Nonato Guedes
O ex-governador Ricardo Coutinho movimenta-se para tentar reverter na Assembleia Legislativa a desaprovação das suas contas referentes ao exercício de 2017, pelo Tribunal de Contas do Estado. Ricardo busca evitar um resultado desfavorável no plenário da Assembleia, onde ele não tem votos suficientes para alterar o parecer negativo do TCE. O interesse é o de se livrar de dificuldades para confirmação de sua elegibilidade em 2022, quando pretende concorrer ao Senado, e tem se mobilizado simultaneamente em Brasília para reverter inelegibilidade decretada pelo Tribunal Superior Eleitoral. A situação de Ricardo é considerada complicada por deputados estaduais, tendo em vista que o ex-governador precisará de 24 dos 36 votos da ALPB – e desde que deixou o poder ele perdeu aliados no Legislativo, mantendo uma reduzida bancada de aliados fiéis.
O presidente da ALPB, Adriano Galdino (PSB), não confirmou, ainda, a data da sessão para análise do parecer emitido pelo Tribunal de Contas, que no último dia 18 rejeitou as contas por entender que houve pagamento de pessoal em desacordo com a lei, através de servidores codificados, além de investimentos em educação abaixo de percentuais recomendados pela Constituição e outros pontos tidos como irregulares. O relator da matéria, Antônio Gomes, salientou que a rejeição das contas se deu em face do conjunto de ilegalidades apontadas, não especificamente por causa de baixos investimentos na Educação, dando ênfase ao caráter precário da contratação de codificados sem a realização de deduções previdenciárias ou qualquer direito trabalhista.
Em termos políticos, atualmente, Ricardo Coutinho vive uma situação de indefinição. Sem prestígio no Partido Socialista Brasileiro (PSB) ele deflagrou gestões junto à cúpula nacional do Partido dos Trabalhadores e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser readmitido no PT. Enfrenta, porém, resistência de um grupo de petistas históricos, como o deputado federal Frei Anastácio Ribeiro e o deputado estadual Anísio Maia, os quais consideram que Ricardo é “desagregador” e tem um histórico de divergências com o partido. Esses petistas chegaram a lançar a candidatura do professor Charliton Machado, de forma preliminar, para senador, numa composição do partido com o governador João Azevêdo (Cidadania), que rompeu com Coutinho. A pressão de Ricardo, porém, tem sido intensa para voltar ao PT local, com o beneplácito de Lula e da presidente nacional petista, Gleisi Hoffmann.
Como estratégia para ser readmitido nos quadros do PT, o ex-governador alega que deseja contribuir com o esforço do ex-presidente Lula para derrotar o governo Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais do próximo ano. “É preciso derrotar o ovo da serpente do fascismo, que é o bolsonarismo, a fim de que tenhamos de volta uma nova pactuação em favor da sociedade”, discursa Ricardo, admitindo como natural, inclusive, a ampliação do leque de alianças do ex-presidente Lula com partidos políticos para reforçar o campo oposicionista. Nas eleições de 2020 para prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho foi candidato pelo PSB e conseguiu um depoimento a seu favor do ex-presidente Lula, em Guia Eleitoral, mesmo o PT tendo candidato próprio, que foi Anísio Maia. Para 2022, Ricardo corteja o Senado, enquanto tenta viabilizar uma candidatura de esquerda ao governo do Estado contra João Azevêdo.
O atual governador, por sua vez, tem evitado entrar no mérito das discussões internas do Partido dos Trabalhadores, mas reitera a expectativa de poder firmar uma aliança com o ex-presidente Lula, cuja candidatura apoia. João Azevêdo, em solenidade esta semana, diante de petistas históricos que participam do seu governo, apontou afinidades da sua administração com projetos do PT e chegou a anunciar que abrirá as portas do Palácio da Redenção com alegria para receber Lula. Atribui-se aos problemas políticos decorrentes da situação de Ricardo Coutinho a exclusão do Estado da Paraíba do roteiro de visitas que o ex-presidente da República ainda empreende pelo Nordeste, constando de reuniões com diferentes líderes políticos. Interlocutores de Azevêdo acreditam que em setembro a vinda de Lula possa se tornar realidade e que ele consiga dialogar com o governador João Azevêdo para definição dos termos do apoio do governador paraibano à sua postulação ao Planalto.