Nonato Guedes
Já se nota uma peculiaridade em relação à disputa para a única vaga de senador pela Paraíba nas eleições de 2022: a ausência de empresários no radar das especulações ou no rol de pretensões anunciadas à cadeira hoje titulada por Nilda Gondim (MDB). É um fato que chama a atenção porque desde a redemocratização pós-ditadura militar vinha sendo crescente a atuação de empresários no universo político, ora concorrendo a mandatos titulares, ora figurando como suplentes, com chances de ascender à titularidade. O proprietário do Sistema Correio de Comunicação Roberto Cavalcanti, por exemplo, teve pelo menos 16 anos de atuação naquele fórum, como suplente de Ronaldo Cunha Lima, depois como suplente de José Maranhão e, por fim, na titularidade do mandato por dois anos e meio.
“Ao longo desse período, a mais alta corte legislativa do País me proporcionou uma espécie de pós-graduação de vida”, relatou Roberto Cavalcanti em artigo enfeixado no livro “Como eu Penso”, referindo-se às experiências acumuladas em embates da mais alta importância para a vida nacional que foram travados naquele ambiente e de que resultaram projetos convertidos em leis, versando sobre o interesse público. Em outro comentário, Cavalcanti teorizou sobre os empresários e a política, fazendo uma espécie de alerta que permanece atualíssimo diante dos desafios enfrentados: “Por que não participar da política?”. E prosseguiu: “Existe consciência na classe política que, sistematicamente, erramos como consequência da não exposição política, posição que estaria baseada na avaliação de risco (…) Outra desculpa é que, com a política e os políticos desgastados pelos escândalos, uma convivência poderia contaminar reputações construídas com sacrifícios, dedicação, altos investimentos e tempo”.
Muito desse questionamento já foi por terra quando, finalmente, empresários resolveram participar do jogo e influenciar na tomada de decisões, adicionando ao debate uma visão desenvolvimentista do processo histórico, baseada nos seus combates diários para sobreviver em meio a decisões equivocadas de governo ou a interesses exclusivamente corporativistas predominantes em votações, tanto na Câmara dos Deputados como no Senado Federal, mercê do lobby de grupos organizados da sociedade que, muitas vezes, não priorizam o conjunto, mas o específico, o pontual. “Consolida-se o entendimento de que essa nossa ausência não nos protegerá de ameaças, enquanto a nossa participação pode, sim, construir confiança, base fundamental para qualquer projeto de futuro”, obtemperava Roberto, frisando exemplos de gestões públicas beneficiadas pela visão empresarial de alguns que foram atraídos pela política “e puderam mostrar que é possível levar o planejamento, a produtividade e a eficiência, ou seja, o DNA da iniciativa privada”.
O empresário José Carlos da Silva Júnior (in memoriam), que comandou um império a partir do Grupo São Braz, enveredando por áreas diversificadas como a Comunicação, na qual impulsionou a liderança das TVs Cabo Branco e Paraíba, foi vice-governador da Paraíba, na gestão Wilson Braga, quase disputou o governo do Estado (desistindo da ideia por não compactuar com manobras que considerava espúrias), além de ter assumido, como suplente, a titularidade no Senado, precisou vivenciar o Congresso para extrair lições da vida pública. Disse-me, certa vez, que o “crachá” de parlamentar abria-lhe portas nas esferas de poder em Brasília para encaminhar demandas de interesse da Paraíba que não teve facilidade de liberar quando era conhecido apenas como empresário, embora ocupando cargos de liderança classista. E complementava com a informação de que, no exercício do mandato, podia propor, encampar bandeiras, reforçar pautas utilitárias levadas à discussão por colegas de legislatura. Valeu-lhe o aprendizado, então, pela contribuição que pôde oferecer dentro do seu compromisso social.
Outras personalidades de destaque da Paraíba entraram na atividade política graças á visibilidade alcançada no meio empresarial e ao potencial que poderiam somar para a representatividade do Estado, principalmente no cenário nacional. Estes foram os casos dos empresários Raimundo Lira e Ney Suassuna, cujos currículos assinalam passagens alternadas pelo Congresso Nacional, com atuação preferencial no Senado, já que nenhum deles disputou deputação federal, estadual ou governo do Estado. Lira conquistou titularidade como azarão já em 1986 e na volta à cena, emergindo como suplente que ascendeu a titular, foi peça-chave no processo de impeachment de Dilma Rousseff. Ney Suassuna chegou a ocupar ministério e papel de vice-liderança de governo no Senado, popularizando-se na Paraíba como “trator” pela capacidade de atrair recursos e obras de monta para o nosso Estado. Na atualidade, Suassuna é suplente do atual senador Veneziano Vital do Rêgo e há pouco tempo ascendeu a um novo período de titularidade.
Até agora, os pré-candidatos que despontam no noticiário para o Senado, em 2022, na Paraíba, são de extração eminentemente política, sem vínculo com o meio empresarial, casos dos deputados federais Aguinaldo Ribeiro (PP) e Efraim Filho (DEM) e do ex-governador Ricardo Coutinho (PSB). Candidatos ou pré-candidatos a governador também são marcados por viés político, restando esperar o fechamento de chapas para avaliar se há, ou não, presença de expoentes da classe empresarial. No plano nacional, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta reeditar a aliança que o pôs, juntamente com o empresário José Alencar, no Planalto. Independentemente de peculiaridades que transcorrerem nas eleições de 2022, a influência do empresariado é um fato irreversível. Já está sobejamente comprovado que, com a experiência que detêm, empresários colaboram para mudar rumos e viabilizar perspectivas otimistas de futuro. É tema de reflexão inesgotável para políticos e expoentes de classes dirigentes.