Nonato Guedes
Uma reportagem do site “Congresso em Foco” traduz a rotatividade frenética que tem ocorrido no ministério do presidente Jair Bolsonaro neste primeiro mandato por ele empalmado. O texto, do jornalista Guilherme Mendes, informa que a indicação do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a chefia da Casa Civil desatualizou, ainda mais, a foto de Jair Bolsonaro tirada após a posse dele, em 2019, junto com a equipe com a qual iniciou o governo. Dos vinte e dois ministros que aparecem ao lado de Bolsonaro, onze deixaram de integrar a equipe com que o governo foi empossado, alguns deles tornando-se desafetos públicos do presidente. No momento, diz-se que o governo foi “terceirizado” para o Centrão, um agrupamento fisiológico de forte influência na Câmara, conhecido pelo estilo do “é dando que se recebe”.
Conforme a recapitulação feita na matéria, Sergio Moro, um dos nomes mais populares da primeira formação do gabinete, deixou o Ministério da Justiça e Segurança Pública em abril de 2020, acusando o presidente Bolsonaro de interferir em investigações da Polícia Federal, quebrando a autonomia daquela instituição. Outro exemplo de mudança de campo é o general Santos Cruz, primeiro chefe da Secretaria do Governo. Hoje Santos Cruz faz críticas recorrentes ao governo Bolsonaro, inclusive nas redes sociais. O médico Luiz Henrique Mandetta, apesar de bem avaliado pela opinião pública durante o período que conduziu o Ministério da Saúde, deixou a pasta no ano passado. Desde então, tornou-se uma das principais vozes indicativas de erros na forma como o governo tem lidado com a pandemia da covid-19. Também é possível citar na lista dos ex-aliados o nome de Gustavo Bebianno, que morreu com a mágoa da relação abalada com Bolsonaro, quase um ano depois de deixar um cargo no Planalto.
A entrada de Ciro Nogueira no governo faz dele o quarto ministro da Casa Civil durnte a gestão Bolsonaro. Esse cargo já foi ocupado por Onyx Lorenzoni e pelos generais Walter Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos, fazendo com que a Casa Civil, pasta que coordena e integra as ações presidenciais, mantenha uma rotatividade semelhante apenas à do Ministério da Saúde durante o período Bolsonaro. O recordista de mudanças, no entanto, é o posto da Secretaria-Geral da Presidência da República, que teve cinco ministros desde 2019 (Gustavo Bebianno, Floriano Peixoto Vieira Neto, Jorge Oliveira, Onyx Lorenzoni e Luiz Eduardo Ramos). Outros ministérios também computaram alta rotatividade: o Ministério da Educação teve três nomes à frente da pasta (Ricardo Vélez-Rodriguez, Abraham Weintraub e Milton Ribeiro), assim como o Ministério da Justiça e Segurança Pública, que desde abril do ano passado foi comandado por Sergio Moro, André Mendonça e Anderson Torres.
Enquanto isso, a Saúde está no quarto ministro desde o início da pandemia em março do ano passado. Por lá passaram Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich, general Eduardo Pazuello e, agora, o cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, que assumiu o desafio de acelerar o Plano Nacional de Imunização contra o novo coronavírus, compensando graves omissões que haviam sido cometidas até então pelo governo de Bolsonaro. Onyx Lorenzoni, deputado eleito pelo Rio Grande do Sul e próximo de Bolsonaro desde antes da eleição do presidente em 2018, é um dos que mais ocupou cargos na Esplanada. Ele foi chefe da Casa Civil no primeiro mês de mandato, depois migrou para o Ministério da Cidadania e, em seguida, ocupou a Secretaria-Geral da Presidência. Hoje ocupa a pasta de Emprego e Previdência, desmembrada da Economia para que o Palácio do Planalto acomodasse o nome de Ciro Nogueira, que é presidente nacional do Partido Progressista.
Oito ministros permanecem em seus cargos desde o primeiro dia: Paulo Guedes, da Economia, Bento Albuquerque, das Minas e Energia, Marcos Pontes, da Ciência, Tecnologia e Inovações, Tereza Cristina, da Agricultura, Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, Wagner Rosário, da Controladoria-Geral da União, Tarcísio Gomes de Freitas, da Infraestrutura, e Damares Alves, da Pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos. Já André Mendonça, que ocupa o cargo de advogado-geral da União, está numa categoria singular de ministro que voltou a ocupar o mesmo cargo depois de ser designado para outra função. Em abril de 2020, Mendonça foi alçado ao comando do Ministério da Justiça e Segurança Pública no lugar de Sergio Moro. Acabou por retornar à AGU neste ano, no lugar de José Levi, que o substituiu. O próprio Mendonça pode engrossar a lista no segundo semestre, caso sua indicação ao Supremo Tribunal Federal seja aceita pelo Senado Federal.
Na mesma foto, há quatro militares que iniciaram o mandato em cargos de ministro: além de Heleno, Santos Cruz e Bento Albuquerque, está o general Fernando Azevedo e Silva, que comandou a pasta da Defesa até março deste ano. Apesar das constantes mudanças, Bolsonaro mantém quatro militares no grupo de ministros: Bento, que é almirante da Marinha e o general Heleno se mantiveram, ganhando a companhia de Braga Netto (hoje na Defesa) e Luiz Eduardo Ramos, colega de Jair Bolsonaro, cuja amizade remonta à formação militar de ambos. A reportagem do “Congresso em Foco” mostra que, apesar do discurso recorrente do governo de diminuição da máquina pública e de descentralização do poder, desde que iniciou o mandato, há 939 dias, Bolsonaro já criou dois ministérios. No ano passado, ressurgiu o Ministério das Comunicações, ocupado de maneira contínua pelo deputado Fábio Faria (PSD-RN) e nesta semana foi a vez da Previdência, para abrigar Onyx Lorenzoni.