Nonato Guedes
Ex-governador do Estado, eleito por duas vezes, ex-senador e ex-deputado federal, além de prefeito de Campina Grande em três mandatos, o tucano Cássio Cunha Lima é encarado como um líder imprescindível no processo de articulação da oposição ao governador João Azevêdo para prepará-la de forma competitiva para as eleições de 2022, cuja contagem regressiva começará, para valer, em outubro, quando algumas regras deverão estar definidas pelo Congresso Nacional. A derrota surpreendente que Cássio alcançou em 2018 quando tentava renovar o mandato senatorial não apagou seus espaços de influência, embora tenha sido a segunda consecutiva, já que em 2014 perdeu na tentativa de voltar ao governo do Estado pela terceira vez.
O impacto dos revezes foi mais forte para o próprio Cássio do que para os meios políticos locais ou para parcelas expressivas do eleitorado, que lá atrás estiveram mobilizadas em torno do fenômeno político que ele encarnou. O respeito à liderança de Cunha Lima subsiste mesmo entre adversários que chegaram a comemorar suas derrotas no cenário político paraibano. Hoje, Cássio atua como consultor sobre assuntos legislativos, o que indica que não perdeu vínculos com a atividade política. Em outra frente, acompanha com nítido interesse o desenrolar dos acontecimentos no seu Estado e na seara do seu partido, o PSDB, presidido pelo filho Pedro Cunha Lima. Ele participou, por exemplo, do ato de pré-lançamento da candidatura do ex-prefeito Romero Rodrigues (PSD) à sucessão governamental no próximo ano, que implicou, como se sabe, na desistência do deputado Pedro Cunha Lima em levar adiante idêntica pretensão.
A verdade é que o PSDB da Paraíba sofre os efeitos do processo de indefinição que toma conta do partido a nível nacional. A agremiação marcou para novembro prévias com vistas a indicar um candidato próprio ao Palácio do Planalto em 2022, as quais deverão estar polarizadas por dois governadores de Estados importantes – João Doria, de São Paulo, também chamado de “pai da vacina”, e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, que se apresenta como símbolo de renovação de práticas políticas e administrativas. Mas o PSDB nacional convive com uma ala pró-Bolsonaro, que está “fechada”, por assim dizer, com a candidatura do mandatário à reeleição, por entendê-la competitiva e única, nas atuais condições, para dar combate ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se organiza pela esquerda, atraindo apoios de partidos de centro e até partidos conservadores. As prévias tucanas, ao invés de consolidarem um ambiente de unidade, essencial para o fortalecimento da legenda, poderão descambar em “racha” de consequências demolidoras sobre o futuro do PSDB.
Na conjuntura política paraibana, o espaço de oposição ao governador João Azevêdo é reivindicado pelo PSDB e pelo PSD, que apostam na candidatura de Romero e tentam conquistar o PV, liderado pelo ex-prefeito Luciano Cartaxo, e pelos partidos de esquerda, como PT, PSB e PSOL, que tentam viabilizar uma chapa majoritária própria e forte para as eleições, quer ao governo, quer ao Senado, embora não tenham avançado nem de longe nas tratativas ou perspectivas de entendimento. O pré-candidato Romero Rodrigues ainda tem a ilusão de atrair “bolsonaristas-raiz” para o leito de sua candidatura, mas ele mesmo perdeu confiança em tais segmentos por ter adotado, em momentos cruciais da história recente, posições moderadas, sem alinhamento incondicional com o presidente da República, de quem se dizia amigo desde os tempos em que atuaram juntos na Câmara dos Deputados. As divisões acentuadas na oposição ligada a Bolsonaro só enfraquecem a posição de Romero como principal nome do grupo para 2022 e dificultam até mesmo seus passos de mobilidade pré-eleitoreira.
O governador João Azevêdo (Cidadania) é reconhecido como um adversário forte, competitivo, até mesmo favorito na corrida pelo Palácio da Redenção, por deter o controle da máquina administrativa estadual e por vir aniquilando resistências em alguns partidos. Ele trava, particularmente, uma queda-de-braço com partidos de esquerda para ser admitido no arco de apoiadores da candidatura do líder petista Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República, dentro da estratégia de que isso traria reflexo colateral benéfico para suas próprias pretensões de reeleição. Os entendimentos com Lula deverão ser aprofundados em João Pessoa, conforme combinado entre ele e João Azevêdo, e a tendência é que seja costurada a fórmula da multiplicidade de palanques, como tática para não dispersar votos que se anunciam para o fundador do Partido dos Trabalhadores.
A respeito do papel de Cássio Cunha Lima pela oposição local nas eleições do próximo ano afirma-se, em diferentes áreas, que ele não precisará, necessariamente, colocar-se como alternativa ao Senado ou, numa hipótese improvável a dados de hoje, como opção para voltar ao governo. Teria a possibilidade de disputar, mesmo, um mandato de deputado federal, que foi o primeiro que exerceu quando ingressou na vida pública, destacando-se como jovem constituinte que impressionou condestáveis da República como os saudosos Ulysses Guimarães, Mário Covas e José Richa. Mas a relevância maior que se atribui a Cássio no contexto das definições para 2022 é no campo estratégico, ou seja, na formulação de estratégias que corrijam erros do passado e que permitam à oposição paraibana entrar em campo com chances, não apenas para marcar presença no jogo. As definições nesse sentido deverão ser aceleradas. Afinal, foi por causa da demora em se entender, afora outros fatores, que a oposição perdeu espaço em 2018, sacrificando-se a própria recondução de Cássio à cadeira senatorial.