Na segunda-feira, véspera do Sete de Setembro, data da Proclamação da Independência do Brasil, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um pronunciamento com duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro, ao seu governo e aos atos “golpistas” convocados pelo mandatário. “Ao invés de Bolsonaro anunciar soluções para o Brasil, o que ele faz neste dia é chamar as pessoas para a confrontação, é convocar atos contra os poderes da República, contra a democracia que ele nunca respeitou”, salientou o ex-presidente.
Segundo Lula, “ao invés de somar, (Bolsonaro) estimula a divisão, o ódio e a violência. E não é isso o que o Brasil espera de um presidente”. O ex-mandatário destacou ainda que o país vive uma “destruição”, com alta no desemprego e retorno da fome. “O Brasil andou para trás”, declarou. No entanto, Lula buscou deixar uma mensagem de esperança. “A fome, a pobreza, o desemprego e a desigualdade não são mandatários divinos. Vamos continuar lutando para superar esse momento”, frisou, emendando: “Apesar de tudo, o Brasil tem jeito. É possível, sim, criar emprego novamente e o salário ganhar a corrida contra a inflação, é possível ter comida saudável a preço justo. Porque nosso povo tem total capacidade de recuperar esse país”.
Uma pesquisa de opinião realizada pelo instituto Atlas Intelligence revelou que 30% dos policiais militares brasileiros pretendem comparecer aos atos golpistas convocados pelo presidente Jair Bolsonaro para o dia de hoje. Os dados mostraram ainda que 34% são favoráveis à instalação de uma ditadura no Brasil. No universo de 3.416 PMs ouvidos por todo o país, 44% disseram que não têm a intenção de comparecer às manifestações de caráter autoritário convocadas pelo presidente, 15% disseram ainda que provavelmente não irão, enquanto 5% afirmaram que talvez, número quase igual aos 6% que não souberam responder.
Como a participação de militares em atos políticos é vetada no país pela lei, 40% dos entrevistados afirmaram estar em desacordo com essa norma e gostariam que os fardados pudessem frequentar livremente eventos do tipo. Entre os policiais civis, a adesão ao bolsonarismo é bem menor. Apenas 17% afirmaram que pretendem participar dos atos golpistas e 70% acreditam que a convocação feita pelo presidente para essas manifestações “não é justificada”, enquanto só 29% dos PMs pensam do mesmo jeito. Também foi de 70% a proporção dos policiais civis que afirmaram que “com certeza” não comparecerão à convocatória do presidente. O professor de filosofia da Unicamp Marcos Nobre, presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, o Cebrap, não acredita que haverá um golpe neste 7 de Setembro. Mas a mobilização bolsonarista no feriado é, segundo ele, preparação para uma ruptura.
– O que Bolsonaro planeja é uma invasão do Capitólio organizada – disse Nobre, em referência à multidão que ocupou o Congresso dos Estados Unidos em seis de janeiro deste ano sob o estímulo de Donald Trump, presidente do país àquela altura. O autor do livro “Ponto Final: a Guerra de Bolsonaro contra a Democracia” insiste que o campo democrático no país precisa entrar com urgência em um acordo, considerando que o objetivo de Bolsonaro sempre foi dar um golpe. Portanto, avaliações de cenário que sejam unicamente eleitorais são insuficientes neste momento. De acordo com ele, o debate sobre o projeto autoritário de bolsonaro precisa subir alguns degraus, tornando-se mais complexo. “A desarticulação da sociedade é tão grande que a impotência vira virtude. Como se a situação pudesse ser resolvida sozinha, como se a inércia fosse a melhor posição. Não temos um final feliz garantido”, disse Nobre à Folha de S. Paulo.