Nonato Guedes
O ex-ministro da Fazenda e economista paraibano Maílson da Nóbrega, em seu blog na revista “Veja”, analisa que a “velha esquerda latino-americana não consegue modernizar-se e continua prisioneira de propostas que o tempo se encarregou de enterrar”. Para ele, tal agrupamento defende “certas políticas públicas que refreiam ganhos de produtividade, acarretam a estagnação ou o baixo crescimento da economia, geram inflação e podem agravar os níveis de pobreza e da deplorável concentração da renda”. Segundo Maílson, “é um cenário triste”.
As observações foram a propósito da eleição do novo presidente do Peru, Pedro Castillo, radical de esquerda, evangélico e filiado a um partido marxista, “uma contradição”. Castillo, a seu ver, prometeu um Estado interventor, incluindo estatizações e até expropriações, não terá maioria no Congresso, ficando, portanto, sem apoio para a prometida reforma da Constituição visando a impor um regime socialista ou medidas menos violentas. “Difícil dar certo sem uma guinada rumo a políticas responsáveis”, acrescentou. Maílson da Nóbrega lembra que a eleição de Castillo foi festejada pelos presidentes nacionais do PT e do PDT, Gleisi Hoffmann e Carlos Luppi, respectivamente.
– A esquerda latino-americana se entusiasmou com o comunismo soviético, que parecia dar certo nos anos 1930, nos tempos em que o Ocidente sofria as adversidades da Grande Depressão. Sonhava remir a pobreza com anticapitalismo e transformações conducentes a uma sociedade igualitária (e certamente totalitária). Nas décadas de 70 e 80, Cuba era o paradigma. O fracasso cubano e de experiências menos radicais, como as do chileno Salvador Allende ou do peronismo que ainda infelicita a Argentina, nunca abalou tais convicções. Essa esquerda não percebeu o insucesso da experiência soviética nos anos 1980, abandonada em 1991 em razão basicamente da ausência de estímulos à inovação – pontuou o ex-ministro.
E mais: “Aqui, essa esquerda ignora a restrição orçamentária, isto é, aa existência de limites ao gasto público. Em entrevista à “Veja”, Guilherme Boulos, do PSOL, defendeu a ruptura do teto de gastos – a âncora fiscal que impede a volta de uma funesta inflação – com o objetivo de ampliar investimentos públicos e gastos do SUS. Lula afirmou em mensagem no Twitter que revogará o teto caso seja eleito, esquecendo que a responsabilidade fiscal foi crucial para o êxito do seu primeiro mandato. Visões semelhantes sumiram da esquerda ocidental da Europa a partir dos anos 1960. Na Alemanha, o Partido Social Democrata afastou-se de ideias radicais e firmou-se como promotor de reformas e políticas econômicas responsáveis. Na Espanha e no Reino Unido, o Partido Socialista Operário Espanhol e o Partido Trabalhista, respectivamente, revogaram artigos de seus estatutos que defendiam a propriedade estatal dos meios de produção. Na Itália, o Partido Comunista se modernizou e mudou de nome”.
Maílson da Nóbrega conclui que “essas e outras agremiações da esquerda europeia jamais desprezaram o compromisso com avanços sociais, principalmente a redução de desigualdades, mas abraçaram o binômio constituído de economia de mercado e democracia”. No contraponto, como reafirma, “a velha esquerda latino-americana não consegue modernizar-se. É uma esquerda que não evolui, o que confirma o prognóstico de que o exemplo europeu não frutificou por estas bandas”.