O cantor paraibano Zé Ramalho, de 71 anos, anunciou ontem que não participará mais do novo álbum do cantor Sérgio Reis, de 81 anos, e desautorizou o uso de sua música “Admirável Gado Novo” pelo sertanejo, segundo revelou a coluna de Ancelmo Gois no jornal O Globo. Em nota, a produção do artista paraibano ressaltou: “Embora o artista Zé Ramalho tenha participado como convidado na gravação da canção “Admirável Gado Novo” no disco do cantor Sérgio Reis em maio de 2019, agora em 2021 a gravação perdeu o sentido e tanto o compositor quanto sua editora não autorizarão a utilização da obra”.
Além do paraibano, nomes como Maria Rita e Guilherme Arantes também anunciaram suas desistências nesta semana e não farão participações no novo disco de Sérgio Reis. Um áudio e um vídeo que circularam nas redes sociais no último fim de semana levaram o cantor Sérgio Reis a integrar também o noticiário político, na condição de apoiador do presidente Jair Bolsonaro em atos antidemocráticos. Nas gravações, o ex-deputado apareceu convocando uma greve nacional de caminhoneiros contra os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, alvo constante do presidente Jair Bolsonaro. A promessa de paralisação dos caminhoneiros ganhou força nas redes sociais no domingo. Pelas mensagens postadas, os profissionais deverão cruzar os braços em Sete de Setembro, Dia da Independência, em um movimento que engrossaria outras manifestações públicas já programadas a favor do governo.
Lideranças dos caminhoneiros, no entanto, já se manifestaram para deixar claro que o cantor não os representa. Já o Ministério da Infraestrutura, nos bastidores, não leva a sério a mobilização. Além de Sérgio Reis, o cantor Eduardo Araújo também foi alvo de mandado de busca e apreensão na sexta-feira, autorizado pelo Supremo Tribunal Federal. O ministro Alexandre de Moraes determinou a restrição de algumas pessoas que chegaram a um raio de até um quilômetro da Praça dos Três Poderes, dos Ministros do STF e dos Senadores, na investigação sobre a incitação a atos violentos e antidemocráticos. Hoje aos 79 anos, Araújo é mais lembrado por ter sido um dos ídolos da Jovem Guarda durante a sua juventude, e ter embalado as rádios com a canção “O Bom”. O grande destaque na mídia, porém, continua sendo Sérgio Reis, alvo de reportagens diárias sobre sua trajetória oscilante. Uma das matérias relata como Sérgio Reis foi do “Rei do Gado” a militante antidemocrático.
Nascido em 1940 como Sérgio Balvini, Sérgio Reis é ligado ao partido Republicanos, antigo PRB, pelo qual foi eleito deputado federal em 2014. Durante o mandato na Câmara, ele fez amizade com Jair Bolsonaro, então deputado pelo Partido Progressistas, do Rio de Janeiro. Antes disso, o paulista de 1,93m era mais conhecido por sucessos como “Panela Velha”, composição de Moraezinho e Auri Silvestre, que estourou em sua voz em 1984 e eternizou o refrão: “Não interessa se ela é coroa/Panela velha é que faz comida boa”. Mas a carreira musical de Sérgio Reis começou bem antes. Antes de ser um ícone de música caipira, participou da Jovem Guarda e emplacou o rock “Coração de Papel” nas paradas em 1967. A música batizou seu disco de estreia, lançado no mesmo ano. Só que Reis entrou na onda do iê-iê-iê quando a Jovem Guarda já estava em declínio, com os líderes do movimento, Roberto e Erasmo Carlos, já interessados em outros voos. Em 1981, o disco “O melhor de Sérgio Reis” vendeu mais de l milhão de cópias, um feito, tanto na época como hoje. Não há registro de projetos mais relevantes de sua autoria durante a passagem pela Câmara dos Deputados, onde integrou o chamado baixo clero.