Nonato Guedes
O deputado federal Aguinaldo Ribeiro (Progressistas) recorre a uma tática diferente da do deputado federal Efraim Filho (Democratas) para viabilizar o projeto de candidatura ao Senado nas eleições do próximo ano dentro do esquema do governador João Azevêdo. Efraim é mais ostensivo, mais direto, na ocupação de espaços, chegando a colocar sua postulação como irreversível em qualquer circunstância, mesmo se tiver que concorrer “em faixa própria”, uma alusão à hipótese de não ser adotado oficialmente pelo governador. Ou seja, há uma obstinação do jovem parlamentar por Santa Luzia em alçar voos maiores no cenário paraibano – e nesse ponto ele se mira no exemplo do pai, o secretário Efraim Morais, que já foi senador e derrotou pesos-pesados na disputa. Aguinaldo é mais sutil na estratégia preliminar. Desvia o assunto com o argumento de que é preciso focar na pandemia e em resultado de ações de governo. Na prática, Ribeiro costura seu projeto nos bastidores – dizem que guardando trunfos a serem colocados na mesa no momento oportuno.
Ontem, Efraim Filho e Aguinaldo Ribeiro, entre outros líderes políticos, acompanharam o governador João Azevêdo em maratona por municípios do interior e, repetindo uma saída que lhe pareceu conveniente e adequada para a situação, o chefe do Executivo adiou ensaios de definição sobre qual postulação cogita apoiar, falando, com autoridade, sobre a urgência de dar solução a demandas administrativas que a população reclama, não só em consequência da crise sanitária decorrente da pandemia de Covid-19 como em face da crise econômica e social, que reclama compensações por parte do Poder Público para o desemprego. João Azevêdo adicionou outro ingrediente ao discurso sobre ser necessário adiar definições de chapa: a indefinição reinante quanto a regras para as eleições de 2022.
Na verdade, a fixação das regras ainda é uma incógnita porque pendente de aprovação conjunta pela Câmara dos Deputados e Senado Federal, onde os consensos somente serão apressados por causa do princípio da anualidade, que impõe que as regras para a eleição do próximo ano estejam regulamentadas um ano antes da sua realização – o que se dará até outubro, considerando-se a hipótese da vigência do primeiro turno em pleitos executivos, de presidente da República a governadores de Estados, passando por prefeitos municipais. A Câmara, em votações que já passaram pelos dois turnos, rejeitou inovações como a vigência do “distritão”, mas, a título de compensação, recriou a figura da coligação partidária, que estava banida desde a eleição de 2020 e que suscita opiniões radicais envolvendo até coerência ideológica, que normalmente os políticos não gostam de discutir. Espera-se, ansiosamente, o pronunciamento do Senado sobre a minirreforma eleitoral votada na Câmara.
Já se sabe que, no Senado, há uma tendência de rejeição da volta das coligações, conforme adiantou o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, do DEM-MG, avaliando como um retrocesso ou como excrescência tal desideratum. Há parlamentares-senadores que corroboram esse ponto de vista, como o emedebista paraibano Veneziano Vital do Rêgo. Um detalhe curioso é que Efraim Filho votou favoravelmente ao retorno do instituto da coligação, enquanto Veneziano já tornou pública a sua afinidade com a posição preliminar do MDB contrária a tal experimento. Ocorre que Veneziano foi um dos primeiros políticos a anunciar apoio irrestrito à pré-candidatura de Efraim Filho ao Senado, na condição, inclusive, de presidente do diretório estadual do MDB. A divergência entre Efraim e Veneziano num aspecto pontual da reforma política sinaliza que deputado e senador precisam, pelo menos, ajustar ponteiros em questões polêmicas.
Pergunta-se, muito, nos meios políticos, que trunfos terá o deputado federal Aguinaldo Ribeiro a exibir quando for chamado à colação, pelo governador João Azevêdo, para definir hipóteses de apoio à sua pretensão ao Senado, onde já pontifica a sua irmã, Daniella Ribeiro, que entrou para a história como a primeira senadora eleita na Paraíba. O que se diz é que o número de prefeitos municipais apoiadores de Efraim – que já passaria de uma centena – não intimida Aguinaldo porque ele, também, tem forte penetração nos municípios e atua em conjunto com a irmã, em Brasília, para encaminhar reivindicações de cidades das diferentes regiões. Uma diferença estaria no fato de que o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, é do Progressistas e foi eleito em coligação com o “Cidadania” de Azevêdo. Pode-se alegar que o vice-prefeito de Campina Grande, Lucas Ribeiro, filho de Daniella, foi eleito na chapa de Bruno Cunha Lima (PSD), opositor de Azevêdo. Mas o PP parece apostar no peso da influência política da Capital no jogo sucessório, embora Daniella e Aguinaldo tenham base própria em Campina Grande e valorizem bastante a segunda cidade do Estado nas respectivas atuações parlamentares.
Uma vantagem que Aguinaldo poderia vir a ter em relação a Efraim é o jogo de cintura que faz com que o “progressista” tenha mais facilidade de trãnsito no campo da esquerda do que o “democrata”. Aguinaldo, embora esteja num partido conservador, de centro-direita, foi ministro das Cidades no governo da presidente Dilma Rousseff, do PT, e dialoga bem com segmentos esquerdistas ou anti-bolsonaristas, mesmo tendo votado pelo impeachment de Dilma. Efraim Filho nunca criou áreas de contato com a esquerda, tendo ficado próximo do PMDB e, depois, do PSDB, em conjunturas nacional e estadual. O governador João Azevêdo já revelou seu desejo de apoiar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto, bafejado, entre outros fatores, pela circunstância de que o “Cidadania” não deverá ter candidato próprio à sucessão de Bolsonaro. Nesse quesito, Aguinaldo teria mais facilidade para se compor como candidato ao Senado no esquema de Azevêdo do que Efraim Filho. São variantes indiscutíveis, possivelmente determinantes. Por enquanto, não há como fugir do lugar-comum: muita água ainda vai rolar por baixo da ponte.