Depois de dizer em entrevista que estudantes com deficiência “atrapalham” outros alunos e afirmar publicamente que “é impossível a convivência” com crianças com algum grau de deficiência, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, pediu desculpas a “todos que se sentiram ofendidos”, ontem, durante audiência pública na Comissão de Educação do Senado Federal. Apesar de elogiarem a postura, senadores afirmaram que as desculpas devem ser acompanhadas por ações. O ministro compareceu à Comissão atendendo a requerimento do vice-presidente do Senado Federal, senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) para explicar essas e outras declarações sobre a inclusão de estudantes com deficiência nas escolas. Ribeiro disse que não teve a intenção de “magoar” e que suas colocações “não foram as mais adequadas”.
– Minhas palavras não foram adequadas. Não representam meu pensamento. Quero reiterar meu sincero pedido de desculpas a todos que de alguma forma se sentiram ofendidos. O ministro da Educação não é essa pessoa que foi pintada (…) Esse foi meu grande erro – comentou Milton Ribeiro. Em entrevista no mês passado, o titular do MEC afirmou que cerca de 12% das crianças com deficiência não teriam condições de estudar junto com outros alunos sem deficiência. Autor do requerimento para ouvir o ministro, Veneziano observou que as afirmações “causaram estranheza e consternação geral”, mas elogiou a atitude de Ribeiro em reconhecer que errou e pediu que o ministro siga reafirmando a defesa da inclusão. “É muito bom estar diante de uma pessoa que sabe pedir desculpas. Reconhecer o erro (…) Não quero imaginar que esses 12% não possam ter o direito de conviver com outros”.
Veneziano Vital do Rêgo também alertou para o crescimento no número de autistas no mundo nos últimos anos e sobre perspectivas da Ciência para um futuro próximo. Ele lembrou que, no final da década de 80, uma a cada 500 crianças era diagnosticada com autismo. “Segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, divulgados em março de 2020 (relativos a 2016), a incidência do autismo passou a atingir uma em cada 54 crianças”, acrescentou o parlamentar, citando que esta realidade levou a Organização das Nações Unidas a classificar o autismo como questão de saúde pública mundial. Ao comentar os dados, já alarmantes, o senador emedebista citou a pesquisadora americana Stephanie Senneff, cientista sênior de pesquisa do Instituto de Tecnologia de Massachussetts, o MIT, bióloga PhD que já publicou mais de 170 artigos acadêmicos revisados por seus pares e que estuda o autismo por mais de 30 anos. “Segundo a Professora Stephanie, até 2030, uma em cada duas crianças será autista. Por isso temos que estar preparados para este futuro”, alertou Veneziano.