Nonato Guedes
O pacote de obras de impacto, contemplando diferentes setores e somando investimento da ordem de R$ 1 bilhão, anunciado pelo prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), além de ter constituído evento significativo de reação da gestão inaugurada em janeiro deste ano, tende a alcançar repercussão colateral na campanha às eleições do próximo ano, principalmente ao governo do Estado. Em termos concretos, a ofensiva poderá vir a impulsionar a candidatura do governador João Azevêdo (Cidadania) à reeleição, num reduto estratégico como a Capital, que é o maior colégio eleitoral da Paraíba, até porque a arrancada baseia-se em parceria com o governo estadual. Subsidiariamente, é um conjunto de ações cujo mérito também pode ser repartido com o governo federal e com parlamentares da bancada paraibana, autores de recursos provenientes de emendas.
O prefeito Cícero Lucena estava devendo ações de impacto neste seu terceiro mandato à frente da edilidade pessoense, não apenas pela empatia que construiu com a cidade como pelo conhecimento amplo que tem sobre os problemas e “gargalos” que, apesar de promessas, não foram equacionados em períodos seguidos de administração pública, com isto prejudicando o ritmo de desenvolvimento que a esta altura poderia estar colocando a capital paraibana em posição privilegiadíssima no ranking que lista outras metrópoles do Nordeste. Aliás, a principal bandeira agitada por Cícero na campanha eleitoral mais disputada dos últimos tempos em João Pessoa foi o apelo ao eleitorado para dar um crédito de confiança à voz da experiência, nele simbolizada, por ter protagonizado passagens anteriores pelo Paço Municipal.
É evidente que no discurso de campanha eleitoral Cícero Lucena teve que reciclar ideias e concepções ou formulações referentes à condução do processo de crescimento de João Pessoa, para ficar sintonizado com os estágios de evolução experimentados ao longo dos anos e com a incorporação de outras demandas à pauta popular reivindicatória que até então predominava. Como homem público, ele não deixou de acompanhar as mutações do ciclo de progresso urbano de João Pessoa, da mesma forma como assimilou lições e informações de modelos administrativos mais modernos, eficientes e sustentáveis que têm sido colocados em prática em diferentes regiões do país. E teve agilidade para “processar” as exigências de transformação que passaram a figurar no radar da coisa pública, adaptando-as à sua própria sensibilidade – esta imutável no tocante aos problemas sociais.
Lucena mergulhou na campanha eleitoral de 2020 consciente de estar preparado para os desafios contemporâneos e, nesse desideratum, contou com um reforço valioso: o apoio do governo do Estado, com a perspectiva de tornar-se parceria institucionalizada para que João Pessoa fosse governada a várias mãos e múltiplas cabeças, dentro da filosofia de tornar exequíveis projetos indispensáveis que ficaram congelados em gestões recentes, junto com a própria estocagem de recursos vultuosos acenados por agências de desenvolvimento e que não foram utilizados para os fins a que se destinavam. Claro que, na largada, o projeto de obras foi dificultado por dois fatores – a falta de maior transparência sobre a herança deixada pela dupla gestão de Luciano Cartaxo (PV) e, em outra ponta, a prioridade em que a prefeitura teve de se debruçar na intensificação do combate à epidemia de Covid. Neste ponto, os avanços têm sido cada vez mais notáveis e surpreendentes, graças à liberação de vacinas e à estratégia montada pelas equipes municipais para fazer João Pessoa deslanchar no Plano Nacional de Imunização.
O “maior pacote de obras” já visto na Capital paraibana, tal como alardeado, compõe-se de investimentos expressivos nas áreas da mobilidade urbana, saúde, educação e infraestrutura, mediante ações integradas que traduzem o novo perfil da gestão pública em voga no país e no mundo. São obras como a construção de novas Unidades de Pronto Atendimento de Saúde, escolas, viadutos, acessos para melhorar o trânsito, modernização da iluminação pública, pavimentação de ruas, etc. Para o governador João Azevêdo, o pacote anunciado no âmbito municipal é uma complementação das obras e ações que já têm sido desencadeadas pelo governo do Estado, numa dimensão grandiosa, contemplando o Polo Turístico do Cabo Branco e empreendimentos que vão se tornar viáveis desafiando as limitações impostas pela atual conjuntura, tanto sanitária como econômica-financeira.
A ascensão de Cícero Lucena à prefeitura de João Pessoa provocou uma consequência imediata – a quebra do impasse na relação entre governo do Estado e Paço Municipal, que durante diferentes períodos foi a tônica dominante, com isto prejudicando-se marcadamente a população da Capital, penalizada no encaminhamento e solução de seus desafios mais complexos e das suas carências mais urgentes. O impasse fora alimentado por divergências políticas-partidárias, que entupiram canais de diálogo ou entendimento em torno do interesse público, num péssimo exemplo de conduta institucional que se requer dos líderes e gestores. João Azevêdo e Cícero têm se empenhado em construir pontes. Evidente que já se desentenderam nisso ou naquilo, nas questões pontuais, mas esses eventuais ruídos de comunicação não avançaram para o rompimento ou para o confronto imprevisível. A lógica, a dados de hoje, aponta que estarão juntos em 2022, quando Cícero terá a oportunidade de retribuir o apoio de João Azevêdo em 2020.