Nonato Guedes
Embora o nome do senador Veneziano Vital do Rêgo ainda frequente especulações e até expectativas para representar uma candidatura própria do MDB ao governo da Paraíba, em 2022, os fatos conspiram para que o partido, pela primeira vez nas duas últimas décadas, não esteja na cabeça de chapa do pleito vindouro e nem deva apresentar nome próprio para a vaga de senador que atualmente lhe pertence, ocupada por Nilda Gondim, a mãe de Veneziano, que ascendeu à titularidade com a morte de José Maranhão por complicações da Covid-19. Até aqui, o compromisso firmado pelo senador Veneziano é de apoio à pré-candidatura do governador João Azevêdo (Cidadania) à reeleição, apesar de integrantes do MDB terem defendido abertamente o nome do parlamentar.
A expectativa do MDB é a de vir a ser contemplado na chapa, com um representante no posto de vice-governador, sendo mencionada, de forma recorrente, a secretária de Estado Ana Cláudia Vital do Rêgo, mulher de Veneziano, que em 2020 concorreu à prefeitura municipal de Campina Grande pelo Podemos, ficando em segundo lugar. Há poucos dias, a senadora Nilda Gondim manifestou a opinião de que a inclusão de Ana Cláudia na chapa de Azevêdo selaria o pacto de apoio do partido ao projeto de reeleição do chefe do Executivo. Tem-se falado, também, na hipótese de inclusão do ex-governador Roberto Paulino como suplente de senador, defendendo as cores emedebistas. Veneziano, em entrevistas e conversas informais, assume posição de apoio à candidatura do deputado federal Efraim Morais, do Democratas, ao Senado, mas também tem revelado que aguarda definições da legislação eleitoral para reger o prélio do próximo ano a fim de avaliar a fotografia real da conjuntura que vai se desenhar.
Um dos pontos polêmicos sobre a legislação eleitoral para 2022 envolve a discussão, travada em Brasília, sobre o retorno, ou não, das coligações partidárias. É um tema que divide opiniões mesmo entre aliados políticos: o senador Veneziano, por exemplo, é peremptoriamente contra a ressurreição dessas alianças, qualificando-as como retrocesso, enquanto o deputado federal Efraim Filho declarou-se favorável. A Proposta de Emenda Constitucional versando sobre o assunto foi aprovada na Câmara dos Deputados, mas, de pronto, formou-se uma reação em cadeia no Senado para eliminar de vez o dispositivo. Os políticos, em Brasília, correm contra o relógio para aprovar mudanças na Lei Eleitoral a tempo de alcançar o prazo de um ano para a realização das eleições, o que vai se vencer no começo de outubro. A urgência impulsiona tratativas para a busca de consenso mínimo, sobretudo quanto aos temas controversos que contrariam interesses de vários partidos políticos.
No que diz respeito a candidaturas próprias ao governo do Estado nas duas últimas décadas, o MDB, ainda quando se denominava PMDB, marcou presença em 2002, com Roberto Paulino e em 2006 com José Maranhão – sendo que ambos perderam para Cássio Cunha Lima, que se candidatou pelo PSDB. Cássio não pôde levar até o fim o segundo mandato, interrompido em fevereiro de 2009 com a cassação do seu mandato e do então vice, José Lacerda Neto (DEM), em rumoroso processo que tramitou pelas esferas judiciais da Paraíba e de Brasília, envolvendo denúncias de abuso de poder e favorecimento eleitoreiro. O TSE convocou, então, o segundo colocado, José Maranhão, para investir-se no restante do mandato, juntamente com o ex-candidato a vice, Luciano Cartaxo, que então era filiado ao Partido dos Trabalhadores. Em 2010, quando buscou a reeleição tendo como vice Rodrigo Soares, indicado pelo PT, Maranhão foi batido nas urnas por Ricardo Coutinho (PSB), que chegava ao cenário lastreado por duas vitórias à prefeitura municipal de João Pessoa.
Por essa época, o velho PMDB já apresentava sinais de debilidade política-eleitoral na conjuntura paraibana, em virtude da sua longevidade em cena e da emergência de quadros mais competitivos, como o ex-governador Ricardo Coutinho. Em outra ponta, o ex-governador Cássio Cunha Lima testava o limite dos seus espaços no quadro local, alternando-se entre disputas ao Senado e ao governo do Estado. Em 2014, Maranhão conseguiu abocanhar a única vaga de senador que estava em jogo, derrotando nomes como o de Lucélio Cartaxo (PV). O PMDB lançou ao governo Vital do Rêgo, que estava no exercício do mandato de senador, enquanto Cássio concorreu pelo PSDB. Os ventos sopravam, entretanto, a favor da recondução de Ricardo Coutinho à chefia do Executivo estadual, e foi o que se verificou, com a presença da doutora Lígia Feliciano na chapa como candidata a vice-governadora.
Em 2018, José Maranhão encerrou o ciclo de candidaturas ao governo do Estado, enfrentando novamente a parada pelo Palácio da Redenção, desta feita contra João Azevêdo, que disputou pelo PSB e teve o reforço decidido do então governador Ricardo Coutinho, logrando vitoriar já no primeiro turno. Aquela disputa foi uma espécie de “canto do cisne” para José Maranhão, que ainda estava aboletado no mandato senatorial. Com todo o enfraquecimento do MDB, Maranhão protagonizou em 2020 um lance espetacular dentro do território político de João Pessoa, a Capital do Estado, tirando do bolso do colete a candidatura do comunicador Nilvan Ferreira a prefeito. O partido bateu na trave, passando para o segundo turno, que se deu contra Cícero Lucena (PP), o eleito. Maranhão faleceu pouco depois e Nilvan migrou para o PTB, cujo diretório regional preside. O MDB, enquanto isso, passou ao comando do senador Veneziano Vital do Rêgo, que também é vice-presidente do Senado Federal e que ainda não perdeu a esperança de vir a ocupar, quando tiver que ser, e se tiver que ser, a cadeira do Palácio da Redenção. Até lá, o partido se põe no papel de candidato a fiel da balança do processo político-eleitoral paraibano.