Nonato Guedes
Interlocutores do governador João Azevêdo (Cidadania) deixam claro que o chefe do Executivo não se movimenta com vistas a tentar monopolizar o palanque do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na Paraíba, na campanha deste, em 2022, para voltar ao Palácio do Planalto , até porque tem consciência de que o petista atuará pragmaticamente no processo, em nível nacional, agregando apoios de diferentes grupos e atores políticos, dentro da tática de formar uma frente ampla para derrotar o esquema do presidente Jair Bolsonaro nas urnas. O pragmatismo de Lula fará com que ele, por exemplo, se componha na Paraíba com o governador, mas aceite as adesões anunciadas pelo ex-governador Ricardo Coutinho, em trãnsito de volta à legenda petista, e pelo ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, do Partido Verde, cujo retorno ao PT também tem sido especulado, sem confirmação, porém, por parte dele.
No que diz respeito ao governador João Azevêdo, cabe lembrar que o ex-presidente Lula foi seu aliado na campanha de 2018, em que o principal adversário de Bolsonaro acabou sendo o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, chamado a se investir no papel pela circunstância de que Lula estava recolhido a uma sala da superintendência da Polícia Federal em Curitiba, como consequência da prisão decretada pelo ex-juiz Sergio Moro. Há cerca de três anos, na Paraíba, Ricardo e Azevêdo estiveram juntos, e é bastante conhecido da opinião pública, aqui e alhures, o enredo do rompimento entre ambos, verificado pela insistência de Coutinho em continuar “governando” mesmo fora do cargo e pela violência com que o mesmo Coutinho, irresignado com a independência de Azevêdo, fez de tudo para expulsá-lo do PSB, de onde o ex-líder dos girassóis está batendo em retirada, agora, por não encontrar mais espaço, com tanto desgaste que causou a si mesmo.
Nas palavras do atual governador, reproduzindo diálogo que teve na semana passada com Lula, no Centro de Convenções de Natal (Rio Grande do Norte), durante evento do “Consórcio Nordeste”, ele disse claramente ao ex-presidente que o seu palanque está à disposição, independente de surgirem mais dois, três, “vinte palanques no Estado”. Ou seja, João Azevêdo dispõe-se a compartilhar o apoio a Lula até mesmo com adversários de hoje, desde que não seja compelido a se recompor localmente com tais figuras. Foi isto o que o governador repassou a Lula na rápida conversa, entremeada de caloroso abraço, que tanto incomodou a Ricardo, a ponto de levar este a assacar invectivas contra jornalistas, como é do seu feitio. “É óbvio que não estarei no mesmo palanque com o ex-governador; não há essa possibilidade”, enfatizou João Azevêdo.
A verdade é que, se há ambiguidade, até certo ponto, na estratégia do ex-presidente Lula, não há oportunismo nem incoerência na posição do governador João Azevêdo com relação à sucessão presidencial em 2022. Lula ainda não veio à Paraíba, mesmo já tendo percorrido vários Estados do Nordeste nos últimos dias e, mesmo assim, João Azevêdo já havia sinalizado publicamente seu apoio à pré-candidatura do petista, inclusive revelando ter solicitado à cúpula nacional do partido em que ingressou, o Cidadania, autorização para se alinhar com o ex-presidente, já que a legenda não cogitava lançar candidatura própria ao Palácio do Planalto. Esta semana, valendo-se da repercussão da CPI da Covid, o senador Alessandro Vieira, do Cidadania-RN, colocou-se à disposição da cúpula para empalmar uma candidatura própria. Essa pretensão ainda será objeto de exame, mas pelo tom de declarações do presidente nacional, Roberto Freire, não há indícios de pressão sobre Azevêdo para recuar do apoio a Lula.
O ex-governador Ricardo Coutinho, na opinião de analistas políticos, tentou confundir a opinião pública passando a imagem de que é o “grande aliado” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Paraíba, explorando o fato de que, na campanha para prefeito de João Pessoa, em 2020, Lula pediu votos para ele (Ricardo) e não para o candidato próprio do PT, Anísio Maia, ou para o candidato do governador, Cícero Lucena (PP), que acabou sendo eleito no segundo turno. Ora, aquela manifestação de Lula foi um gesto de gratidão do ex-presidente para com o ex-governador que, de fato, ficou solidário com ele e com Dilma Rousseff, esta no episódio do impeachment que completou, ontem, cinco anos. Mas, da mesma forma como Ricardo se julga o eterno centro das atenções, há quem avalie que o apoio de Lula à candidatura dele a prefeito foi uma forma de quitar-se com Ricardo. Na lógica pragmática de Lula, ele pode até apoiar Ricardo a senador, se o “ex” conseguir levar adiante a candidatura, mas em outra ponta deverá apoiar Azevêdo à reeleição.
O que Ricardo Coutinho e expoentes petistas locais, mesmo anti-Ricardo, precisam levar em conta, é que há uma estratégia nacional prioritária para Lula, que é a sua candidatura, novamente, à presidência da República. A volta de Lula para um terceiro mandato seria uma espécie de coroamento para o ex-presidente, diante dos percalços que enfrentou desde que deixou o poder e passou a faixa a Dilma Rousseff, lá atrás. Em nome dessa obsessão que o coloca em primeiro plano, Lula vem fazendo o PT desistir de candidaturas a governos em vários Estados, apoiando candidatos mais viáveis que estejam no arco de sustentação da candidatura dele ao Planalto, ou, então, se abstendo de lançar nomes a palácios para não dispersar votos para a corrida presidencial, que é a de maior fôlego. A Sra. Gleisi Hoffmann tem sido clara na formulação de recados sobre a “macroestratégia” em curso. E Lula vai protocolar pedido de audiência a Azevêdo quando voltar ao Nordeste, agora em setembro. Estes são os fatos, o resto é especulação.