Nonato Guedes
A possibilidade de lançamento da candidatura da vice-governadora Lígia Feliciano (PDT) ao governo da Paraíba tem sido admitida por dirigentes nacionais do partido como parte da estratégia de reforçar palanques, nos Estados, para a candidatura à presidência da República do ex-ministro Ciro Gomes, que está obstinado em tentar quebrar a polarização ensaiada entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no páreo do próximo ano. O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, em declarações a jornalistas paraibanos, admitiu que há conversas com outros partidos sobre a provável “opção Lígia”. Não entrou em detalhes, mas deu a entender que há receptividade e espaço para composições.
A doutora Lígia Feliciano é uma opção que também se oferece às oposições paraibanas, já que ela tem trânsito em alguns desses segmentos. Embora tenha sido reeleita à vice em 2018 como companheira do governador João Azevêdo, ela e o marido, o deputado federal Damião Feliciano, sempre se colocaram numa perspectiva autonomista no cenário político do Estado. Um exemplo claro ficou patente nas eleições municipais de 2020 à prefeitura de João Pessoa, quando a doutora Mariana Feliciano, filha do casal de políticos, figurou como candidata a vice-prefeita na chapa encabeçada pela professora Edilma Freire (PV), que tinha o beneplácito do então prefeito Luciano Cartaxo. A chapa Edilma-Mariana não logrou, sequer, passar para o segundo turno. Mas o PDT marcou posição de independência em relação ao governador, que, como se sabe, empenhou-se pela eleição de Cícero Lucena, do PP, vitorioso no segundo turno em confronto com Nilvan Ferreira, então do MDB, hoje PTB.
Sobre a campanha de Ciro Gomes ao Planalto, mais uma vez, o que se sabe é que as articulações estão a todo vapor, estimuladas por pesquisas de opinião pública que o apontaram em terceiro lugar nas intenções de voto para 2022, atrás de Jair Bolsonaro e de Lula da Silva. Numa recente reunião da executiva nacional pedetista, Carlos Lupi assegurou que estão sendo construídos “palanques muito fortes” pelo Brasil e acrescentou que a ideia do PDT é lançar a maior quantidade de candidatos nos Estados para cimentar uma plataforma que possibilite a Ciro concorrer de forma competitiva no próximo ano. Lupi declarou à revista “Veja” que pelo menos nove palanques já estariam articulados e que outros cinco estariam em fase de negociação.
No Rio de Janeiro, o PDT deve concorrer ao governo com Rodrigo Neves, que é ex-prefeito de Niterói. No Maranhão, o escolhido foi o senador Weverton Rocha. No Rio Grande do Norte, quem deverá disputar é o ex-prefeito de Natal, Carlos Eduardo. No Rio Grande do Sul, o candidato da legenda deverá ser Romildo Bolzan, atual presidente do Grêmio e no Ceará o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, será o cabeça de chapa do PDT na disputa pelo governo. Em Sergipe, o escolhido deverá ser o atual prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, e na Paraíba a vice-governadora Lígia Feliciano entra no radar como pré-candidata. Lupi convidou senadores da Rede no Amazonas e Espírito Santo para se juntarem aos quadros do PDT ou, mesmo permanecendo nas suas legendas, assumirem compromisso com a candidatura de Ciro Gomes.
Em tese, portanto, é a sucessão presidencial o “chamariz” para a movimentação do PDT com vistas a revigorar-se política e eleitoralmente no país, ampliando espaços de poder nos Estados, o que recomenda lançamento de candidaturas aos governos, lastreadas em alianças com diferentes legendas, respeitando-se as peculiaridades de cada região. No caso da Paraíba, os fatos demonstram que houve um distanciamento do PDT em relação ao governo João Azevêdo, embora a vice-governadora Lígia Feliciano evite assumir postura dissidente ou atitude crítica quanto ao titular da administração estadual. O que se pode dizer, em retrospecto, é que já foram melhores as relações entre o governador e sua companheira de chapa da campanha de 2018. Na época, Azevêdo concorreu pelo PSB e aceitou manter o nome da doutora Lígia, que era remanescente da campanha de Ricardo Coutinho em 2014. O pleito municipal sinalizou para o fim da parceria dos Feliciano com João Azevêdo e a vice-governadora é respeitada nas atribuições inerentes ao cargo que exerce.
Já chegou a ser cogitada a hipótese de uma chapa majoritária no campo da oposição em 2022 formada por Lígia ao governo e pelo ex-prefeito Luciano Cartaxo ao Senado. Uma dificuldade nesse sentido é que Cartaxo parece inclinado a aparecer no palanque do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, engrossando a frente anti-bolsonarista na Paraíba. Os contatos entre Luciano e dirigentes locais e nacionais do Partido dos Trabalhadores têm se amiudado e deverão ganhar impulso por ocasião da visita do ex-presidente Lula à Paraíba, que, em princípio, fora anunciada ainda para setembro, mas que, ultimamente, ficou pendente. As articulações de bastidores que estão sendo ensaiadas parecem indicar que a oposição ao atual governador João Azevêdo deverá ser dividida entre bolsonaristas, comprometidos com a candidatura do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), ao governo, e siglas de esquerda e centro-esquerda que podem apostar fichas no nome de Lígia como alternativa ao Palácio da Redenção. Analistas políticos experientes acreditam que o cenário pré-eleitoral na Paraíba está em aberto, passível de sofrer reviravoltas que ainda não estão configuradas com maior exatidão. A conferir!