Nonato Guedes
O Partido Progressistas, que é presidido na Paraíba pelo ex-deputado Enivaldo Ribeiro, tendo como estrelas a senadora Daniella, o deputado federal Aguinaldo e o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, vive, hoje, um impasse para conciliar palanques distintos a nível estadual e a nível nacional nas eleições de 2022. No plano local, o PP ensaia aproximação com o governador João Azevêdo (Cidadania), que é candidato à reeleição, e põe na mesa, para exame, a pré-candidatura de Aguinaldo Ribeiro ao Senado. No plano nacional, o PP acaba de ganhar espaço de destaque no governo Jair Bolsonaro, com a nomeação do seu presidente, senador Ciro Nogueira (PI) para a Chefia da Casa Civil, pasta estratégica no organograma de poder. Poderá vir a contar com a própria filiação de Bolsonaro à legenda, o que seria um retorno, já que, como deputado, o capitão militou na sigla, que hoje é tida como símbolo do “Centrão” na Câmara Federal.
A conciliação entre os palanques de Azevêdo e de Bolsonaro é complicada porque o governador paraibano faz oposição política ao presidente da República e já declarou preferência, e possibilidade de apoio, à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT), talvez já no primeiro turno, diante da hipótese remota de candidatura própria do “Cidadania” ao Planalto. O chefe do Executivo, inclusive, durante reunião com a cúpula nacional do seu partido, representada por Roberto Freire, pediu liberdade para se posicionar na sucessão presidencial no Estado levando em conta suas próprias afinidades e peculiaridades da conjuntura local. Azevêdo, embora não tenha sido retaliado em termos administrativos por Bolsonaro, não tem fácil canal de interlocução com o mandatário, que, certa vez, durante reunião ministerial, soltou uma inconfidência em que hostilizava “esses governadores de paraíba”, na verdade uma referência a governadores do Nordeste que não são alinhados da gestão federal.
Mas a presença, na base do governo João Azevêdo, de parlamentares bolsonaristas, facilita a relação administrativa entre o Planalto e o Palácio da Redenção, o que foi reforçado, de forma emblemática, com a nomeação do cardiologista paraibano Marcelo Queiroga para a Pasta da Saúde. Ministros de Bolsonaro desembarcam com regularidade em nosso Estado, trazendo obras e ordens de serviço ou anúncios de investimentos, e, quando possível, comparecem a Palácio para assinar convênios. O próprio Marcelo Queiroga chegou a comandar, do Palácio da Redenção, uma videoconferência com governadores de outros Estados para discutir questões ligadas à vacinação contra a covid-19. Bolsonaro, porém, não tem diálogo com João Azevêdo. Até há pouco tempo seu interlocutor preferido era o então prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), que chegou a se lançar pré-candidato ao governo do Estado pela oposição. Há outros bolsonaristas como o deputado Cabo Gilberto e o deputado Wallbber Virgolino ou o comunicador Nilvan Ferreira (PTB). No reverso da medalha, ex-bolsonaristas como o deputado federal Julian Lemos aproximam-se do governador paraibano.
O PP paraibano, é claro, comemorou a nomeação do seu presidente nacional Ciro Nogueira para ministro-chefe da Casa Civil de Bolsonaro. A senadora Daniella Ribeiro foi feita líder do partido na Casa com o aval direto de Nogueira, que também demonstrou consideração em relação a outras pretensões do mandato da parlamentar. O deputado Aguinaldo, se não chega propriamente a se dar muito bem com o presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, tem espaços junto a Nogueira, da mesma forma como o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena. Os fatos que estão se sucedendo nos meios políticos em Brasília, com a hipótese de Bolsonaro assinar ficha no PP, paralisaram discussões preliminares de estratégias políticas para eleições estaduais em 2022. As expectativas, naturalmente, estão concentradas nos desdobramentos que a conjuntura nacional ainde poderá ter, a partir de movimentos ensaiados pelo presidente Bolsonaro, que atualmente está sem partido.
Em algumas áreas políticas paraibanas afirma-se que a provável filiação de Bolsonaro ao PP poderá levar o partido, na Paraíba, a decidir apostar fichas na candidatura da senadora Daniella Ribeiro ao governo do Estado em 2022. Essa candidatura, na verdade, tem sido cogitada desde que Daniella, surpreendendo a alguns analistas, protagonizou feito memorável em 2018, tornando-se a primeira senadora eleita na história da Paraíba. Na sequência, o PP foi conquistando espaços no Estado, como a prefeitura de João Pessoa, em 2020, e a vice-prefeitura de Campina Grande, ocupada por Lucas Ribeiro, filho da senadora Daniella. Para chegar a tanto, o PP investiu na autonomia – em Campina, por exemplo, aliou-se ao PSD de Romero Rodrigues, que é adversário de Azevêdo. Talvez esse ecletismo leve o governador a reflexões sobre durabilidade de alianças políticas em pleitos diferentes.
Seja como for, o PP paraibano precisará ter habilidade de sobra para não desperdiçar oportunidades que estão se abrindo à sua frente. Claro que o “clã” Ribeiro e o prefeito Cícero Lucena vão tirar proveito, ao máximo, da linha direta com a Casa Civil da presidência da República na figura de Ciro Nogueira. Mas no ano eleitoral propriamente dito, o de 2022, a decisão será entre abandonar Bolsonaro para fechar com Azevêdo em troca do apoio a uma candidatura do deputado Aguinaldo Ribeiro ao Senado. Ou, então, tudo se decidirá com liberação de palanques nos Estados para que partidos como o PP possam ter vantagem em causa própria. É por isso que as decisões serão empurradas com a barriga mais para a frente, o que coincidirá com definição de regras mais claras para o jogo eleitoral vindouro. Este último ponto, como tem sido reiterado, é o que mais interessa ao governador João Azevêdo para construir sua própria estratégia, situando-se entre as forças políticas paraibanas. Resta reconhecer que o PP está cacifado – e, muito, para as eleições do próximo ano.