Nonato Guedes
O ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, do PSD, respira mais aliviado depois do anúncio feito, ontem, por lideranças tucanas, do apoio do PSDB à sua pré-candidatura ao governo do Estado nas eleições de outubro de 2022. Até então Romero vinha se sentindo desconfortável e inseguro sobre a viabilidade do seu projeto, diante de idêntica pretensão alimentada pelo deputado federal Pedro Cunha Lima, presidente do PSDB, o que poderia contribuir para gerar divisão irremediável no bloco de oposição ao governador João Azevêdo (Cidadania) e enfraquecer o seu cacife para a disputa eleitoral contra o poder de plantão. O apoio do PSDB com bastante antecedência, faltando um ano e pouco mais de dois meses para o pleito, facilita a construção de um projeto que ainda precisará vencer outras etapas difíceis para se consolidar no confronto com o governador.
Romero, que já militou e exerceu mandatos pela legenda do PSDB, sendo hoje presidente estadual do PSD, partido que elegeu Bruno Cunha Lima à sua sucessão na prefeitura de Campina Grande, precisa estadualizar a sua imagem em regiões importantes e pode vir a ser chamado a resolver pendências judiciais que, de certo modo, atrapalham o foco na construção de uma candidatura ao governo. A perspectiva de concorrência no mesmo grupo em que atua era desgastante para ele, tanto mais porque confia no papel do ex-senador e ex-governador Cássio Cunha Lima como um dos principais cabos eleitorais das forças oposicionistas paraibanas. A precipitação do anúncio deveu-se, em grande parte, à boataria sobre possível aliança de Cássio com o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), se este fosse candidato ao governo em 2022. Ficou claro, ontem, que as divergências entre Cunha Lima-Rodrigues com Veneziano são insanáveis na conjuntura política-eleitoral paraibana, ainda que eventualmente surjam conversas de parte à parte.
A vinda do ex-senador Cássio a João Pessoa, ontem, para reunir-se com aliados e posar para a foto oficial, foi decidida em caráter emergencial com o fito de aparar arestas e colocar os pontos nos “is”, diante de caudal de especulações que vinham tomando conta da mídia e das conjecturas de líderes políticos, com o corolário inevitável de desconfianças e suspeitas de traição ou falta de firmeza nos compromissos à disputa eleitoral vindoura. É claro que o passo de ontem não teve o condão de unir toda a oposição a Azevêdo, levando-se em conta que há outros grupos que não necessariamente planejam compor-se com a candidatura de Romero. Mas o ex-prefeito de Campina Grande ganhou fôlego para se mover sem sombras na sua retaguarda e partir para tentar construir consensos dentro do restante da oposição – em que pontificam, ainda, nomes como o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), o deputado federal Ruy Carneiro (PSDB), o ex-candidato a prefeito da Capital, Nilvan Ferreira, presidente do PTB, e deputados alinhados com o bolsonarismo como Wallber Virgolino e Cabo Gilberto.
O movimento do grupo oposicionista campinense, ao mesmo tempo, sinaliza uma redefinição de estratégia com vistas a evitar erros que foram cometidos na disputa eleitoral ao governo em 2018 no território das forças anti-governistas da Paraíba. Na época, os prefeitos de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV) e de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), foram cogitados como alternativas para enfrentar o candidato do então governador Ricardo Coutinho (PSB) à sua sucessão, João Azevêdo. Mas houve demora numa definição e travou-se, mesmo, um jogo de empurra entre Romero e Luciano, que acabou culminando com a permanência dos dois à frente das respectivas prefeituras até o último dia do mandato. No vácuo que se criou, foi lançada a candidatura de Lucélio Cartaxo, irmão gêmeo de Luciano, ao governo, tendo como vice a doutora Micheline Rodrigues, esposa de Romero. A concertação política-familiar não sensibilizou o grosso do eleitorado e, embora a chapa tenha ficado em segundo lugar, João Azevêdo saiu vitorioso no primeiro turno.
Para o pleito de 2022, os adversários do governador, que será candidato à reeleição, em outra conjuntura, na qual aparece rompido com o ex, Ricardo Coutinho, falam que virá um rolo compressor pilotado pelo próprio chefe do Executivo, com possibilidade de tornar desigual a disputa para candidatos de oposição. Não é apenas o “rolo compressor” do governo que os oposicionistas temem, mas a própria competitividade que João Azevêdo vem adquirindo à frente da administração, com ações focadas no desenvolvimento do Estado, sem prejuízo do gerenciamento da grave crise sanitária decorrente da pandemia de covid-19. O governador não se apresentará mais como um neófito, mas com resultados de gestão obtidos no exercício do poder que tem empalmado. A oposição terá que errar o mínimo possível para, pelo menos, forçar o segundo turno que não houve em 2018.
Pode ser que no curso das conversações políticas entre forças que compõem o cenário paraibano, os oposicionistas cheguem a outros nomes mais viáveis em pesquisas de intenção de voto para dar combate ao projeto de reeleição do governador João Azevêdo. Mas, a esta altura, o nome do ex-prefeito Romero Rodrigues já será colocado nas mesas de reuniões com cacife indiscutível para unir opositores do governo, a partir do feito conquistado com a solução de impasses no núcleo campinense. Como lembrou Romero, na disputa de 2020 à sua sucessão em Campina, havia dois pretendentes no seu bloco – o deputado Tovar Correia Lima e o ex-deputado Bruno Cunha Lima. A concorrência foi estimulada durante certo tempo, por efeito tático de ocupação de espaços, mas havia o compromisso da unidade. Foi o que funcionou, e que contribuiu para cristalizar o triunfo de Bruno no primeiro turno. As lições de acontecimentos tão próximos estão sendo determinantes para as decisões quanto ao jogo do amanhã.
A oposição tem quê focar na união e uma certa combinação paralela com uma terceira via para um possível segundo turno..