O senador Fernando Bezerra Coelho, do MDB-PE, confirmou a ida do senador Ciro Nogueira, do PP-PI, para a Casa Civil, no lugar do ministro Luiz Eduardo Ramos. Ainda de acordo com o líder, a escolha visa a melhorar a interlocução do governo com o Senado, Casa que passou a ser vista com ressalvas pelo presidente Jair Bolsonaro desde a instalação da CPI da Covid. Bezerra ainda avaliou: “Excelente escolha! Tem experiência e é muito articulado no Senado e na Câmara dos Deputados. Certamente vai melhorar a relação do Senado com o governo e amplia o apoio do governo”.
Fontes do Planalto consideram que a escolha de Bolsonaro também pode ser um indicativo de que o presidente se filiaria ao PP, partido do qual Ciro é presidente. Atualmente o PP também o controle do orçamento de R$ 11 bilhões de reais, através do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL). A mudança ministerial ocorre antes das sabatinas no Senado da indicação de André Mendonça para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal. O senador Humberto Costa, do PT-PE, opinou que a escolha de Ciro Nogueira “evidencia o enfraquecimento do governo Bolsonaro e o fortalecimento do Centrão”. E explicou: “O que ocorre é que o governo está terminando de se entregar para o Centrão, que está prestes a coordenar todas as principais áreas. Mostra um enfraquecimento muito grande”. Ciro é integrante da CPI da Covid.
Ainda de acordo com o petista, a jogada do governo também pode ser entendida como uma estratégia para frear os processos de impeachment, uma vez que Ciro mantém bom trãnsito nas duas Casas, inclusive entre os opositores. Entre os parlamentares com quem Nogueira tem boa relação estão o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), e o relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL). Humberto rechaça, porém, uma tentativa de interferência na comissão. “Não acho que muda e não adianta tentar interferir na CPI”, advertiu. Ao escolher Ciro, segundo o site “Congresso em Foco”, Bolsonaro leva para a pasta um nome e um partido que acumulam uma extensa lista de investigações e processos, inclusive no Supremo Tribunal Federal.
Contra Ciro Nogueira, há dois inquéritos na Suprema Corte. Um deles, aberto em março de 2017, investiga a participação do parlamentar no esquema de pagamentos de propina pela construtora Odebrecht (hoje Novonor) entre os anos de 2014 e 2014. O senador e o assessor dele, Lourival Ferreira Nery Júnior, são acusados de terem ido até São Paulo receber R$ 6 milhões da empreiteira em troca de apoio político. O caso, que tem relatoria do ministro Edson Fachin, ainda está em fase de instrução, onde são ouvidas as partes. Em outro processo, que data de junho de 2018, o objeto de investigação é o recebimento de R$ 2 milhões em propina da construtora UTC. Neste inquérito, Ciro é acusado de obstruir as investigações, junto com o também deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) e o ex-deputado federal Márcio Henrique Junqueira Pereira. O caso é julgado pela Segunda Turma do STF desde 2018. O relator Edson Fachin votou por receber a denúncia e foi apoiado por Cármen Lúcia, para quem “há indícios suficientes de terem sido praticados atos concretos de embaraçamento da investigação criminal, que envolve organização criminosa, dirigidos contra testemunha-chave nas investigações”. O julgamento foi suspenso para vista do ministro Gilmar Mendes, que devolveu o caso apenas este ano. O advogado de Ciro, Antônio Carlos de Almeida Castro, o “Kakay”, buscou minimizar as denúncias em nota divulgada ontem, quando apresentou a versão da defesa.