Nonato Guedes
Entre 1998 e 2003, o empresário e político paraibano Wellington Roberto, com origens a partir do Sertão, exerceu o mandato de senador pela Paraíba, substituindo a uma legenda política, Humberto Lucena, comandante do PMDB, que havia falecido e do qual era primeiro suplente. Na eleição subsequente, Wellington Roberto preferiu não tentar uma reeleição ao Senado e candidatou-se a deputado federal pelo PTB em 2002, reelegendo-se em 2006 já pelo PL. Mantém-se na Câmara dos Deputados, preside o PL na Paraíba e agora está obstinado em fazer o filho, Bruno Roberto, que ocupou cargos em governos estaduais, o ocupante da vaga que atualmente pertence à senadora Nilda Gondim, substituta de José Maranhão, que morreu de complicações da Covid.
Em termos políticos, Wellington Roberto está fechado com a oposição ao esquema do governador João Azevêdo (Cidadania), que postulará a reeleição em 2022. A aproximação do parlamentar é com o grupo que apoia a pré-candidatura do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), do qual faz parte o PSDB liderado pelo deputado federal Pedro Cunha Lima. Wellington tem dito que a candidatura do seu filho, Bruno, a senador, é uma postulação irreversível e espera que o pré-candidato ao governo Romero Rodrigues consiga emplacá-la dentro das composições de bastidores que articula para dar capilaridade à sua própria pretensão de chegar ao Palácio da Redenção. A disputa contra o governador João Azevêdo será renhida e a oposição paraibana está fragmentada entre alas (existe a ala de Romero, a ala do ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), a ala do ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo e o grupo dos avulsos bolsonaristas, como o comunicador Nilvan Ferreira e o deputado estadual Cabo Gilberto.
Essa oposição está longe de pactuar a unidade para o pleito vindouro e, mais ainda, de definir a chapa majoritária. O elo que une Wellington Roberto a Romero Rodrigues na atual conjuntura é, sem dúvida, o apoio ao governo do presidente Jair Bolsonaro que, como se sabe, tem o respaldo do PL nacional, apesar de todo o desgaste que o mandatário enfrenta, conforme termômetro de pesquisas de opinião pública, sem falar nas ameaças de impeachment que continuam no radar, não obstante a relutância do presidente da Câmara, Arthur Lira, em fazer tramitar um pedido sequer, dos inúmeros que se acumulam naquela Casa, ainda desde a gestão de Rodrigo Maia. Em recentes declarações a emissoras paraibanas, Wellington Roberto disse que o PL é uma agremiação que cumpre acordo, cumpre palavra, e é nessa linha que vai se pautar em 2022. Já Romero é considerado um político afinado pessoalmente com Bolsonaro, de quem foi colega de legislatura na Câmara.
A oposição paraibana demonstra estar desarticulada, fato que já foi percebido pelo governador João Azevêdo, a ponto de levá-lo a provocar os adversários, chamando-os de “incompetentes”. A assertiva não ficou sem resposta e desatou manifestações de protesto que se estenderam do ex-prefeito Romero Rodrigues ao deputado estadual Cabo Gilberto. Para analistas isentos da conjuntura local, porém, o governador nada mais fez do que pôr o dedo na ferida, constatando um fato ao fazer o registro seus adversários, ainda que o tom tenha parecido desafiador ou provocativo. Em certa medida, o posicionamento do chefe do Executivo traduziu um desabafo diante das críticas a ele que subiram de tom nos últimos meses, da parte dos que não se alinham com a sua liderança política. A avaliação de interlocutores de confiança do governador é a de que o impacto de suas ações administrativas está incomodando opositores, que estão desunidos e pulverizados para a disputa do próximo ano.
A fragmentação da oposição paraibana ocorre desde a conjuntura resultante das eleições de 2018 e se dá entre grupos políticos e entre tendências ideológicas, formando uma verdadeira “Babel” para segmentos da opinião pública, principalmente aqueles que trabalham com definições homogêneas e até mesmo com cenários de polarização que produzem o enfrentamento de “cordões” políticos, sobretudo em disputas acirradas travadas em localidades do interior do Estado. Há divisões, também, entre líderes que estão em baixa e políticos em ascensão. Um dos políticos em ascensão é Nilvan Ferreira, que despontou como fenômeno nas eleições para prefeito de João Pessoa em 2020 no MDB, avançou para o segundo turno, perdendo para Cícero Lucena, e atualmente comanda o PTB como presidente do diretório estadual. No reverso da medalha, está em declínio o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), derrotado a prefeito de João Pessoa no mesmo páreo de 2020, isolado no próprio partido e mendigando espaços no PT de Lula, onde começou trajetória política que já foi promissora.
A definição do deputado Wellington pelo campo de oposição local, embora já aguardada, reforça de certo modo o bloco que se contrapõe a Azevêdo, mas há dúvidas sobre esse bloco terá cacife para bater o governador na sua tentativa de conseguir um novo mandato. A dados de hoje, o governante é favorito, tanto pelas alianças que vem consolidando, como pelo saldo de obras e serviços que vem apresentando aos paraibanos. A grande dificuldade do chefe do Executivo deve-se à inflação de postulantes a outros cargos na chapa que ele vai encabeçar em 2022, como vice-governador e senador, o que lhe exige habilidade para acomodar interesses ou pretensões. Se não houver acontecimento excepcional no meio do caminho, o gestor estará em céu de brigadeiro na campanha de 2022 – e é em cima desse dado concreto que os adversários devem costurar estratégias para tentar derrotá-lo, restando a dúvida sobre se haverá mesmo competência deles para engendrar fórmula milagrosa com vistas a tal desideratum.