O ministro Marco Aurélio Mello, que está de saída do Supremo Tribunal Federal, insinuou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) só critica as urnas eletrônicas porque pode perder a eleição presidencial de 2022. Mello destacou que essas críticas aumentaram depois que pesquisas de intenção de voto apontaram um cenário ruim para o mandatário neste momento. Bolsonaro tem defendido o retorno do voto impresso por considerá-lo “mais seguro” e imune a possíveis fraudes, tendo manifestado apoio a propostas que tramitam no Congresso Nacional com esse objetivo. A adoção da medida, porém, é fortemente criticada por especialistas em Direito Eleitoral e pelos próprios dirigentes do Tribunal Superior Eleitoral, que a consideram “um retrocesso”.
Em entrevista ao programa Conversa com Bial, da Rede Globo, Marco Aurélio enfatizou: “Talvez o problema maior esteja nos levantamentos quanto à intenção de votos para 2022. E o presidente já prepara, porque não somos ingênuos, um campo para uma impugnação, caso não seja vencedor na candidatura à reeleição”. Pesquisas recentes, de variados institutos de opinião pública, apontam favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o pleito de 2022, ao mesmo tempo em que registram queda de percentuais de popularidade do presidente Bolsonaro. O apresentador Pedro Bial, na entrevista, lembrou que Mello era contra as urnas eletrônicas no passado. Mas o ministro do STF reconheceu que elas funcionam corretamente desde 1996.
“De lá para cá, ao contrário do que ocorria com o sistema anterior de cédula, não tivemos nenhum caso de impugnação séria procedente. A urna eletrônica acima de tudo preserva a vontade do eleitor”, concluiu Marco Aurélio Mello. O ministro criticou, ainda, o presidente Jair Bolsonaro quanto à condução da pandemia de coronavírus no país. “É muito negativa a postura que ele assumiu desde o início, chamando de gripezinha. Ele deveria dar o exemplo e preconizar o uso da máscara, do álcool e do isolamento”, disse. Com relação ao episódio em que Bolsonaro tirou a máscara de uma criança, Mello disse que “isso é péssimo em termos de exemplo”, e emendou: “Rebelde não é o ministro Marco Aurélio, mas o presidente da República”.
Na entrevista, o ministro defendeu a operação Lava Jato, que, a seu ver, tem mais pontos positivos do que negativos. “Logicamente, a Justiça é passível de falhas, mas há o sistema de recursos, que deve ser acionado. Mas a Lava Jato está com missa de sétimo dia já encomendada e vinga no Brasil um sentimento de impunidade”, avaliou. Já a deputada federal bolsonarista Bia Kicis, do PSL-DF, para defender a tese do voto impresso, ressuscitada pelo presidente e seus apoiadores, elogiou, ontem, a postura assumida pelo PDT. Ela agradeceu o apoio do partido de Ciro Gomes, “um grande parceiro nessa luta”. Além disso, a parlamentar afirmou, sem constrangimento, que não há deputados de extrema direita. “Nós, parlamentares, estamos na mesma situação que os eleitores. Quando a gente questiona a urna eletrônica, nós somos extremistas. Aqui não tem ninguém de extrema direita não. Aqui tem deputados de direita, que não são de extrema, não. Agora, nós temos muitos deputados de extrema esquerda que nos acusam de ser de extrema direita”, declarou ao site “Antagonista”.