O governador do Piauí, Wellington Dias, do PT, que preside o Consórcio Nordeste, grupo que reúne os Estados da região, afirmou, em entrevista à “Veja”, que a pressão dos governadores acelerou a vacinação contra a Covid-19 no país, “uma bem-sucedida contraposição à política do governo federal, que avalio como desastrosa”. Dias é descrito pela revista como um petista moderado, muito próximo a Luiz Inácio Lula da Silva e que não esconde o entusiasmo diante da perspectiva de o PT voltar ao Palácio do Planalto em 2023. Não obstante, considera que ainda não há provas suficientes para iniciar uma ação de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, e critica a banalização do instrumento, embora seu partido tenha sido um dos signatários do mais recente pedido de impedimento.
Sobre a pandemia, o governador foi enfático: “Ninguém pode negar que tivemos uma tragédia no Brasil. Cito um dado apenas: o Brasil tem 2,7% da população mundial e já alcançou mais de 13% do número de óbitos do mundo. O Brasil tem cerca de quatro vezes mais óbitos do que a proporção de sua população. É uma tragédia. Não seguir a ciência a ciência levou a essa tragédia. Não ter monitoramento, não ter a compra de insumos, não ter plano para prevenção e tratamento, não fazer a compra de vacina quando teve oportunidade, tudo isso junto levou a esse resultado desastroso”. Indagado se Bolsonaro teria deixado de fazer isso deliberadamente para matar as pessoas, respondeu: “Precisa ser analisado se o objetivo era causar as mortes ou se tinha mesmo alguém que acreditava que a propagação do vírus era uma forma de se livrar rápido do problema. A ciência negou isso o tempo inteiro. Se houve mesmo incentivo à propagação do vírus para se livrar da pandemia, foi uma política genocida. Vamos esperar o resultado da CPI do Senado”.
Ao avaliar o governo Bolsonaro, Wellington Dias frisou que, além dos problemas no combate à pandemia, o que é necessário, hoje, na política, é o diálogo. “Na área econômica não é possível acreditar apenas no livre mercado. Há necessidade de ter um plano, uma presença forte do governo estimulando o setor privado para que a gente tenha chance. O país está dependendo das commodities muito mais do que antes. Commodities que, sob o ponto de vista econômico, geram crescimento, mas não muito emprego e renda. Também estamos estragando nossas relações internacionais, metendo-nos o tempo todo em assuntos impróprios. A imagem do Brasil no exterior é péssima, especialmente por causa da política ambiental, da questão indígena, da forma como tratamos a segurança. O armamento vai na contramão da história. Em resumo: o governo é muito ruim”.
Wellington Dias prossegue: “Temos uma situação tão grave no Brasil que devemos priorizar o diálogo. Lula se coloca como alternativa pela sua reconhecida capacidade de dialogar, ouvir e tolerar. Há a necessidade de alguém com experiência democrática, alguém empenhado em fortalecer as instituições que foram atingidas nesse período. Há a necessidade de criar uma política de pacificação dentro do país, aliada a um plano que possa fortalecer a economia, gerar emprego e renda”. O governador do Piauí considera que Lula foi violentamente injustiçado nas denúncias de corrupção e nas punições adotadas pelo ex-juiz Sergio Moro, incluindo a pena de prisão. Disse que de 17 processos “armados” para Lula e outros líderes, 14 já foram arquivados. “O que houve, na verdade, foi uma estratégia política coordenada por Moro, que se tornou ministro do governo que ajudou a eleger com pretensões de ir ao Supremo. Eu sempre disse que a Lava-Jato era uma ação contra os líderes políticos e empresariais. Nós vamos defender o combate à corrupção, que ainda é grave no Brasil. Mas não dessa maneira”.
Finalmente, na entrevista à “Veja”, o presidente do Consórcio Nordeste assim comentou o impeachment de Bolsonaro: “Compreendo que a democracia prevê a figura do afastamento de um presidente da República, mas não podemos banalizar o instrumento do impeachment. Ou existe uma prova concreta, robusta, ou temos que respeitar a soberania da vontade popular. No caso de Bolsonaro, na minha opinião, ainda não há uma comprovação que permita o impeachment. Não duvido que venha a surgir. Se tiver desvios, especialmente neste caso da Covaxin, aí muda tudo. Se o remédio necessário for o impedimento, vamos usar. Mas não podemos levar o país a aventuras”.