Nonato Guedes
Fontes ligadas ao “staff” político do governador João Azevêdo (Cidadania) avaliam que o deputado federal Efraim Filho (Democratas) precisará demonstrar “gestos firmes” de afinidade com a liderança do chefe do Executivo para se credenciar a ter o apoio dele na disputa por uma vaga no Senado nas eleições de outubro de 2022. Ressaltam, a título de exemplo, que o parlamentar por Santa Luzia terá que ser “mais Azevêdo” e menos “Jair Bolsonaro”, até porque a campanha propriamente dita será travada nos domínios do Estado e o páreo ao Senado pode vir a ser acirrado diante de pretensões que começam a ser postas, ora no campo da direita, do centro ou da esquerda. Azevêdo comanda um esquema de forças que abriga membros da base do governo Bolsonaro, como o deputado Efraim Filho, mas, pessoalmente, o governador se situa como de centro-esquerda e virtual eleitor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) num segundo turno, ou, talvez, já no primeiro turno.
A Efraim Filho interessa e, muito, o reforço do governador à sua pré-candidatura ao Senado, pela capilaridade da máquina administrativa estadual e pela própria imagem positiva que Azevêdo vem construindo no capítulo da execução de obras e atração de investimentos para desenvolver o Estado, pontos considerados essenciais devido ao agravamento da crise econômica e social na esteira da crise sanitária ocasionada pela epidemia do novo coronavírus. Em outra frente, o chefe do governo paraibano está, indiscutivelmente, bem posicionado na corrida eleitoral para o próximo ano em relação a supostos adversários que tentam se firmar, com visíveis dificuldades, como alternativa ao titular da máquina administrativa. Na órbita do governador há outro pretendente declarado ao Senado, o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do PP, e até aqui a postura de Azevêdo tem sido conciliatória e cautelosa na acomodação de interesses.
O chefe do Executivo não tem desestimulado pretensões, tanto à vice-governança como à senatória, respeitando a autonomia dos partidos que lhe dão sustentação política e, até mesmo, a legitimidade das postulações ou ambições, por mais que algumas pareçam inviáveis dentro da perspectiva de radicalização do processo de disputa no próximo ano. Essa radicalização pode vir a ser puxada pela eleição presidencial, ante o confronto iminente entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, representando polos ideológicos claramente antagônicos. E este cenário de radicalização deverá ter desdobramentos em todo o país, contaminando as disputas estaduais e permeando o caráter das alianças locais. O que soa evidente, para interlocutores de Azevêdo, é que a sua liderança na condução do processo eleitoral deve ser acatada com naturalidade pelos que se dizem seus aliados.
Isto implica, conforme traduziu uma fonte qualificada do Palácio da Redenção, em flexibilidade para com a posição que o governador assumirá, de peito aberto, e de engajamento, na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sempre tratou o DEM e seu antecessor, o PFL, como inimigo, sendo tratado por pefelistas e democratas na mesma moeda. No “entorno” do governador paraibano há sinais de compreensão quanto à postura delicada em que se situa o deputado federal Efraim Filho diante da conjuntura para 2022, mas afirma-se que caberá ao parlamentar adotar “gestos firmes” de alinhamento com Azevêdo, que terá como prioridade a sua própria reeleição. Efraim deverá ter habilidade para minimizar envolvimento na campanha presidencial, centrando-se na disputa estadual, até porque a eleição ao Senado é em turno único. Intimamente o democrata sente que viverá sob o fio da navalha, mas também já deixou claro que sua pré-candidatura ao Senado não tem caminho de volta, de modo que necessitará mesmo de malabarismo para sobreviver até a vitória.
A postura de “flexibilidade” numa campanha eleitoral não é propriamente bicho de sete cabeças e, muitas vezes, se dilui na multiplicidade dos interesses e das composições que margeiam cenários distintos de caça ao voto. O ex-senador Efraim Morais, pai do deputado “Efraito”, foi candidato eleito em 2002 aliado ao tucano Cássio Cunha Lima, que formalmente apoiou a candidatura de José Serra à presidência da República mas, em paralelo, “liberou” a formação dos comitês Lula-Cássio em Campina Grande e outros redutos da Paraíba, dentro da estratégia de que não se recusa votos em eleição. Com Efraim já eleito, Lula tentou descredibilizá-lo por ser o mentor da CPI dos Bingos, que o líder petista, em acesso de raiva, denominou de “CPI do Fim do Mundo”. Na medida do possível, embora não abrisse mão da postura crítica ao governo Lula, o então senador Efraim buscou atalhos para não prejudicar a administração estadual junto ao governo federal de plantão.
São exemplos que estão bem nítidos para exame pelo deputado Efraim Filho como forma de balizar o seu próprio comportamento para tentar reeditar o feito do pai e conquistar uma cadeira no Senado. Um outro episódio da trajetória do ex-senador que é muito lembrado foi o fato de que, na campanha, ele praticamente “colou” em tempo integral no candidato a governador, Cássio Cunha Lima, que era o maior puxador de votos. Com isto, Efraim intentou neutralizar o “recall” do prestígio do ex-governador Wilson Braga, que disputou a vaga com ele e perdeu, em parte, também, devido ao desgaste da longevidade na vida pública. Os dois senadores eleitos naquele pleito foram Efraim Morais (PFL) e José Maranhão (PMDB), revelando tendência salomônica de parcelas expressivas do eleitorado. Agora, é só uma vaga – curiosamente a que foi conquistada por Maranhão em 2014 e que, com sua morte, ficou com a suplente Nilda Gondim. Efraim Filho tem uma base respeitável de apoios, inclusive do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), mas a sintonia com o governador João Azevêdo é imprescindível para ele adquirir condições de viabilidade na corrida eleitoral do próximo ano.