Nonato Guedes
Numa entrevista enfática concedida ao site “Congresso em Foco”, o deputado Rodrigo Maia (sem partido) procurou esclarecer alguns pontos controversos da sua passagem pela presidência da Câmara Federal, quando não deu andamento a nenhum dos mais de cem pedidos de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, o que lhe valeu críticas de partidos de oposição e de destacadas figuras que representam a sociedade civil. Para Rodrigo Maia, Bolsonaro marcha a passos largos para a derrota nas urnas, nas eleições de 2022, e deverá sangrar até o fim do mandato, sem impeachment. Ou seja, para ele, o desgaste do chefe do Executivo tende a se aprofundar junto a parcelas da população. Mas o impeachment não prospera na gestão do seu sucessor, Arthur Lira (PP-AL), como não avançou no período em que ele comandou a Casa.
Expulso em junho do Democratas, após turbulências iniciadas na eleição da Câmara, quando demonstrou simpatia pela candidatura do deputado Baleia Rossi (MDB-SP) à presidência, derrotada por Arthur Lira com o apoio maciço do Centrão e do esquema político de Bolsonaro, Rodrigo diz aguardar o PSD descolar-se completamente do governo para se filiar à legenda do prefeito do Rio, Eduardo Paes, seu principal aliado político regional. O deputado aposta que a centro-direita emplacará um nome com grande chance de derrotar Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. E declara apoio a uma chapa que reúna Ciro Gomes(PDT) e João Doria (PSDB-SP), salientando que, nesse caso, as pesquisas indicariam o cabeça de chave e o vice.
Ao avaliar o atual momento político brasileiro, Rodrigo Maia apontou que Bolsonaro ataca o Supremo Tribunal Federal com um objetivo claro: provocar reações dos ministros e alegar que está cerceado no direito de comandar o país, argumento que utilizaria para tentar um golpe de Estado, invocando que, na verdade, está dando um “contragolpe”. Para Rodrigo, os 229 votos que foram dados a favor do voto impresso na última semana sinalizam que o atual presidente dispõe de apoio na Câmara para barrar um processo de impeachment, razão pela qual ele (Rodrigo) não teria dado andamento aos requerimentos apresentados em sua gestão. “Votar para Bolsonaro ganhar só o deixa mais forte”, salientou. Na visão do deputado, o presidente se equilibra no mandato por causa da liberação das chamadas emendas de relator, calculadas no valor de R$ 15 bilhões, que rateia entre parlamentares aliados.
Na última terça-feira, 10, Rodrigo Maia pisou pela primeira vez no plenário da Câmara desde que deixou a presidência da Casa para rebater as declarações do presidente Jair Bolsonaro de que já apoiara o voto impresso e defender a rejeição da proposta, o que acabou se materializando. Foi o primeiro encontro dele com o seu sucessor, Arthur Lira, um dos seus principais desafetos. Na última quinta, Lira negou a indicação de partidos para que Rodrigo fosse efetivado como vice-líder da oposição. Rodrigo rebateu ter se tratado de um gesto “mesquinho” e revanchista, típico de perdedor. Ao carregar nas tintas, quanto a críticas a Arthur Lira e ao presidente Jair Bolsonaro, Rodrigo opinou que ambos formam, na atual conjuntura, uma só figura: o “Bolsolira”.
E explicou: “É muito parecido um com o outro, há uma convergência entre os presidentes da Câmara e da República, que atuam com o mesmo intuito. Bolsonaro, de forma mais transparente, mais agressiva. O presidente da Câmara tentando diálogo com o Supremo, mas, quando viram as costas, dá facada no Supremo e no Tribunal Superior Eleitoral. As políticas deles são muito parecidas”. Rodrigo Maia também disparou contra o ministro da Economia, Paulo Guedes, a quem responsabiliza pela disparada da inflação e chama de populista. As análises do deputado Rodrigo Maia, se não o redimem da pusilanimidade quando presidente da Câmara, em que teve todas as chances de abrir pelo menos a discussão sobre processo de impeachment do presidente da República, servem como subsídio para compreensão da conjuntura em vigor no País e para reflexão sobre necessidade de melhor articulação das forças anti-Bolsonaro. O diagnóstico sobre o presidente “sangrar” até o fim do mandato parece correto. A dúvida ainda é sobre se Bolsonaro enfrentará mesmo uma derrota acachapante nas urnas, tendo como adversário principal o ex-presidente Lula da Silva, que, ontem, deflagrou peregrinação pré-eleitoreira pela região Nordeste.