Nonato Guedes
Ainda saboreando dividendos da audiência com o governador João Azevêdo no Palácio da Redenção, quando apresentou uma “pauta objetiva” e teve assegurada a restauração da celebração de convênios do Estado com o município, depois do jejum de mais uma década, o prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima (PSD) tenta, agora, envolver senadores da cidade numa mobilização mais efetiva para beneficiá-la com obras e investimentos. Campina detém, na atual legislatura, as três vagas da representação da Paraíba no Senado, ocupadas por Veneziano Vital do Rêgo e Nilda Gondim (MDB) e por Daniella Ribeiro (PP). É uma circunstância rara, histórica, que o gestor não tenciona desperdiçar.
Veneziano Vital do Rêgo é primeiro vice-presidente do Senado, tendo influência decisiva na elaboração da agenda do Congresso e no encaminhamento de demandas que, por exemplo, podem beneficiar municípios do porte de Campina Grande. Nilda Gondim, que está concluindo o mandato de José Maranhão, já firmou espaço de atuação proativa em comissões e instâncias decisórias do Congresso Nacional. Daniella Ribeiro tem se revelado uma parlamentar dinâmica e engajada nas reivindicações de interesse do Estado, carreando benefícios para Campina Grande mercê do seu prestígio em órgãos federais e instituições importantes como a Caixa Econômica Federal. Dos três, Daniella é a única alinhada com o governo do presidente Jair Bolsonaro, mas a posição de Veneziano na hierarquia do Congresso dá-lhe poder indiscutível no contexto das decisões relevantes. Nilda também é anti-Bolsonaro sem que isto afete o seu nível de mobilidade nas esferas que resolvem, em Brasília.
A representação política de Campina Grande no Parlamento se estende pela Câmara Federal, onde pontificam deputados como Pedro Cunha Lima, Wellington Roberto, Aguinaldo Ribeiro e Damião Feliciano (este, em fase de franca recuperação das complicações da Covid-19 que o levaram a se afastar das atividades legislativas por um certo período). A mulher de Damião, a vice-governadora Lígia Feliciano (PDT), embora ultimamente retraída, em parte por problemas de saúde, também tem se credenciado como figura destacada na vida pública do Estado desde que se investiu no cargo, pela primeira vez, na gestão de Ricardo Coutinho (PSB), sendo mantida por João Azevêdo (Cidadania). Na verdade, a “bancada campinense” no Congresso é maior ainda, já que deputados que representam outras regiões não deixam de contemplar a Rainha da Borborema em suas emendas ou proposituras dentro do Parlamento.
Atento a essa realidade, o prefeito Bruno Cunha Lima quer “explorar” o potencial de liderança política da cidade que governa pela primeira vez e, com isto, canalizar investimentos de monta que possibilitem a Campina Grande retomar posição-chave no contexto do interior do Nordeste. A hora é esta, no embalo dos acenos traduzidos pelo governo de João Azevêdo e na perspectiva da campanha eleitoral do próximo ano, quando políticos estarão engajados na conquista de votos por todo o Estado. A elite dirigente campinense deu-se conta do tempo que foi perdido até agora em meio a divergências políticas inócuas que comprometeram a expansão do desenvolvimento econômico e social de uma das mais progressistas cidades do Nordeste brasileiro. Quando pediu audiência ao governador, relevando a condição de adversário político dele, o alcaide da Borborema detonou um movimento destinado a ter reflexos e não a constituir-se em fato isolado e de pouca dimensão.
A receptividade demonstrada pelo governador João Azevêdo, também ele interessado em ser reconduzido ao cargo na disputa do próximo ano, motivou o prefeito Bruno Cunha Lima a ampliar o leque de alianças dentro do pacto para fazer Campina Grande recuperar espaços que, por direito, lhe pertencem, devido ao seu poderio e ao efeito multiplicador exercido pelas ações e pelos investimentos ali implementados. A incorporação de três senadores que representam diretamente a segunda maior cidade da Paraíba ao esforço pró-soerguimento de Campina é fundamental por causa do cacife que detêm no âmbito da conjuntura, tornando mais forte a voz que ecoará na defesa de pleitos inadiáveis. Campina tem sofrido duplamente, com o declínio econômico advindo da situação nacional e com os reflexos da crise econômica-social instalada no rastro da epidemia de covid-19. Eventos de dimensão como o maior São João do Mundo estão desativados há dois anos, e a sangria de receitas no município é alarmante.
A expectativa quanto à resposta do governo estadual à agenda de reivindicações formulada pelo prefeito Bruno Cunha Lima é grande, até por servir de referência para um novo modelo de gestão que é defendido e que objetiva contemplar a Paraíba como um todo, baseado no estilo republicano que gera socialização de benefícios e investimentos. A gestão pública não vai dispensar a colaboração do governo federal, com quem tem afinidades, para também consolidar parcerias produtivas, de resultados eficientes. O prefeito Bruno Cunha Lima, que escreveu, junto com o governador João Azevêdo, um novo capítulo nas relações institucionais na Paraíba, também deseja entrar na História pela capacidade empreendedora que devolva Campina Grande ao patamar de destaque no Nordeste como um dos pilares decisivos do seu próprio desenvolvimento.