Nonato Guedes
Alçado à presidência estadual do PSB em meio ao desgaste enfrentado pelo ex-governador Ricardo Coutinho no bojo de acusações que eclodiram na Operação Calvário, versando sobre desvios de recursos da Saúde e da Educação no governo do Estado, o deputado federal Gervásio Maia está diante de um sério impasse com a perspectiva de esvaziamento das fileiras socialistas paraibanas, no rastro da debandada já anunciada por Ricardo e que deverá ser seguida por deputados estaduais como Jeová Campos, Estela Bezerra e Cida Ramos. Um outro grupo parlamentar, ligado ao governador João Azevêdo e integrado por deputados como Hervázio Bezerra e Adriano Galdino, este presidente da Assembleia Legislativa, aguarda a vigência da chamada “janela partidária” para migrar rumo a outras legendas sem o risco de represálias ou objeções de qualquer ordem. Não há sinais de reposição de quadros a curto prazo, dado o próprio desinteresse de políticos paraibanos quanto aos “encantos” do PSB.
O ex-governador Ricardo Coutinho e seus liderados, remanescentes do famoso “esquema dos girassóis” na política paraibana, estarão se filiando aos quadros do Partido dos Trabalhadores, do qual RC saiu há quase 20 anos para se filiar ao PSB e conseguir a indicação como candidato a prefeito de João Pessoa. Os aliados de Ricardo também estão na dependência da “janela partidária” e previamente ingressarão no Partido dos Trabalhadores de forma simbólica, possivelmente na segunda quinzena deste mês. A volta de Coutinho ao PT divide petistas locais e poderá produzir defecções no seu interior, mas têm o supremo aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é pré-candidato à presidência da República em 2022. Lula movimenta-se para formar palanques múltiplos na Paraíba em apoio à sua candidatura, atraindo, por exemplo, o governador João Azevêdo, rompido com Coutinho. Mas deixa clara a sua imorredoura gratidão a Ricardo, pelo apoio que dele recebeu quando esteve preso na Polícia Federal em Curitiba, bem como pelo apoio do então governador paraibano à presidente Dilma Rousseff no processo de impeachment que a defenestrou há cinco anos.
Se é pacífica a refiliação de Ricardo Coutinho aos quadros do Partido dos Trabalhadores, não é segura a hipótese de uma candidatura do ex-governador à vaga de senador que estará em jogo nas eleições de outubro de 2022. O problema é que, no ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral tomou decisão desfavorável a Ricardo, tornando-o inelegível para a disputa vindoura – embora em 2020 ele tivesse deferido o seu registro como candidato a prefeito de João Pessoa, não logrando passar para o segundo turno, apesar do apoio declarado em vídeo pelo ex-presidente Lula, que, inclusive, ignorou a candidatura própria do PT à gestão municipal, representada pelo deputado Anísio Maia, que teve votação humilhante. Advogados de Ricardo estão mobilizados para obter junto ao TSE efeito suspensivo da inelegibilidade dele, facultando-lhe o direito de concorrer em 2022, mas a questão é controversa e ainda demandará recursos até o esgotamento da pauta.
Em todo caso, essas questões do Partido dos Trabalhadores não interessam, obviamente, ao Partido Socialista, que tem um desafio diferente: o de tentar reconstruir-se como força política no cenário de poder do Estado. Indiscutivelmente, sob a batuta de Ricardo Coutinho, o partido foi influente em eleições, tanto ao governo, como à prefeitura de João Pessoa, passando pelo Senado, por representante na Câmara Federal e por bancada expressiva na Assembleia Legislativa. O espólio herdado por Gervásio Maia não é nada interessante – sob essa gestão, o PSB está tendo que recomeçar praticamente do zero, tendo que empreender esforço inaudito para voltar a ser referência na realidade tupiniquim. Mesmo apoiando Lula a presidente, por recomendação da cúpula nacional socialista, o PSB daqui terá a sombra de Ricardo, a esta altura já acolhido como filho pródigo no PT.
Em relação ao próprio governo do Estado, mesmo que o PSB recomende o apoio à candidatura do governador João Azevêdo à reeleição, o cenário não será como antigamente. Azevêdo está aboletado no Cidadania, presidido por Roberto Freire, e costura alianças com forças de centro-esquerda e de centro-direita para fortalecer o próprio projeto de ser reconduzido ao Palácio da Redenção. O ponto em comum que Azevêdo pode ter com o PT paraibano é o apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, mas é nula a possibilidade de que ele venha a dividir o metro quadrado de um mesmo palanque com o antecessor Ricardo Coutinho. Estas discussões serão aprofundadas por ocasião da visita de Lula ao Estado, que ainda está por ser marcada oficialmente. O ex-presidente teve uma conversa preliminar com Azevêdo em Natal, durante reunião do Consórcio Nordeste, mas foi uma conversa rápida demais e, logo, insuficiente para aprofundar informações e posições.
O deputado federal Gervásio Maia, como consequência da situação desconfortável que experimenta nas hostes do PSB, tem sido reticente em declarações a respeito dos rumos que o partido deverá tomar nas eleições do próximo ano na Paraíba. Ele próprio tenta se situar melhor na conjuntura, como forma de respaldar o projeto de reeleição à Câmara dos Deputados e analisa com lupa os reflexos de mudanças no Código Eleitoral que estão se processando no âmbito do Congresso. Gervásio tem, portanto, um futuro incerto, muito incerto. Quanto a Ricardo, independente de vir a ser candidato e se eleger a cargos, segue pelejando na sua trilha personalista – a esta altura apostando apenas no fator “sorte”, se é que sua estrela ainda tenha algum brilho depois do insucesso nas eleições que, em outros tempos, o consagraram à prefeitura da Capital paraibana.