O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarca hoje no Nordeste para estreitar as alianças com governadores e traçar estratégias para as eleições de 2022. A “Folha de S. Paulo” informa que a chegada de Lula ocorre no momento em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) inicia uma ofensiva sobre o eleitorado mais pobre da região, turbinando o programa Bolsa Família. O objetivo da viagem de Lula é o de aparar arestas na construção de palanques locais e formar uma base de apoio mais ampla, com apoio local de legendas como PSB, MDB, Cidadania, PP e Republicanos. Neste primeiro momento, Lula não virá à Paraíba.
Sua visita ao nosso Estado somente deverá ocorrer em setembro, quando abonará refiliações ao partido de políticos como o ex-governador Ricardo Coutinho e deputados estaduais. Ricardo Coutinho está se desfiliando do PSB, pelo qual foi eleito duas vezes à prefeitura de João Pessoa e, também, duas vezes, ao governo do Estado. Na Paraíba, Lula pretende assegurar, ainda, apoios como o do governador João Azevêdo (Cidadania), do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), do deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) e do ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV). Alguns já estiveram com o ex-presidente nos últimos dias no eixo sulista. Ricardo Coutinho pretende concorrer ao Senado pelo PT, embora haja questionamento sobre suas condições de elegibilidade em 2022.
Lula desembarcará neste domingo no Recife e fica no Nordeste até 26 de agosto, passando por Piauí, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia. Entre aliados do ex-presidente, a avaliação é que o apoio sólido dos governadores será crucial para barrar o avanço da máquina federal no Nordeste e atrair localmente apoios fora do campo da esquerda. “A viagem será um momento de retomar contatos, ouvir opiniões e prestigiar os aliados em seus Estados. Cada governador é uma liderança importante em seu Estado e, no caso do Nordeste, temos muitos governadores do nosso campo”, avalia o senador Jaques Wagner (PT-BA).
Pesquisas apontam que a maioria dos governadores de Estados nordestinos tem boa avaliação e está bem posicionada para 2022, seja para concorrer à reeleição, seja para tentar emplacar seus sucessores. Por outro lado, há uma preocupação com o avanço de aliados de Bolsonaro em suas bases eleitorais, atraindo prefeitos e líderes políticos locais com recursos de emendas parlamentares. As torneiras abertas, diz reportagem da “Folha”, têm dado maior musculatura aos partidos do Centrão. Nas eleições municipais, por exemplo, PSD e PP se consolidaram entre as siglas com mais prefeitos no Nordeste. Bolsonaro também tem tentado ampliar sua inserção no eleitorado do Nordeste: tem concedido entrevistas a rádios da região e realizado visitas – na última semana foi a Juazeiro do Norte (CE). Seu principal trunfo está na criação do Auxílio Brasil, programa que sucederá o Bolsa Família, com a ampliação do valor médio pago às famílias de baixa renda. O projeto foi enviado nesta semana para a Câmara dos Deputados.
Mas o presidente ainda tem um longo caminho para reduzir sua rejeição no Nordeste. Pesquisas apontam Bolsonaro com baixa popularidade, sobretudo nas capitais. Nas análises qualitativas, a gestão da pandemia é apontada como principal problema. Lula, por sua vez, segue como um dos principais cabos eleitorais nos Estados da região e ganhou mais força após voltar a ser elegível. Nas qualitativas, é apontado como um candidato associado à estabilidade, mas enfrenta resistências do eleitorado conservador. Em sua visita a Estados do Nordeste, Lula trabalhará para amarrar o apoio de governadores da região e seus respectivos partidos aliados. Para isso, contudo, precisa desatar alguns nós na construção de palanques locais. O principal deles está no Ceará, onde o governador Camilo Santana (PT) deve concorrer ao Senado e apoiar o PDT para o governo estadual. A manutenção da aliança, contudo, enfrenta resistências diante da estratégia do presidenciável Ciro Gomes (PDT), que aumentou o tom nas críticas a Lula.
]- Querem deixar o PT de joelhos, em uma situação subalterna. Isso é inaceitável – critica o deputado federal José Airton Cirilo (PT-CE), que defende que o partido tenha candidatura própria ao governo. Em Pernambuco, primeiro ponto de parada do ex-presidente no giro pelo Nordeste, a agenda prioritária é com o PSB. O partido, considerado por Lula como aliado preferencial da esquerda para 2022, foi decisivo no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, e esteve afastado do PT nas eleições municipais do ano passado. O prefeito do Recife, João Campos (PSB), que travou disputa acirrada com a prima Marília Arraes em 2020 e se elegeu usando o antipetismo como estratégia, vai se encontrar com o ex-presidente.