Nonato Guedes
Além da aposta na candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, o Partido dos Trabalhadores decidiu priorizar pela primeira vez em sua história a eleição de uma bancada na Câmara dos Deputados. Conforme reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo”, a legenda deve deixar em segundo plano as disputas para o Senado Federal e para os governos estaduais. Os motivos são a necessidade de formar uma bancada que garanta a governabilidade – se Lula for eleito – e impedir a tramitação de pedidos de impeachment. Em último caso, se o petista for derrotado, o PT poderá assumir posição de força dispondo de uma bancada expressiva na Câmara. Pesaria, também, na decisão, a repartição dos recursos públicos dos fundos eleitoral e partidário, cuja maior parte é rateada entre as legendas de acordo com o número de representantes de cada uma eleitos à Câmara.
Se for mesmo levada adiante a estratégia que está sendo anunciada, ela terá reflexos diretos na conjuntura política-eleitoral da Paraíba, onde o atual deputado federal Frei Anastácio Ribeiro deverá concorrer à reeleição ou, se não o desejar, apoiar um integrante da sua corrente, e o ex-deputado Luiz Couto pode voltar ao páreo. Nas eleições de 2018, com o estímulo do então governador Ricardo Coutinho, filiado ao PSB, Couto candidatou-se pelo PT a uma das duas vagas senatoriais em disputa, surpreendendo pela performance obtida em meio a outras candidaturas tidas como fortes. Couto ficou em terceiro lugar, com 23,1% dos votos válidos, superando o ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB), candidato à reeleição, que obteve 17,53% e o ex-governador Roberto Paulino (MDB), com 7,67%. Os vitoriosos às duas vagas em 2018 foram Veneziano Vital do Rêgo, pelo PSB, com 24,63%, e Daniella Ribeiro, do PP, com 24,25%.
Para o pleito de 2022 na Paraíba, quem tenta se viabilizar como candidato ao Senado pelo Partido dos Trabalhadores é o ex-governador Ricardo Coutinho, que prepara seu retorno às fileiras da legenda. Coutinho teria o pleno apoio do ex-presidente Lula, mas enfrenta problemas de inelegibilidade junto ao Tribunal Superior Eleitoral e, mais recentemente, teve parecer contrário do Tribunal de Contas do Estado aos balancetes da sua gestão referentes a 2017, resultado que deve ser confirmado pela Assembleia Legislativa, onde o ex-gestor conta com um pequeno grupo de deputados fiéis. Agora, com a perspectiva de que o PT venha a priorizar candidatos a deputado federal, Coutinho poderá ver esfumaçado de vez o projeto de ser senador pela Paraíba. Quanto ao PT paraibano, uma ala de membros históricos vinha apostando na candidatura do professor Charliton Machado para se contrapor a uma possível de indicação de Ricardo. Essa hipótese, por ora, fica em aberto, diante dos fatos novos.
Na primeira vez em que prioriza a eleição de deputados, o PT nacional está definindo uma lista de candidatos nos Estados, incluindo nomes como o ex-governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, e políticos recém-chegados como o ex-deputado do PSOL Jean Wyllys. “A Câmara virou fundamental para a governabilidade e para dar racionalidade à política”, disse Pimentel, que confirmou ao “Estadão” a candidatura a deputado. Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT e que é deputada pelo Paraná, depois de ter sido senadora, disse que Jean Wyllys será candidato em São Paulo e que no mesmo Estado o PT pretende lançar o vereador Eduardo Suplicy a deputado, faltando definir se a estadual ou federal. Desde quando se elegeu senador pela primeira vez em 1990, Suplicy, até então, sempre concorria ao Senado. Dois ex-candidatos ao governo paulista também devem concorrer à Câmara: Luis Marinho e Alexandre Padilha.
Gleisi Hoffmann foi enfática: “O PT tem como estratégia fortalecer as chapas para deputados federais. Fizemos uma rodada com todos os diretórios estaduais e colocamos que essa é uma prioridade do partido. Precisamos ter força na Câmara”. Lula e a direção do PT procuraram ainda figuras conhecidas do partido, como o ex-deputado federal José Genoíno, que declinou da candidatura, alegando que pretende continuar desenvolvendo “trabalho de base”. Outra recusa – ao menos por enquanto – a participar do “projeto 2022” veio da ex-presidente Dilma Rousseff, que em 2018 tentou se eleger ao Senado por Minas Gerais e foi derrotada. Na visita que empreendeu ao Nordeste, Lula disse aos líderes de nove partidos, no Piauí, que precisava de uma bancada não só do PT, mas também de aliados, como relatou o governador do Estado, Wellington Dias, que é petista.
Além de candidatar “medalhões” para a Câmara, o PT decidiu investir em nomes novos para atrair eleitores que abandonaram a sigla e migraram para o PSOL nas últimas eleições, como aconteceu no Rio, onde os candidatos psolistas obtiveram mais votos do que os petistas. Em 2018, o PT elegeu só Benedita da Silva como deputada pelo Rio, enquanto o PSOL obteve quatro cadeiras. Agora, o PT decidiu apoiar Marcelo Freixo (PSB) para o governo do Estado e apostar na professora e escritora Elika Takimoto para a Câmara. Em Minas Gerais, a sigla ainda não definiu se terá candidato ao governo. Depois do Nordeste, é para lá que Lula vai no dia 15, na sua primeira viagem a Minas desde que recuperou os direitos políticos. O deputado Reginaldo Lopes, que coordena a frente pró-Lula em Minas, arremata: “A prioridade do PT em 2022 será formar uma base no Congresso. Acreditamos que podemos voltar aos 90 federais de 2002 – hoje são 54”. E mais: “o partido não vai lançar candidatos a governador para marcar posição”.