Nonato Guedes, com agências
O clima é de tensão em Brasília com a radicalização política entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e os seus adversários políticos. Hoje, o mandatário participa de um desfile do comboio com veículos blindados, armamentos e outros meios da Força de Fuzileiros da Esquadra, no mesmo dia em que o plenário da Câmar dos Deputados deve votar a proposta de voto impresso auditável em substituição às urnas eletrônicas, que tem sido criticada nos meios jurídicos e políticos. Ontem, Bolsonaro disse que a proposta de voto impresso deverá ser rejeitada, acusando o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, de ter “apavorado” alguns parlamentares que, segundo ele, “devem alguma coisa na Justiça, no Supremo Tribunal Federal”.
Os adversários acusam o presidente Bolsonaro e auxiliares graduados das Forças Armadas de tentarem intimidar o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral, fazendo terrorismo com a ameaça de “golpe”. A tropa da Força de Fuzileiros da Esquadra partiu do Rio de Janeiro, passará pela capital federal e irá ao Campo de instrução de Formosa, em Goiás. A Operação Formosa, maior treinamento militar da Marinha no Planalto, existe desde 1988, porém, esta é a primeira vez que haverá que haverá um desfile em frente ao Palácio. Participa, além do presidente, o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto. No efetivo da operação, estão mais de 2.500 militares da Marinha, do Exército e da Força Aérea. No comboio, mais de 150 veículos diferentes, entre aeronaves, carros blindados e anfíbios, de artilharia e lançadores de mísseis e foguetes.
Segundo uma reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo”, o general Braga Netto teria enviado um duro recado ao presidente da Câmara Federal, Arthur Lira (PP-AL) no último dia 8 de julho, por meio de um importante interlocutor político. Segundo o Estadão, o general pediu para comunicar, a quem interessasse, que não haveria eleições em 2022, se não houvesse voto impresso e auditável. Ao dar o aviso, o ministro estava acompanhado de chefes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. O ministro da Defesa afirmou ao site “Poder360” que é “mentiroso” o relato sobre ter ameaçado bloquear as eleições de 2022 caso o Congresso não aprove o voto impresso auditável em urnas eletrônicas. Ontem, o Tribunal Superior Eleitoral encaminhou uma notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal contra o presidente Jair Bolsonaro por vazamento de inquérito sigiloso da Polícia Federal que apurou o ataque hacker sofrido pela Corte em 2018. O pedido de investigação também mira o deputado federal Filipe Barros (PSL-PR), relator da Proposta de Emenda Constitucional do voto impresso.
O ofício foi assinado por todos os sete ministros do TSE e dirigido ao ministro Alexandre de Moraes, que também integra a Corte Eleitoral e relata o inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal. Na notícia-crime, o TSE afirma que os documentos foram encaminhados à PF em abril de 2020 e que a corporação foi informada do sigilo legal das informações contidas nos relatórios. “Nada obstante, tais informações sigilosas ou reservadas foram divulgadas pelo Exmo. Sr. Presidente da República em contas em redes sociais, após o levantamento do sigilo, aparentemente indevido, pelo Delegado da Polícia Federal que preside as investigações e posterior encaminhamento dos respectivos autos ao Exmo. Sr. Deputado Federal Filipe Barros, relator da PEC 135/2019. Nas últimas horas, em meio ao clima de agitação política em Brasília, o presidente da Câmara, Arthur Lira, declarou que o presidente Jair Bolsonaro acatará o resultado da votação sobre o retorno do voto impresso, mesmo em caso de derrota.