Nonato Guedes
Avalia-se nos meios políticos que a nomeação do ex-governador Roberto Paulino para secretário de Governo na gestão João Azevêdo (Cidadania) foi simbólica da entrada oficial do MDB no esquema liderado pelo chefe do Executivo e que a perspectiva é de desdobramento na ocupação de espaços, tanto em outras pastas estratégicas como no esboço da chapa majoritária que Azevêdo vai encabeçar nas eleições de 2022 como candidato ao Palácio da Redenção. O senador Veneziano Vital do Rêgo, que se investiu plenamente no comando do MDB no vácuo da morte do senador José Maranhão, é o artífice da luta por maior valorização da legenda desde que anunciou o compromisso de apoio à governabilidade de Azevêdo e ao seu projeto de recandidatura no próximo ano.
Já há algum tempo cogita-se o nome da secretária Ana Cláudia Vital, esposa de Veneziano, para compor a chapa de João a um novo mandato, no papel de candidata a vice-governadora, substituindo Lígia Feliciano (PDT) que integrou a composição feita em 2018. Ana Cláudia foi candidata a prefeita de Campina Grande no pleito do ano passado, ficou em segundo lugar e teve o apoio declarado do governador João Azevêdo, quando Veneziano ainda ultimava os entendimentos para retornar aos quadros do MDB, abandonando as hostes do PSB. Seu nome é lembrado, também, para candidata a deputada federal, mas a hipótese de sua inclusão como candidata a vice-governadora tem apelo mais forte para Veneziano e para o MDB. Neste caso, a esposa do senador teria que oficializar ingresso na legenda e desfazer quaisquer vínculos com o “Podemos”, pelo qual concorreu à prefeitura campinense em 2020. Essas tratativas já estão sendo aceleradas.
O senador Veneziano Vital do Rêgo, ao assumir a presidência do diretório emedebista, dividindo espaço de comando com o “clã” Paulino – o ex-governador Roberto e seu filho, o deputado estadual Raniery – tinha consciência do desafio pela frente que é o de reestruturar a agremiação e fortalecê-la para tentar voltar a ocupar espaço de destaque no cenário político paraibano. Conquanto tenha experimentado sinais de revigoramento na eleição a prefeito de João Pessoa, quando o seu candidato Nilvan Ferreira logrou ir para o segundo turno contra Cícero Lucena, o MDB paraibano estava empacado em termos de vitalidade ou de oxigenação, comparado com as fases áureas que vivenciou na história política paraibana, elegendo governadores, senadores, deputados federais, estaduais, prefeitos e vereadores. Maranhão parecia o comandante do bloco do “Eu Sozinho”, tendo surpreendido a muitos com o lançamento de Nilvan, convertido em fenômeno nas urnas. Mas o próprio Nilvan já se descolou do MDB com a entrada de Veneziano por não concordar com o alinhamento ao governo Azevêdo. O ex-candidato está abancado, hoje, no PTB, cujo diretório regional preside.
Veneziano está tendo, praticamente, que começar do zero o processo de reestruturação emedebista a que se propôs. Agiu, estrategicamente, de forma correta, em tese, ao se aliar ao esquema do governador João Azevêdo, que se reveste de inegável capilaridade e que acena com reflexos colaterais favoráveis na esteira de um pacote de obras e investimentos que começa a ser desembrulhado em meio às incertezas da conjuntura, agravadas pela crise sanitária decorrente da pandemia de coronavírus. O governador, é claro, tem uma vasta rede de apoios, distribuída entre outros partidos, e tem interesse natural em fortalecer o seu próprio, o Cidadania, que lhe deu guarida após a tempestade que inviabilizou sua permanência no PSB na companhia do ex-governador Ricardo Coutinho. Mas João tem, segundo analistas políticos, a compreensão da necessidade de valorizar o “condomínio partidário” que lhe dá sustentação, e por isso é que se esmera na repartição salomônica de espaços com os aliados incondicionais.
O senador emedebista teria todas as credenciais para se candidatar ao governo nas eleições do próximo ano. Aliás, perseguiu esse sonho por muito tempo quando militava no então PMDB e despontava como liderança política emergente baseada a partir de Campina Grande, onde por duas vezes assumiu a prefeitura. Foi prejudicado em pretensões maiores pelo próprio personalismo de Maranhão, que tomou o partido nas mãos após a cisão que originou a saída do grupo Cunha Lima, também de origens campinenses. Maranhão foi sucessivas vezes candidato a governador, não vacilando mesmo confrontado com derrotas experimentadas, após ter sido ungido tríplice coroado no Executivo paraibano. Abriu espaço em 2014 para Vital do Rêgo, irmão de Veneziano, que não fez uma campanha instigante ou estruturada capaz de levá-lo ao segundo turno. Nada disso foi obstáculo para o retorno de Veneziano à legenda.
Só que, nesse processo de reestruturação que ele busca empalmar para fortalecer a agremiação e se credenciar no jogo político, Veneziano tem que dispor de quadros tarefeiros valiosos que restaurem o predomínio do MDB, pelo menos, nos principais colégios eleitorais do Estado, de João Pessoa a Cajazeiras. A promessa de deflagração de uma campanha massiva de filiações às fileiras emedebistas ainda é uma miragem, e o partido precisa demonstrar força, principalmente, nos dois maiores colégios – João Pessoa e Campina Grande, no primeiro caso até para recompor o espaço que foi pelos ares com a defecção de Nilvan Ferreira, o ex-candidato a prefeito fenômeno de 2020 na Capital. É um trabalho hercúleo, que testará novas habilidades de Veneziano, mas ele pode ser ajudado no desafio pela mística da legenda, que reinou por mais de uma década no cenário de poder local.