Nonato Guedes
Articulada por Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, a pré-candidatura de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, a presidente da República, nas eleições do próximo ano, não consegue empolgar forças políticas do “centro” nem se viabilizar como alternativa à polarização que se configura entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Pacheco é considerado um “ilustre desconhecido” para parcelas majoritárias do eleitorado brasileiro e também sofre restrições por ser “um candidato de gabinete”. Formalmente, ele continua filiado ao DEM e tem atuação política em Minas Gerais. Enquanto Pacheco patina, o Partido dos Trabalhadores deve concluir, esta semana, um diagnóstico da sigla, durante o qual busca mapear possíveis candidatos às eleições do ano que vem.
A presidente nacional da legenda, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), adiantou ao site “Congresso em Foco” que o PT está unido em torno do nome de Lula para a disputa ao Planalto em 2022. Na verdade, para além da unidade, existe praticamente uma unanimidade em torno das chances de Lula unir a oposição a Bolsonaro e criar condições objetivas para o desafio de voltar ao Palácio do Planalto pelo voto. O desgaste do mandatário, acentuado por índices cada vez mais crescentes de reprovação ao seu governo, reforçam a convicção de que as chances do capitão vão minguando, sem falar que ainda persistem no horizonte a ameaça do impeachment, que tem sido protelado pela Câmara dos Deputados desde a gestão Rodrigo Maia, e agora na gestão de Arthur Lira, ou até mesmo a possibilidade de cassação do mandato do presidente diante de denúncias gravíssimas que estão explodindo no âmbito da CPI da Covid.
A confirmação da candidatura de Lula ainda depende de uma decisão pessoal do ex-presidente, mas esse rito é tido como “pró-forma” porque, na prática, o líder petista já demonstrou que está motivado plenamente para enfrentar a parada eleitoral, ancorado em pesquisas de opinião pública e de intenção de voto que projetam a sua reascensão no cenário político brasileiro em alto estilo. A própria deputada Gleisi Hoffmann comenta que as recentes determinações do Supremo Tribunal Federal, anulando condenações de Lula e declarando a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro contribuíram com a recuperação da imagem do PT. De acordo com ela, tal movimento é reforçado exatamente pelas pesquisas de opinião e sondagens eleitorais que revelam a liderança do petista nas intenções de voto.
– Nós avaliamos essas pesquisas como um retrato da esperança de uma saída da crise. O legado do ex-presidente Lula é muito forte – ressalta a deputada Gleisi Hoffmann, sem disfarçar a empolgação com a conjuntura favorável à legenda, depois do inferno astral que passou por denúncias de corrupção como as do mensalão e petrolão, impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff por alegadas “pedaladas fiscais” e outras irregularidades, conforme diagnóstico do Tribunal de Contas da União, e, finalmente, a prisão do ex-presidente Lula, acusado de corrupção passiva, ficando 580 dias recolhido à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Lula, já em liberdade, foi bafejado por sucessivas decisões judiciais que culminaram até agora com a garantia de sua elegibilidade para as eleições do próximo ano. Tem dado tudo certo para o lulopetismo nesta fase da vida nacional.
Tanto assim que, ao ser questionada se o PT apostará em um processo de renovação para sair vitorioso das urnas, a presidente Gleisi Hoffmann tangenciou, falando vagamente que as propostas seguem “inovadoras”, mas o desfio maior será esclarecer a sociedade que houve um processo sistemático para minar a credibilidade da legenda. Gleisi também reforça a dimensão que deve ser dada à autocrítica que setores outrora engajados no apoio ao impeachment de Dilma Rousseff e na eleição de Jair Bolsonaro passaram a fazer. “Esse pessoal está vendo o problema e a enrascada em que o país se meteu”, analisa Hoffmann, acrescentando que com o acirramento da crise sanitária e as crises políticas nos país as conversas com os demais partidos de esquerda se tornaram mais frequentes. Ainda assim, a costura de alianças para 2022 ainda deve aguardar o resultado do Raio X em andamento.
A respeito das articulações em torno de uma “terceira via” ao Planalto, a presidente do PT é enfática: “Eles até agora não conseguiram achar nem um nome, nem um programa, um projeto para o país. O problema está com eles”. Rodrigo Pacheco emitiu nota na segunda-feira dizendo que não discutirá agora o processo eleitoral, o que só confirma as versões de que, se for oficializado, ele será um “candidato de gabinete”, distante do calor das ruas. “Meu compromisso é com a estabilidade do país, e isso exige foco nos muitos problemas que ainda temos em 2021”, afirmou a nota de Pacheco. O presidente do Senado se aproxima do PSD num momento em que o partido tem sido defenestrado do governo federal. Atribui-se o “despejo” do PSD a uma retaliação a movimentos de Gilberto Kassab contra Bolsonaro e seu projeto de reeleição. Nos meios políticos, a pretensão de Pacheco não é levada a sério, enquanto se diz que a pré-candidatura de Lula cresce como “pão-de-ló”.