Nonato Guedes
O Partido Progressistas na Paraíba, que é um condomínio familiar integrado pelo ex-deputado Enivaldo Ribeiro, seus filhos Aguinaldo (deputado federal) e Daniella (senadora), bem como pelo filho desta, Lucas Ribeiro, que é vice-prefeito de Campina Grande, insiste em colocar na mesa de negociações para uma aliança com outros esquemas, na eleição do próximo ano, a vaga de senador para Aguinaldo, como uma espécie de ‘dote’ para levá-lo a alçar voos maiores no cenário político estadual e nacional. A postulação de Aguinaldo encontra receptividade no esquema do governador João Azevêdo (Cidadania), que é candidato à reeleição, mas também pode vir a ter espaço no bloco de oposição PSD-PSDB que já lançou a candidatura do ex-prefeito Romero Rodrigues ao governo em 2022. Enivaldo foi vice na gestão de Romero, Lucas é vice na gestão do atual prefeito Bruno Cunha Lima.
O PP tem como expoente, ainda, fora do círculo familiar, o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, que já foi peemedebista e tucano e ressurgiu em alto estilo no cenário político de 2018 pelas hostes do Progressistas, depois de ter dito que não acalentava mais pretensões no jogo, especialmente um retorno à edilidade da Capital. Cícero é considerado um cabo eleitoral influente na campanha do próximo ano por estar à frente, novamente, da prefeitura da principal cidade do Estado, além de possuir tentáculos em Cabedelo, onde seu filho, “Mersinho”, é vice-prefeito, e liderança natural junto a outros gestores do chamado Consórcio Metropolitano, abrangendo a Grande João Pessoa. Lucena foi eleito com o apoio direto do governador João Azevêdo, cujo partido, o Cidadania, indicou o ex-vereador Leo Bezerra para vice. Os dois, prefeito e vice, atuam de forma articulada nestes primeiros meses da administração pessoense empossada em janeiro.
Cícero já havia manifestado compromisso de apoio à candidatura de João Azevêdo à reeleição, como retribuição pelo respaldo que ele deu à sua campanha para voltar à prefeitura da Capital, e também como consequência do entrosamento que até agora tem sido demonstrado nas ações do governo do Estado em benefício de João Pessoa. O prefeito também já deu declarações favoráveis à pretensão de Aguinaldo de ser candidato a senador, por entender que ele tem uma trajetória política-parlamentar que o credencia a dividir cadeira dentro da Casa com a irmã Daniella Ribeiro, por mais que esse cenário desperte críticas de adversários por constituir projeto de hegemonia familiar ou doméstica. As críticas, porém, são atenuadas porque já há algum tempo os partidos na Paraíba viraram ‘negócios de família’, onde parentes frequentam o mesmo metro quadrado e combinam decisões que terão reflexos na vida da população. Seja como for, o direito de postulação de Aguinaldo é inegável, cabendo ao eleitorado a palavra final sobre se ele ascenderá, ou não, na hierarquia política.
Ribeiro foi, até bem pouco tempo, relator do projeto da reforma tributária em Comissão Mista do Congresso Nacional criada exatamente para desengavetar uma pauta bastante antiga do processo legislativo brasileiro e que, infelizmente, nunca avançou concretamente. A relatoria foi alcançada na gestão do deputado Rodrigo Maia (ex-DEM-RJ), junto a quem Aguinaldo desfrutava de grande prestígio. No processo da sucessão de Rodrigo na Mesa, Ribeiro o acompanhou na manifestação de apoio à candidatura do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), ficando contra a candidatura do deputado Arthur Lira, do próprio PP (Alagoas), que acabou sendo o vitorioso com o aval do rolo compressor montado pelo presidente Jair Bolsonaro e seus aliados. Com a ascensão de Lira, Aguinaldo perdeu a relatoria da Comissão Mista da reforma tributária, bem como a perspectiva de outras posições importantes dentro do Legislativo Federal.
Atualmente, segundo a coluna “Radar”, da revista “Veja”, Aguinaldo Ribeiro integra uma corrente do Progressistas que trabalha contra a filiação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) às fileiras da legenda. Bolsonaro tem manifestado interesse em ingressar no PP (no qual já militou como deputado) e em Brasília afirma-se que a chegada do senador Ciro Nogueira ao Planalto, na condição de ministro-chefe da Casa Civil de Bolsonaro, faz parte de uma estratégia ampla que também envolve a provável filiação do mandatário ao PP. O fato de não estar alinhado incondicionalmente ao governo Bolsonaro poderia facilitar espaços de mobilidade de Aguinaldo junto ao governador João Azevêdo, que já declarou preferência pela candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Aliás, Aguinaldo, num exemplo de sua habilidade política, conseguiu ser ministro das Cidades no governo de Dilma Rousseff. E, surpreendendo a muitos, votou pelo impeachment de Dilma quando este foi ao plenário da Câmara Federal.
No esquema do governador João Azevêdo já se movimenta com extrema desenvoltura para se candidatar ao Senado o deputado federal Efraim Filho, do Democratas, que tem o apoio declarado do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e de lideranças políticas de diferentes partidos. É uma candidatura que passou a ser construída de forma autônoma, o que permitiu ao próprio Efraim ser artífice de entendimentos que revertam em apoios preciosos. O governador João Azevêdo, que tem o ex-senador Efraim Morais como secretário de Estado, não é infenso à postulação de Efraim Filho, mas ainda não expressou posição mais firme de adoção dessa candidatura, o que indica que o chefe do Executivo ainda quer avaliar cenários para decidir, mais na frente, a composição de sua chapa. De sua parte, Efraim tem deixado claro que poderá ser candidato “até em faixa própria”. A queda-de-braço entre ele e Aguinaldo Ribeiro promete perdurar mais algum tempo, até que seja batido o martelo dentro do esquema liderado pelo governador João Azevêdo.