Nonato Guedes
O deputado federal Julian Lemos, presidente do diretório estadual do Partido Social Liberal (PSL), na Paraíba, admitiu em entrevistas nas últimas horas que estão avançadas as negociações para formalizar a fusão entre a sigla e o Democratas (DEM), que, em nível local, é presidido pelo ex-senador Efraim Morais, secretário de Estado do governo João Azevêdo. Pelo prognóstico do parlamentar, o novo partido que resultará da junção e cujo nome não é conhecido tem condições de vir a ser o maior com representação na Câmara dos Deputados, e deverá passar a ser presidido por Luciano Bivar (PE), que atualmente comanda o PSL. Já o DEM é presidido nacionalmente por ACM Neto, ex-prefeito de Salvador e provável candidato a governador da Bahia nas eleições do próximo ano.
Julian Lemos tem aprofundado contatos, nesse sentido, na Paraíba, com o deputado federal Efraim Filho, que é pré-candidato ao Senado no pleito vindouro, mas, até onde se sabe, está sendo feito um mapeamento preliminar que servirá de subsídio para mensurar a força real ou capilaridade da nova agremiação. O mapeamento também engloba a análise de situações locais, a hipótese de conflitos e a perspectiva de pequenas defecções de insatisfeitos com a unidade dos dois partidos. O projeto de fusão leva em conta a previsão de reconfiguração do quadro político-partidário nacional, em cima de mudanças que estão sendo decididas pelo Congresso Nacional a respeito de regras que vão balizar as eleições de outubro de 2022. Julian falou de afinidades políticas-ideológicas entre os dois partidos, o que, a seu ver, pode ser um elemento-chave para agregar posições em torno de planos eleitorais.
ACM Neto, ainda recentemente, indagado a respeito das tratativas, explicou: “Existe uma conversa em curso do Democratas com o PSL sobre a hipótese de fusão entre os dois partidos. A ideia que está sendo discutida é a criação de um novo partido, como maior partido do Brasil, mas ainda existem questões que são complementares do ponto de vista nacional. O objetivo desse novo partido, inclusive, seria do candidato a presidente da República já ser, nas eleições do próximo ano, oriundo dele, mas um processo de fusão não é um processo simples e é precipitado antecipar diretrizes ou definições”. Para ACM Neto é necessário que sejam criadas alianças políticas de resultados, não meramente decorativas. Por isso é que os entendimentos estão sendo aprofundados, como parte da tática de ajustar ponteiros e afinidades e não deixar dúvidas sobre o significado da parceria.
O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, opinou que a ideia de fusão está se fortalecendo e encaminha-se, agora, para discussão no âmbito das Executivas Nacionais. O PSL tem atualmente 53 parlamentares na Câmara e divide o posto de maior bancada com o PT. Se a união com o DEM, que possui 28 deputados federais, se concretizar, o novo partido assumirá a posição de legenda com maior número de cadeiras na Casa. A nova sigla também passará a ter mais recursos financeiros e tempo de televisão para as eleições de 2022, havendo, inclusive, a possibilidade de lançar candidatura própria ao Palácio do Planalto. PSL e Democratas, sintomaticamente, assinaram nos últimos dias uma nota de repúdio a manifestações antidemocráticas e pediram “um basta” nas tensões, ódios, conflitos e desentendimentos que colocariam em xeque o Estado de Direito. A manifestação foi entendida como repúdio a atos condenáveis assumidos pelo presidente Jair Bolsonaro.
A perspectiva de fusão entre PSL e DEM, na análise mais otimista, ganha força diante da indefinição de líderes políticos de expressão nacional, que estão insatisfeitos nos atuais partidos a que são filiados e querem migrar para uma sigla alternativa. É o caso do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que já foi candidato a presidente da República e que está de saída do PSDB. Ele recebeu uma ligação do presidente nacional do DEM, ACM Neto, pedindo que espere o resultado da possível fusão do partido com o PSL antes de decidir sua futura filiação. Alckmin trabalha para ser candidato novamente ao Palácio dos Bandeirantes no ano que vem e vinha negociando seu ingresso no PSD de Gilberto Kassab. O PSL foi o partido pelo qual Jair Bolsonaro concorreu à presidência da República e saiu vitorioso em 2018.
Na sua trajetória, o partido presidido na Paraíba por Julian Lemos deixou de ser nanico em termos nacionais e alcançou a segunda maior bancada na Câmara em 2018 (52 deputados federais) na esteira da eleição de Bolsonaro. Luciano Bivar, depois, rompeu com o chefe do Executivo, o que aconteceu também com figuras como o deputado Julian Lemos, que vota favoravelmente a inúmeras pautas do governo Bolsonaro mas considera-se desalinhado da liderança do presidente da República, até por incompatibilidades pessoais com filhos dele. Uma avaliação reservada de integrantes do DEM e do PSL é de que a união beneficiaria a ambos – o PSL tem dinheiro e tempo de TV mas não conta com quadros fortes para eleger uma bancada do mesmo tamanho no ano que vem, enquanto o DEM tem puxadores de votos e uma estrutura forte nos Estados, mas poucos recursos em caixa. Se acontecesse, seria um casamento de conveniências, mas com duração garantida pelo menos nas eleições de 2022, que ainda desafiam opiniões de analistas políticos e dirigentes partidários.