Nonato Guedes
Segundo versões da revista “Veja”, o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, que deixou o governo no rastro de uma gestão incompetente e desastrada, tem procurado “queimar” o seu sucessor, Marcelo Queiroga, junto ao presidente Jair Bolsonaro, detonando as ações que ele empreende à frente da Pasta, não obstante a repercussão positiva do trabalho do cardiologista paraibano, sobretudo na aceleração da campanha de imunização contra a covid-19. A orquestração, obviamente, tem sido infrutífera. Queiroga mantém-se prestigiado no cargo e, no que se refere à Paraíba, é não só assíduo nas visitas como solícito nas reivindicações e no encaminhamento de demandas que considera prioritárias.
Na sexta-feira, o ministro ganhou um apoio importante, decisivo: o da primeira-dama do Brasil, Michelle Bolsonaro, cuja dedicação a causas sociais e portadores de necessidades especiais é conhecida, e que veio a João Pessoa, juntamente com Queiroga, para a assinatura da ordem de serviço visando a construção do Hospital de Doenças Raras no bairro dos Bancários. O empreendimento será de alcance indiscutível para toda a Paraíba, fazendo o Estado avançar na sua inclusão na rede de atendimento a um contingente que luta por atenção e que tem conquistado espaços e vitórias pontuais mediante mobilização junto a bancadas parlamentares no Congresso Nacional. O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, do Progressistas, participou das gestões para lançamento da pedra fundamental do que poderá vir a ser um hospital-modelo ou hospital-referência para o Nordeste e para o país.
Infelizmente, o rigoroso esquema de segurança montado em torno da visita da primeira-dama Michelle Bolsonaro empanou, em parte, o brilho de um acontecimento de certa magnitude. Faltaram pronunciamentos de autoridades esclarecendo, em detalhes, a especificidade das doenças raras, o universo de pacientes que será alvo do atendimento da rede hospitalar que começará a se construir a partir da obra-padrão em João Pessoa e outros benefícios colaterais que poderão advir na esteira do funcionamento dessa unidade. Foi lamentável, inclusive, o incidente protagonizado por bolsonaristas fanáticos que agrediram verbalmente as repórteres Sandra Macedo, do Sistema Correio de Comunicação, e Iracema Almeida, do jornal “A União”. A cena, deplorável e antidemocrática, teve o repúdio da Asssociação Paraibana de Imprensa e de parlamentares da base de Bolsonaro, como a senadora paraibana Daniella Ribeiro, do PP.
Abstraindo esse episódio, o que ressalta com nitidez para a opinião pública do nosso Estado é o empenho inegável do ministro Marcelo Queiroga de marcar a sua passagem pela Pasta carreando benefícios para seu berço de origem, sem perder a perspectiva do compromisso com todos os Estados, indistintamente. A implantação de um Hospital de Doenças Raras é, por assim dizer, um marco-símbolo da atuação de Queiroga e do governo a que serve. Mas, antes disso, o ministro tem sido pródigo na liberação de vacinas contra a Covid-19 para o Estado, corrigindo distorções que já ocorreram na remessa de imunizantes e imprimindo mais homogeneidade na operação logística do Ministério nesse sentido. Ele teve o condão de ser bafejado com o título de “Ministro da Vacina”, e tem conseguido suprir as lacunas que a desastrosa gestão Pazuello não logrou atender. As respostas da gestão Queiroga face aos desafios da conjuntura têm sido rápidas, eficientes, em escala nacional, e não apenas no que diz respeito a imunizantes, mas a soluções para outras pendências afetas ao Ministério da Saúde.
É inevitável a exploração que se faz, na mídia, sobre possíveis pretensões políticas do ministro Marcelo Queiroga nas eleições de 2022, aproveitando o prestígio que a atuação na Pasta tem lhe conferido. Mas o próprio presidente Jair Bolsonaro já deixou claro que, até agora, o cardiologista não tratou de pauta política-eleitoral, diferentemente de outros ministros, que se expõem na mídia justamente dentro dessa perspectiva, de olho em governos estaduais, em mandatos de deputado federal ou senador ou, até mesmo, na participação em chapa presidencial, evidentemente junto com Bolsonaro. Ainda na segunda-feira, 9, quando jornalistas voltaram a abordá-lo sobre o assunto, Queiroga reagiu: “As eleições não são as questões do momento; estou focado no combate à pandemia, no enfrentamento à variante Delta do coronavírus e na expansão da campanha nacional de vacinação no país”.
Queiroga sempre foi reconhecido em seu Estado e além-fronteiras, além da competência profissional como médico, pelo seu jogo de cintura política, o que ficou demonstrado em vários embates de que participou, defendendo pautas da categoria como presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia em sessões da própria Câmara dos Deputados ou em outros fóruns abalizados da comunidade científica brasileira. Ao descartar, por enquanto, o tema das pretensões políticas, ele opera no sentido de manter o foco no trabalho. Sabe que o resultado da sua ação é que o credenciará a voos maiores, e, naturalmente, está atento aos desdobramentos da CPI da Covid, que se encaminha para um desfecho em meio a muito barulho. Se sair incólume do burburinho que é alimentado pelo próprio presidente Bolsonaro, Queiroga estará cacifado para se testar na política e surpreender os menos avisados.