Nonato Guedes
O cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, ministro da Saúde do governo Jair Bolsonaro, que tomou posse no cargo em 23 de março, no momento mais crítico da pandemia de coronavírus, garantiu em entrevista às páginas amarelas da revista “Veja”, na última edição, que as denúncias de irregularidades envolvendo tratativas para aquisição de imunizantes pela Pasta são casos da gestão anterior, chefiada pelo general Eduardo Pazuello, não do seu período. Salientou ter afastado todos os servidores sob suspeita, mas evita criticar diretamente Pazuello. As denúncias estão ganhando repercussão devido a investigações feitas pela CPI da Covid, instalada pelo Senado Federal, e que tem sido duramente fustigada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro.
O jornalista Reynaldo Turollo Jr. que entrevistou Marcelo Queiroga para “Veja” classifica o ministro como hábil no campo político e informa que ele foge de bolas divididas com o presidente Bolsonaro. Indagado por que decidiu trocar uma carreira bem-sucedida na cardiologia para entrar no governo no pior momento de uma pandemia, o paraibano respondeu: “Era uma convocação que eu recebi do presidente da República para ajudar o meu país num momento de muita dificuldade sanitária. Isso é muito mais do que um desafio, é um compromisso que um médico tem com a própria idealização do que é a nossa profissão, uma profissão que tem princípios milenares, entre eles o da beneficência, ajudar aqueles que precisam”. Para ele, o país está diante de uma situação excepcionalíssima.
E esclarece: “Sabia-se muito pouco a respeito desse vírus e do impacto sobre a saúde das pessoas. Nós temos o sistema público de saúde, de acesso universal, e que é muito capilarizado, mas que padecia de muitas vicissitudes. Dentro de um contexto como esse, quando o sistema é pressionado, sobretudo em relação à assistência especializada, os resultados de óbitos em hospitais são um pouco elevados”. Ele tangenciou quando questionado se não houve falhas evidentes na programação de compras antecipadas de vacinas. “Eu não tenho que responder a isso porque eu não era ministro da Saúde à época”. Marcelo Queiroga não concorda com o rótulo de negacionista atribuído ao presidente Jair Bolsonaro pelos seus críticos.
Para ele, “o presidente tem trabalhado não só para assegurar a assistência à saúde, mas também para fazer com que as pessoas tenham condições de trabalho. Ou seja, o presidente sempre disse que era necessário conciliar o enfrentamento à pandemia com a questão da economia, e é por isso que o Brasil, ao contrário do que muitos previam, não foi dos países que foram tão mal assim em relação ao aspecto econômico”. Marcelo Queiroga confirmou que está sendo feito um estudo sobre a possibilidade de fim do uso obrigatório de máscaras de proteção, conforme pedido do presidente Jair Bolsonaro. A tarefa está sob a responsabilidade da área competente do Ministério da Saúde e, de acordo com Queiroga, tem a ver com o que o presidente percebe em relação ao avanço da campanha nacional de imunização e o que ocorre nos outros países, onde, à medida que a campanha de imunização progrediu, foi possível flexibilizar o uso.
Indagado sobre quando, na sua avaliação, a vida no país vai caminhar para o normal, Queiroga assinalou: “Quando eu assumi, houve dias com 4 000 mortos. Hoje temos uma média móvel de 1 200, 1 300 óbitos. Ainda é elevada, mas em relação ao que tínhamos houve uma melhora. Não é hora de baixar a guarda, porque esse vírus é um inimigo que nós não conhecemos em todas as suas nuances”.