Nonato Guedes, com agências
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), coordenador do Fórum Nacional de Governadores, oficializou ontem à noite o convite ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e aos demais chefes de Poderes para um encontro de pacificação entre as instituições. A intenção de reunir Bolsonaro e os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, foi anunciada mais cedo, ontem, após uma conferência que contou com representantes de 24 Estados e do Distrito Federal.
No documento, Ibaneis pede o agendamento de uma audiência “com o propósito de identificar e pautar pontos convergentes e estratégias visando salvaguardar a paz social, a democracia e o bem-estar socioeconômico da população brasileira”. O movimento feito pelos governadores é uma reação às ações do presidente que, nas últimas semanas, intensificou seus ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, colocou sob dúvida a realização das próximas eleições e apresentou ao Senado um pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes na última sexta-feira. Também ontem, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, voltou a pedir a retomada do diálogo institucional e disse que não admitirá nenhum tipo de retrocesso no Estado Democrático de Direito.
“Pedi ao ministro Luiz Fux (presidente do STF) que houvesse a iniciativa da reunião entre os Poderes”, disse Pacheco em evento do Secovi, sindicato patronal do mercado imobiliário. No Fórum dos Governadores, ocorrido ontem, a maioria dos presentes participou de forma virtual. Apenas os governadores do Tocantins e do Amazonas não enviaram representantes. Não faltaram críticas ao comportamento de Bolsonaro e houve unanimidade sobre a avaliação de que o clima de instabilidade política é prejudicial para todos. A ideia de um manifesto formal contra o presidente, no entanto, dividiu opiniões, especialmente porque apenas poderia ampliar o clima de instabilidade, sem resolver a situação.
Para sair do impasse e não deixar de mandar uma clara mensagem de insatisfação ao presidente, a ideia de marcar uma agenda com Bolsonaro e com outros representantes de Poderes foi proposta pelo governador do Pará, Helder Barbalho, do MDB. A sugestão foi tratada pelos governadores como uma espécie de tentativa final de restabelecer alguma normalidade no país e que poderá servir para que Bolsonaro tenha uma espécie de “saída honrosa” para recuar dos ataques que vem fazendo contra ministros do Supremo e das suas ameaças às eleições do próximo ano. “Temos de estabelecer que este é um país que tem eleitores do PT, do PSB, do MDB. Mas todos nós trabalhamos com uma única coisa: o bem-estar comum. Quando queremos levar essa conversa para o presidente é porque aqui não tem ninguém contra nem a favor dele. Somos a favor de um país que merece, sim, um tratamento melhor das suas instituições para que a gente entre numa normalidade”, afirmou o governador Ibaneis Rocha.
Após a reunião, alguns gestores reforçaram críticas ao presidente Jair Bolsonaro. Nas redes sociais, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) fez um balanço do encontro e reforçou a necessidade de que autoridades se posicionem contra as agressões do presidente à democracia, ao meio ambiente e à economia. O dirigente estadual comentou que Bolsonaro ataca “todos os espaços de contestação”, como a imprensa e os Poderes Legislativo e Judiciário. “Democracia não é apenas a oportunidade da eleição de um governo, é também a necessidade de que os governantes eleitos saibam conviver com a contestação. Infelizmente, o atual presidente parece não saber disso”, publicou. Já na opinião do governador do Maranhão, Flávio Dino, do PSB, houve uma preocupação geral na reunião com as agressões e conflitos em série que ocorrem no Brasil nas últimas semanas. O consenso, para os governadores, foi a defesa da gestão democrática. “A democracia deve prevalecer e as Polícias Militares não serão usadas em golpes”, afirmou o governador de São Paulo, João Doria.