Em uma manobra para evitar a derrota da Proposta de Emenda à Constituição que estabelece o voto impresso nas eleições a partir do próximo ano, deputados bolsonaristas conseguiram adiar a votação, prevista para ontem, na Comissão Especial da Câmara que analisa o assunto, do parecer do relator, deputado Filipe Barros (PSL-SP). A rejeição do parecer, favorável à impressão do voto, era vista como certa, e aliados do governo fizeram muitas tentativas para adiar a votação. O presidente da comissão, Paulo Eduardo Martins (PSC-PR), convocou nova reunião, para o dia cinco de agosto. A reunião foi encerrada após Martins ter atendido ao pedido do relator de mais tempo para fazer uma alteração no parecer.
Mesmo assim, deputados contrários ao voto impresso, e que são maioria na comissão, tentaram retomar a reunião ainda ontem, a fim de votar o relatório. Foi protocolado um requerimento com 20 assinaturas (mais da metade da composição do colegiado, de 34 membros), mas o presidente da comissão se manteve irredutível sobre a data da próxima reunião, a cinco de agosto. A impressão do voto é uma das bandeiras do presidente Jair Bolsonaro, que costuma lançar suspeitas de fraude em relação ao voto eletrônico, sem nunca ter apresentado provas de qualquer irregularidade. Os presidentes de 11 partidos políticos, incluindo legendas aliadas ao governo, já se manifestaram contrários à proposta e defenderam que o atual sistema eleitoral é confiável e que mudar as regras do jogo, a essa altura, poderia gerar incertezas no processo.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luís Roberto Barroso, também é categoricamente contra. Em audiência na Câmara, em junho, o ministro disse que o modelo vai diminuir a segurança da votação, provocar judicialização do pleito e elevar custos – a estimativa para a adaptação é de mais de R$ 2 bilhões. Também aliado do governo, Paulo Eduardo Martins presidia a sessão virtualmente e encerrou a reunião antes de ouvir os demais integrantes. Deputados contrários ao voto impresso alegam que a previsão não é regimental, uma vez que já havia acabado o prazo para alterações. A convocação da reunião de ontem se deu após pressão da maioria dos membros do colegiado, uma vez que o presidente da comissão se reucusava a convocar sessões diante da expectativa de derrota do relatório.