das demarches, que, na verdade, buscam definir um caminho na realidade local para um forte segmento de oposição a João Azevêdo.
A ausência, no primeiro encontro, do ex-prefeito Luciano Cartaxo (PV), sinalizou, claramente, a divisão da oposição no Estado. Cartaxo, que concluiu dois mandatos à frente da edilidade pessoense, não se identifica com o projeto bolsonarista de poder, parecendo estar mais próximo da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por ser referencial na esquerda e centro-esquerda. Lá atrás, em 2018, o irmão gêmeo do ex-prefeito, Lucélio, foi candidato a governador contra João Azevêdo, ficando em segundo lugar na disputa decidida em primeiro turno. A vice de Lucélio foi a doutora Micheline Rodrigues, mulher do então prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, que fazia sua estreia em processo eleitoral. Mas a aliança parece ter sido de ocasião, sem a perspectiva de desdobramentos, o que, em princípio, está se confirmando agora.
Ao afastar-se de Romero e do “clã” Cunha Lima, Luciano Cartaxo não está de forma alguma sinalizando perspectiva de apoio ao governador João Azevêdo, mas, sim, acenando com a possibilidade de reaproximação com o esquema liderado pelo ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), que é eleitor declarado de Lula e que tem pretensões ao Senado em 2022, embora, no momento, esteja inelegível. Fala-se que Luciano estaria tentando se viabilizar como candidato de oposição ao governo estadual, com o provável apoio de Lula. Mas a postura que Lula terá nas disputas regionais ainda é uma incógnita. Na visita à Paraíba em julho, segundo já foi anunciado, ele conversará tanto com Azevêdo como com Ricardo Coutinho e com o senador Veneziano Vital do Rêgo, do MDB. O nome de Luciano Cartaxo não figurou oficialmente na pré-agenda.
Há projetos múltiplos no radar para as eleições do próximo ano. O ex-presidente Lula tenta agrupar adversários estaduais em torno da sua própria obsessão de voltar ao Planalto. Por isso move-se com habilidade para circular como algodão entre cristais no cenário de rivalidades dos Estados ou regiões, de forma a não ocasionar defecções na força múltipla que cogita formar para a tarefa de bater Bolsonaro na campanha deste à reeleição. Onde houver condições de Lula pacificar correntes locais, ele agirá, mas se desobrigará de operar caso venha a detectar impasses irremovíveis por causa dos conflitos localizados. É um jogo de cintura extremamente delicado, e complicado, mas ao qual Lula vai se atirar de corpo e alma porque deseja aproveitar uma das últimas chances de voltar, pelo voto, à presidência da República. Na falta de bola de cristal, a saída é acompanhar com interesse os movimentos que estão ocorrendo nessa seara.
Coincidentemente, ou não, também ontem o governador João Azevêdo e o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), protagonizaram a retomada em alto estilo da parceria política-administrativa, que havia sido embaçada por divergências pontuais em questões como a do enfrentamento à pandemia de coronavírus na capital paraibana. A parceria foi retomada em cima do anúncio de um pacote de obras e investimentos a curto, médio e longo prazo, calculado em R$ 1 bilhão, e contemplando setores estratégicos que afetam a população residente em João Pessoa. Tanto o governador como o prefeito fizeram questão de enfatizar que o entrosamento permanece e que as insinuações sobre rompimento não passaram de boatos ou de “fofocas”. Como se vê, os fatos estão empurrando atores da cena política e administrativa para a busca de pontos de convergência e fortalecimento. Não é nada, não é nada, mas é eloquente o sinal de que tanto governo como oposição na Paraíba decidiram se mexer para não perder o bonde da História nem das alianças para os esquemas que vão à luta em céu aberto no mês de outubro de 2022.