Nonato Guedes
O deputado federal Efraim Filho, do Democratas, segundo fontes que lhe são próximas, admite “aliviar” a pressão, dentro do esquema do governador João Azevêdo, na estratégia que desenvolve para se firmar como candidato ao Senado na chapa às eleições de 2022, mas isto não significa que cogita recuar do projeto de conquistar nas urnas, a céu aberto, a única cadeira que estará em jogo para aquela Casa do Congresso em outubro do próximo ano. Pelo contrário, continuará reforçando os laços com lideranças influentes que o apoiam, do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) a deputados federais, ao presidente da Assembleia, Adriano Galdino, passando por mais de uma centena de prefeitos e vereadores de diferentes regiões do Estado.
A movimentação ostensiva do deputado Efraim, com acenos para obter o apoio do governador João Azevêdo, gerou ruídos de comunicação e, conforme versões, certo desconforto junto ao chefe do Executivo Estadual, que é reconhecido como o coordenador do processo no grupo que lidera e que tem o seu “próprio tempo” para fixar definições, inclusive porque está a braços, prioritariamente, com soluções de demandas administrativas, investimentos em obras e aceleração da campanha de vacinação contra a Covid-19 no Estado. Sabe-se de desabafos do governador, nos últimos dias, deixando claro que não dá aval a movimentos antecipados de pré-candidatos às eleições de 2022 na sua chapa e até lamentando que o processo “startou” muito cedo, o que não está na lógica do seu cronograma para o processo que enfrentará na luta pela reeleição.
O pano de fundo do alegado “desconforto” é o clima de disputa que tem sido ensaiado, de público, pelos deputados Efraim Filho, do DEM, e Aguinaldo Ribeiro, do PP. Ambos querem a cadeira de senador e cortejam o apoio do governador João Azevêdo. Avançaram na estratégia além do esperado, surpreendendo meios políticos locais e deixando a oposição atordoada, até porque não há perspectiva de consenso sobre definição nesse bloco, aparentemente polarizado pelos ex-prefeitos de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD) e de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), com possível ação, no processo, de Ricardo Coutinho. Efraim adota um tom desafiador em relação ao seu rival Aguinaldo Ribeiro, dispondo-se a comparativos que vão do requisito da lealdade ao governador João Azevêdo até a capilaridade em termos de potencial eleitoral para a corrida ao Senado. Ribeiro opera, preferencialmente, nos bastidores, no contato direto com líderes políticos e garante que tem bala na agulha para decidir a parada no momento oportuno.
Em certa medida, esse ambiente de emulação poderia ser, taticamente, interessante para o esquema do governador João Azevêdo, tendo em vista que possibilitaria a ocupação dos grandes espaços na cena política estadual, asfixiando ou inibindo movimentos ou articulações de pretendentes no bloco oposicionista. Mas essa vantagem somente ficaria palpável se a “emulação” fosse cordial entre Efraim Filho e Aguinaldo Ribeiro e seguisse um “script” mais ou menos combinado, pelo qual, à certa altura do “confronto”, os dois pactuassem compromissos de unidade ao cabo da queda-de-braço pela indicação dentro do esquema governista. Não há, entretanto, garantia dessa pactuação, e o receio do governador parece ser o de que venha a tornar-se a situação incontrolável, em prejuízo da tranquilidade e do acúmulo de forças que precisa agregar para sua própria candidatura, que é, por assim dizer, o carro-chefe da campanha.
A possibilidade de sequelas de uma disputa prévia pela indicação do candidato ao Senado pode ocasionar desdobramentos que, ao invés de aglutinar, desarranjem o tabuleiro político que será pacientemente esculpido pelo governador para atrair adesões e fortalecer-se no desafio de ganhar a batalha pela recondução ao Palácio da Redenção. Não é segredo para ninguém que Azevêdo costura alianças à esquerda, ao centro e centro-direita, envolvendo nesse pacote a própria sucessão presidencial, na qual espera estar de braços dados em palanques na Paraíba com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, seu candidato predileto. Para ser ungido por Lula, Azevêdo ainda terá que administrar o que, para ele, parece um pesadelo – a convivência com o ex-governador e ex-aliado Ricardo Coutinho no metro quadrado da base lulista. Ou seja, há problemas demais a serem resolvidos até a batida do martelo sobre candidatura ao Senado.
Atribui-se a Azevêdo o alerta de que “definir uma chapa majoritária a um ano da eleição é uma “loucura nunca vista”. A observação faz sentido, se for feita uma analogia com disputas recentes na história política paraibana, bastando lembrar que em 2014, na campanha para a reeleição de Ricardo, o nome à vice-governança foi “fechado” na undécima hora dos prazos legais, com a escolha recaindo em torno da doutora Lígia Feliciano (PDT), que foi reconduzida na chapa empalmada por Azevêdo em 2018. Mas antecipações não são estranhas ao jogo político. O presidente Bolsonaro, poucos meses depois de ter tomado posse em 2019, já se anunciava candidato à reeleição – e assim permanece. No reverso da medalha, há políticos que nadaram, nadaram, e morreram na praia. É o ônus do jogo, a consequência da dinâmica política que, geralmente, projeta surpresas espetaculares. “Não vou parar”, assegura Efraim, indiferente a especulações. Supõe-se que o democrata esteja preparado para as implicações que sua estratégia pode desencadear, de tão obstinado que se revela no projeto de ser senador. Mas ele não parece estar blefando nem perseguindo uma aventura.