Nonato Guedes
Evitando citar diretamente o nome do seu conterrâneo, o cardiologista Marcelo Queiroga, que está à frente da Pasta, o economista paraibano Maílson da Nóbrega afirmou em seu blog na revista “Veja” que para ser ministro da Saúde ter liderança é essencial. Maílson foi ministro da Fazenda do governo do presidente José Sarney, que se investiu no cargo com a morte de Tancredo Neves, e ao deixar o ministério a inflação estava disparada e sem controle. Queiroga assumiu a Saúde há pouco tempo, no governo do presidente Jair Bolsonaro, e apesar do bombardeio contra o governo, estigmatizado pela postura negacionista diante da pandemia de coronavírus, tem feito avançar a campanha de vacinação contra a doença que assolou o país.
No artigo intitulado “Não Precisa Ser Médico”, Maílson observa: “O fracasso do general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde, diz-se, resultou do fato de ele não ser médico. Creio, porém, que o insucesso tem pouco a ver com isso. Em boa parte, o problema teria decorrido da entrega de postos-chaves a militares sem bons conhecimentos na área. Deficiências de liderança explicariam outra parte. A experiência em logística, realçada por Bolsonaro, não era importante”. Em qualquer ministério, prossegue Maílson, o desempenho do titular depende de duas condições: habilidade para comandar, isto é, ter e exercer liderança. boa assessoria de especialistas experientes. “Sem equipe eficiente, é natural que surjam problemas de formulação, coordenação e implementação de políticas públicas. Os conhecimentos do ministro podem contribuir para o sucesso, mas não necessariamente o seu diploma”.
– Liderança – teoriza Maílson da Nóbrega – é o ingrediente essencial. Para o completo sucesso, ela pressupõe reunir muitas habilidades, entre elas a da persuasão. Dispor da capacidade de transmitir mensagens, convencer e conquistar apoio. Ser hábil para comandar pessoas e atribuir responsabilidades. Ter empatia, bom senso e saber ouvir. Tratar subordinados com urbanidade, sem perder a autoridade. Ser confiável, íntegro, probo e incorruptível. Nem todos os ministros combinam essas qualidades, mas sem a maioria delas dificilmente terão êxito. Ministro é cargo político. Em países ricos, escolhas para a área da saúde costumam recair em parlamentares ou ex-parlamentares. No Reino Unido, que tem se saído bem na vacinação contra a Covid-19, o ministro é Matthew Hancock, formado em filosofia, política e economia. Na França, é Olivier Véran, um neurologista. Nos EUA, é Xavier Becerra, advogado. Todos os três são ou foram parlamentares. O americano foi deputado federal por 24 anos.
Maílson menciona que no Brasil um bem-sucedido ministro da Saúde foi José Serra, economista. Lembra que Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi o ministro da Fazenda que venceu o sério desafio da hiperinflação. Ambos integraram o Congresso. O desempenho deles teve a ver com liderança, experiência política e vivência no setor público. Nos países ricos citados, o ministro tem o apoio de uma burocracia permanente com largos conhecimentos especializados. “No caso do ministro Pazuello, os militares da equipe possuíam pouca ou nenhuma experiência em saúde. Faltou-lhes, pois, sensibilidade para identificar riscos e, assim, acionar medidas necessárias. Daí a inabilidade para adquirir, tempestivamente, vacinas de várias origens, ainda que fossem promessas. A conclusão do negócio, claro, dependeria da aprovação da Anvisa”.
Na opinião de Maílson da Nóbrega, “as barbaridades” que estariam sendo cometidas pelo presidente Jair Bolsonaro impõem constrangimentos à ação dos ministros da Saúde. E explica: “Para ele, as mortes em Araraquara (São Paulo) decorreram das restrições à atividade econômica decretadas pelo prefeito para conter a ampla circulação do vírus, por sinal bem-sucedidas. Bolsonaro disse que as mortes teriam ocorrido por fome causada pelo correspondente desemprego – e não pela doença. Pode?”. Marcelo Queiroga é o quarto ministro da Saúde do governo Bolsonaro, em plena pandemia do novo coronavírus, e é vítima das tentativas do presidente de interferir nas ações da Pasta, bem como de ironias de Bolsonaro em momentos de contrariedade, quando como tratou-o de “um tal Queiroga” por não se sentir defendido à altura por ele em meio a uma enxurrada de acusações. O primeiro titular da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, saiu atirando contra o governo, o mesmo acontecendo com o segundo, Nelson Teich, o que menos durou no cargo. O terceiro, o general Eduardo Pazuello, era da confiança absoluta de Bolsonaro, embora tenha feito uma gestão desastrada e seja alvo de investigação, atualmente, pela CPI do Senado. Queiroga faz uma verdadeira “ginástica” para se manter no cargo, apesar das idiossincrasias do presidente Jair Bolsonaro, segundo analistas da mídia sulista.