Nonato Guedes
Com a declaração feita a auxiliares pelo presidente Jair Bolsonaro de que não pretende receber o grupo de governadores que integram o Forum Nacional, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), decidiu continuar ocupando espaços em busca de soluções para a crise que afeta os Estados e municípios e, nesta quinta-feira, receberá gestores na residência oficial em Brasília, um dia depois de o governo sofrer uma derrota no Senado com a rejeição da reforma trabalhista. O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), que preside o grupo de governadores, já adiantou que a pauta tratará especificamente da defesa da democracia e também de projetos para acelerar a retomada da economia, diante dos prejuízos causados pela pandemia de Covid-19.
“Iremos dialogar sobre o compromisso dos governadores com a democracia, do Congresso Nacional, dos Poderes e da sociedade brasileira na mesma direção, além dos projetos que possam acelerar a economia, cuidando, por exemplo, da Reforma Tributária, a partir dos projetos a Estados e municípios. A ideia é termos um entendimento que se preocupe em simplificar a tributação, evitar a guerra fiscal e ampliar um ambiente adequado aos empreendedores”, ressaltou Rodrigo Pacheco em nota. O propósito demonstrado pelos governadores era o de que fosse feita uma reunião com os chefes de todos os Poderes, mas Bolsonaro desdenhou da sugestão, mais uma vez revelando falta de compromisso com o pacto nacional anti-crise. A preocupação com a defesa da democracia permanece prioritária diante das ameaças de apoiadores de Bolsonaro de convocar atos públicos contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional no Dia Sete de Setembro, marco da Independência do Brasil.
Esses atos, diga-se de passagem, têm sido estimulados pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, na sua escalada obsessiva para fomentar um “autogolpe”, passando como trator por cima dos demais Poderes constituídos, cuja autonomia nunca aceitou e jamais quis respeitar. Horas antes de confirmar a agenda com os governadores, Pacheco presidiu a sessão que acabou com a derrota do governo, traduzida na rejeição da Medida Provisória 1045, que previa uma reforma trabalhista. Fontes do Planalto e do Ministério da Economia enxergaram, por trás da derrota, uma articulação do presidente do Senado, que teria feito acordos com a oposição, ainda na época de sua eleição, para não votar nenhuma mudança trabalhista. Pacheco tem sido encarado por auxiliares do presidente, segundo matéria do UOL, cada vez mais como um opositor da agenda de Bolsonaro, pelo fato de despontar como possível candidato à Presidência da República em 2022, possivelmente concorrendo pelo PSD, que o aguarda de braços abertos.
Na sessão de ontem, o líder do governo, Fernando Bezerra, afirmou que havia feito acordo com a Câmara para que o texto desidratado da reforma fosse aprovado. Apesar disso, conforme fontes do governo, “jogos políticos” foram colocados “acima do interesse do país e da geração de empregos”.O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), criticou em plenário a decisão do Senado e informou que havia um acordo para aprovar a matéria com as alterações feitas pelos senadores, mas que o Senado deixou “três milhões de jovens sem oportunidades”. Algumas fontes do próprio governo também destacaram que a articulação no Senado foi acompanhada pelo ministro Onyx Lorenzoni, que agora está à frente do Ministério do Trabalho. Após a derrota, Onyx comentou o resultado nas redes sociais e afirmou que os senadores “fecharam as portas” para milhões de pessoas, admitindo que vai buscar alternativas para compensar o revés da reforma trabalhista.
A verdade é que o clima de tensão continua vigorando porque o Palácio do Planalto não baixa a guarda nas insinuações golpistas que têm pontuado o bê-a-bá do governo de Jair Bolsonaro. Numa entrevista à “Veja”, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, opinou, sem meias palavras: “O presidente (Bolsonaro) dá sinais de que deseja o golpe, verbaliza isso. Se estiver brincando, é irresponsável. Se estiver falando sério, pior ainda. Temos que estar preparados para tudo”. Não obstante, Kassab declara que sempre descartou a proposta de impeachment do mandatário, que alimenta o noticiário político com frequência. Sua avaliação é de que Bolsonaro tem dado opiniões na linha golpista mas não deu nenhum passo concreto até agora em direção a um golpe. “Se em algum momento as opiniões virarem ações, o Congresso precisa ser célere e defenderei a ideia de que meu partido apoie o impeachment. O partido nunca fechou questão, mas quando Bolsonaro ultrapassar essa linha, dentro do partido vou defender o afastamento”, manifestou Kassab.
Na entrevista, o presidente do PSD alertou para outro fato importante nas discussões sobre a eleição presidencial de 2022. De acordo com ele, a vontade de mudar é o que deve influenciar mais decisivamente o voto do eleitor no próximo ano. Explicou: “Hoje, apenas aproximadamente 25% dos brasileiros querem continuar com este governo. A cada semana, a cada mês, está havendo queda na sua popularidade. Há uma aspiração por uma mudança tranquila. O brasileiro não aguenta mais enfrentamento, acirramento de ânimos. O eleitor vai escolher isso no momento certo, na pré-campanha vai sinalizar o seu apoio. Existe no Brasil a tradição do voto útil, que acontece com muita frequência. Acredito que acontecerá de novo. Aposto em uma proposta nova, conciliadora”, finalizou Kassab.