Nonato Guedes
Além de prenunciar-se como expressiva, a renovação de bancadas na Assembleia Legislativa da Paraíba e na Câmara Federal contará, em posição de destaque, com expoentes da recente eleição municipal para prefeito e vice-prefeito, que tenham sido vitoriosos ou derrotados nas urnas de 2020, as primeiras sob a égide de uma pandemia no Brasil. O comunicador Nilvan Ferreira, que disputou a prefeitura de João Pessoa e teve performance surpreendente, avançando para o segundo turno, é nome forte do PTB para deputado federal. Da mesma forma, o deputado federal Ruy Carneiro (PSDB), que ficou em terceiro lugar no páreo pessoense, ganhou maior visibilidade e deverá ter votação reforçada na reeleição, conforme os analistas políticos.
Outros nomes remanescentes da disputa do ano passado, mesmo tendo sido alçados a cargos executivos, vão tentar vagas em Brasília nas eleições de 2022, casos do vice-prefeito de Campina Grande, Lucas Ribeiro (PP), filho da senadora Daniella Ribeiro, e do vice-prefeito de Cabedelo, Mersinho Lucena, também do PP, filho do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena. A secretária de Estado Ana Cláudia Vital do Rêgo, esposa do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que ficou em segundo lugar como candidata a prefeita de Campina Grande, é nome com chances para a deputação federal. Ela precisará definir apenas a filiação partidária, já que está de saída do “Podemos” depois de mudanças feitas no comando paraibano sem a sua consulta ou aquiescência. Poderá migrar, inclusive, para o partido que ficou sob o controle do seu marido, sucedendo ao senador José Maranhão, vítima de complicações da Covid.
A bolsa de apostas para as eleições proporcionais do próximo ano envolve outros nomes como o do deputado estadual Tovar Correia Lima, que cobiça vaga na Câmara, Murilo Galdino, do Avante, irmão do presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino (PSB), e o deputado estadual Ricardo Barbosa (em vias de migração do PSB e que vem montando respeitável estrutura de apoio para concorrer à Câmara Federal). No Cidadania, partido do governador João Azevêdo, especula-se a candidatura de Ronaldo Guerra, presidente do diretório estadual, a deputado federal, e no PV é referido o nome do ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, que corteja, também, a hipótese de ser candidato a governador. As chapas para as eleições proporcionais e majoritárias do próximo ano tendem a privilegiar interesses familiares de “clãs” que são ‘donos’ de legendas no Estado, um fenômeno que não faz diferenciação ideológica, podendo verificar-se tanto na direita como na esquerda.
Alguns casos de ascensão de novos nomes do cenário político estadual na hierarquia parlamentar serão facilitados pela mudança de rumos e de pretensões de figuras já carimbadas da cena local. Pelo menos dois deputados federais de destaque – Aguinaldo Ribeiro, do Progressistas, e Efraim Filho, do Democratas, anunciam-se pré-candidatos ao Senado, disputando a única vaga que estará em jogo para essa Casa, abstraindo as duas respectivas suplências. Efraim garante ter o apoio de mais de uma centena de prefeitos municipais, não apenas do DEM, mas de outros partidos, além de contar com a adesão declarada do senador Veneziano Vital do Rêgo, presidente estadual do MDB. O apoio de Veneziano a Efraim exclui, em tese, o lançamento da candidatura do ex-governador Roberto Paulino a senador, mas o líder guarabirense pode vir a constar na primeira suplência de senador. Quanto a Aguinaldo, ele já ganhou acenos favoráveis do governador João Azevêdo, cujo apoio também é cortejado por Efraim Filho.
Ao não se candidatar a deputado federal, preferindo lançar o irmão Murilo, o presidente da ALPB, Adriano Galdino, corta, em parte, uma tradição que alcança dirigentes da Casa de Epitácio Pessoa. O último deles, Gervásio Maia, foi eleito em 2018 deputado federal e pretende concorrer à reeleição, mesmo diante de rumores de que sua situação não seria das melhores. No caso de Adriano Galdino, porém, há uma justificativa plausível: ele não tem planos, mesmo, de concorrer à Câmara, apostando fichas, nos bastidores, na sua indicação para candidato a vice na chapa de João Azevêdo à reeleição. Há deputados que estão no primeiro mandato e aparentemente ganharam capilaridade, como Julian Lemos, do PSL, que deixou de ser aliado número um do presidente Jair Bolsonaro e está alinhado politicamente com o governador João Azevêdo. Os políticos avaliam tais cenários alegando que “cada caso é um caso”.
Para além das alterações pontuais que acabam produzindo a dança de cadeiras nas bancadas federal e estadual da Paraíba, há um fator que tende a “turbinar” financeiramente as campanhas eleitorais em 2022 no país: o aumento do chamado “Fundão” – cujo valor de R$ 5,7 bilhões, rateado entre diferentes legendas, foi aprovado debaixo de muita controvérsia e “queimação” de representantes do povo na mídia. O valor aprovado, no bojo da discussão do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2022, equivale ao triplo do que foi destinado em 2018 e 2020, quando o Fundo era estimado em R$ 2 bilhões. Por mais que a repercussão tenha sido extremamente negativa do ponto de vista da opinião pública, até por causa da crise econômica que assola o país na conjuntura de pandemia, deputados que votaram favoravelmente não temem vir a ser penalizados nas urnas. Quem vai dizer isto, com nitidez, é o mapa eleitoral do próximo ano. Em tempo: da Paraíba, apenas dois deputados votaram contra o texto da LDO com reajuste: Gervásio Maia (PSB) e Frei Anastácio Ribeiro (PT).